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Björk Volta

2007
One Little Indian / Universal


A palavra “curioso†parece quase um eufemismo quando utilizada para descrever o percurso musical da islandesa Björk. Para muitos a voz característica de Björk ter-se-á tornado em algo redundante, mas ninguém pode acusar a islandesa de não procurar – ou pelo menos tentar - reinventar-se de disco para disco, especialmente no que toca aos seus dois últimos discos. Volta é mais um argumento para defender esta ideia. Depois do semi-fiasco que foi Medulla, Björk voltou a escolher a dedo as personagens a incorporar no seu disco com outras expectativas – terá a islandesa sentido mesmo na pele a desilusão geral que foi Medulla?

O resultado da busca criteriosa para este novo disco é um elenco de colaborações que saltaram dos mais diversos territórios musicais – os melhores executantes em alguns casos. Senão vejamos: Volta conta com as batidas famosas de Timbaland, com o dramatismo de Antony (assim como alguns músicos dos Johnsons, a sua banda), os ritmos impossíveis dos congoleses Konono No. 1, Chris Corsano, entre outros. “Earth Intrudersâ€, com a ajuda de Timbalanb e dos Konono No. 1, é um excelente single alimentado por batidas complexas e pequenos detalhes mais ou menos electrónicos de enriquecimento. A voz de Björk é a de sempre: não procurem aí o factor de diferenciação. “Earth Intruders†termina com o som de navios imaginários em alto mar.

Procurem antes em temas como “Wanderlust†a multiplicação de sopros e a doçura habitual da voz de Björk a entrar em terrenos entre o dançável e o eufórico – uma verdadeira maravilha; em “The Dull Flame of Desire†a união perfeita entre duas vozes fortes, ou a islandesa em dupla entusiasmante com Antony numa canção marcada ao de leve por percussão de Brian Chippendale dos Lightning Bolt, fortemente emotiva. Vasculhem em “Innocence†o que a produção de Timbaland é capaz de fazer com a voz de Björk ao adicionar-lhe sons desenterrados de locais estranhos. Os quatro primeiros temas quase bastavam para fazer de Volta um grande disco.

Mas há mais: há a pequena caixa de música que é “I see who you are†com interferências orientais; há a delicodoce “Pneumonia†e uma chuva de instrumentos de sopro (elementos fundamentais em Volta); há “Hopeâ€, movida pela kora de Toumani Diabeté. Há até mais um dueto com Antony na enternecedora “My Juvenileâ€, responsável pelo fecho de um disco onde Björk volta a brilhar. A islandesa continua a ser capaz de fazer álbuns profundamente emotivos e com vontade de empurrar a sua música para um patamar superior. Algo a que Björk já nos tinha habituado com alguns lançamentos anteriores.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
29/08/2007