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Monotekktoni Love Your Neighbour? No, thanks.

2007
Sinnbus / Flur


A convenção social e o código politicamente correcto pressiona a que o vizinho seja um estranho com o qual se deve desenvolver familiaridade, de modo a que seja viável o desenrascanço mútuo quando falta orégãos ou queijo parmesão em casa ao domingo. A dama Monotekktoni, alter-ego da berlinense Tonia Reeh, não parece minimamente preocupada em cultivar esses laços de entreajuda e faz questão de assinalar isso no título de um disco optimizado de forma pessoal que serve, ao mesmo tempo, como Manual compreensivo da rebelde e autónoma guerrilheira ao serviço da electrónica destravada.

Destravada porque coincidentemente indisposta a repetir o filão do techno berlinense ou a ocupar sedentariamente o electro europeu que passa também pela capital alemã. A idade da razão que oferece envergadura e torna combustivo o terceiro Love Your Neighbour? No, thanks. é também a do conflito esclarecido entre formas e estéticas que vivem paredes-meias sem parecerem muito talhadas para isso. As onze faixas percorridas são actas de tensas reuniões de condomínio presididas por uma Monotekktoni que tem a situação sob controle, mesmo quando as partes parecem incompatibilizadas na obtenção de acordo.

A esgrima de argumentos é a pimenta de cada um desses acordos consumados in extremis: a promiscuidade do electro mais abusado e a libido fatalista de Hanin Elias (Atari Teenage Riot) aliam-se à estridência da voz de uma hárpia amputada de um membro para uma fabulosa “Civilisation Kills Sex Magickâ€. “Excuse Me Helen – But What is With my Freedom?†encontra-se bipartido entre uma consciência política e o exótico The Knife próprio de todos os videojogos que têm macacos traquinas como protagonistas. "Alraun" assume, pelo restante disco, o flirt com as conjugações sinfónicas e invoca, sem decalcar, os momentos da Ellen Allien mais balanceada para projectar cenários em que o seu sobrenome está prestes a dominar o mundo. Love Your Neighbour? No, thanks. é exuberante e confrontacional até mesmo na hora de colocar a nu os receios e paranóias modernas (o HIV em “Civilisation Kills Sex Magick†e o terrorismo em “Excuse me Helen – But What is With my Freedom?â€).

A todos os que tinham alimentado expectativas por influência das três faixas incluída no segundo volume da compilação exclusivamente feminina 4 Women No Cry, esta nova mostra de vigor em nome de Monotekktoni serve como dose quádrupla face ao que era apenas refeição ligeira nesse lançamento da Monika Enterprise. Quem passou ao lado da compilação fique desde já certificado de que não será certamente este o calcanhar de Aquiles que fará ruir o império da electrónica berlinense.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
16/07/2007