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Belleruche Turntable Soul Music

2007
Tru Thoughts


Quando algumas fórmulas se repetem em loop numa tentativa desesperada para colocar em primeiro plano ideias que só por si têm alguma dificuldade em sustentarem-se pelo próprio pé e a tudo juntam uma voz em pura revelação, existe na génese uma deficiência reveladora de pobreza de concepção que nem faz brilhar uma voz esforçada nem procura a eloquência de um groove perfeito. E fazer com que tudo soe a velho poderá também não ser a melhor forma de convencer quem, à primeira, desconfia dos propósitos da operação Belleruche comandada pelo guitarrista Ricky Fabulous e pelo modesto DJ Modest.

Seja pela ideia quase básica de um turntablism inspirado pelo jazz, pelo funk ou pelos blues, as especulações entorpecidas em torno de um trip-hop esquecido ou a invocação da recente memória de um Mr Scruff em dias dourados, a retórica de Turntable Soul Music não passa de mais um argumento inválido que envoca a memória do cânon soul e blues resguardado pelo hip-hop. Por outras palavras, aqui não há nada que uns Break Reform já não tenham tentado, por mais que uma vez, impingir – com um pouco mais de sabedoria – aos mais impetuosos consumidores de soul com traços europeus. Muito menos existe uma vontade de quebrar paradigmas instalados – no mínimo à 10 anos – pelo catálogo da Ninja Tune.

Em Turntable Soul Music os ritmos circulam instintivamente em loop, os samplers jazz rebuscados ajustam-se cautelosamente a uma voz que talvez seja a única mais valia que por aqui se ouve. Kathrin deBoer, inspirada por algumas das divas intemporais como Nina Simone, Billie Holiday, Sarah Vaughan ou até mesmo Eryka Badu, ensaia – ou pelo menos tenta – varias visões sobre a matéria por elas deixadas como legado e recontextualiza – uma vez mais – num tom melancólico todo mundo urbano refém da sua própria arrogância claustrofóbica ou cinzentismo abstracto.

Para além dos raros momentos em que Kathrin salva alguns exercícios preguiçosos do colapso absoluto – “Reflection”, “Balance” e “13.6.35” são os momentos espiritualmente mais coloridos – não haverá muito mais a esperar de um disco estafado ideologicamente à nascença. Não que o género esteja longe de potenciar novas revelações, apenas há ideias que necessitam de séria estruturação e não apenas de mera aglomeração de referências moídas pelo tempo em que estiveram expostas ao mercado sôfrego. Por isso exige-se actualmente mais espírito para dar cheiro novo ao velho e não apenas naftalina para disfarçar o mofo.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
02/08/2007