âWhooâŠyeah!â Duas quase palavras, lado a lado. Primeiro em âIt Takes Twoâ, o clĂĄssico do final dos anos 80 de Rob Base e DJ E-Z Rock, agora em âPussyâole (Oldskool)â, de Dizzee Rascal. âIt takes two to make a thing go rightâ, era o refrĂŁo tirado de âThink (About it)â de Lyn Collins. Agora Ă© diferente. SĂŁo precisos dois para fazer com que as coisas azedem. âPussyâoleâ Ă© o nome carinhoso que Dizzee arranjou para Wiley, ex-amigo e ex-mentor. O que o amor faz, em duas perspectives diferentes, em 1988 e 2007.
Maths+English Ă© o terceiro disco de Dizzee Rascal, que começou por ser um puto de 18 anos com um flow rĂĄpido e ininteligĂvel que fazia o recorde do Guinness de Twista parecer uma tartaruga. Cedo se descobriu que havia mais malta assim em Londres, e o grime tornou-se um fenĂłmeno underground mundial. Dizzee sempre foi a sua estrela, mesmo que nĂŁo seja grime. Pronto, Ă© hip-hop. Dizzee Rascal Ă© hip-hop.
Quatro anos passados desde Boy in Da Corner, o rapaz participou no âDo They Know Itâs Christmas 20â, o tributo de natal Ă s crianças de Ăfrica de 2004, as palavras de Dizzee sĂŁo bastante mais perceptĂveis, Dizzee Ă© cada vez mais famoso (este Ă© o disco mais bem sucedido do menino em Inglaterra) e os beats de Cage, o seu produtor principal, estĂŁo cada vez melhores.
E tem vĂĄrios convidados. Os UGK, as lendas de Houston, no Texas, Bun B e Pimp C, aparecem em âWhereâs Da Gâsâ, que trata de uma das temĂĄticas mais importantes do disco: o que Ă© ser gangsta? Quem Ă© que pode ser gangsta? HĂĄ os falsos gangstas, aos quais Dr. Dre chamava âbitchniggasâ, e aos quais Dizzee parece chamar âPussyâoleâ. Essa temĂĄtica possibilita um dos melhores momentos pop de que hĂĄ memĂłria, atĂ©: Lily Allen a cantar âSo you wanna be a gangstaâ em âWanna Beâ, denunciando alguĂ©m que nĂŁo Ă© gangsta e cuja mĂŁe lhe compra jĂłias, arrumando o assunto de vez com um âYour mum buys your blingâ, algo que deve fazer mais mossa que qualquer bala. TambĂ©m hĂĄ os rapazes Arctic Monkeys em âTemptationâ e Matthew Herbert a tocar flauta e teclados em âSuk My Dickâ e âFlexâ.
Os beats de Cage (alguns com a ajuda do prĂłprio Dizzee) giram todos Ă volta do mesmo, mas nĂŁo cansam: batidas futuristas com a ajuda de sintetizadores, coisas simples que funcionam, com a sujidade que Ă© necessĂĄria e Ă s vezes o prĂłprio Dizzee a fazer beatbox. HĂĄ metal a bater em metal em âWorld Outsideâ e cordas e vassouras sintetizadas hipnĂłticas em âYou Canât Tell me Nuffinââ. âSirensâ tem as guitarras chungas necessĂĄrias para transformar isto num clĂĄssico na veia de âFix Up, Look Sharpâ, que roubava quase tudo de âBig Beatâ Billy Squier, mas Ă© uma cancĂŁo demasiado estranha e suja para isso (as curtas descargas de guitarra surgem sempre em sĂtios esquisitos, parando e arrancando enquanto Dizzee cospe as suas palavras), com uma parte final que lembra Rage Against The Machine. A letra, claro, Ă© sobre ter de se ir embora quando a policia aparece. âRun when you hear the sirens comingâ (as sirenes desta canção sĂŁo as Ășnicas que soam realmente gangsta em todo o disco, havendo outras, por exemplo, em âPussyâole (Oldskool)â e âDa Feelinââ). HĂĄ beats de outras pessoas para alem de Cage, como Shy FX em âDa Feelinââ, uma canção de verĂŁo em drumânâbass que Ă© talvez a Ășnica faixa realmente dispensĂĄvel do disco, e os Futurecuts em âWanna Beâ, que trazem um beat lĂșdico Ă canção com Lily Allen.
Maths+English Ă© um dos grandes discos de hip-hop futurista de 2007. NĂŁo interessa discutir o que Ă© grime, o que nĂŁo Ă© grime, se o grime morreu, se o grime nĂŁo morreu, se Dizzee Ă© assim tĂŁo original ou anda a fazer dinheiro Ă custa de uma cultura underground. Dizzee Rascal Ă© uma das estrelas pop mais peculiares de Inglaterra e o que este disco revela Ă© que consegue ficar bem ao lado de estrelas pop que fazem mĂșsica bem menos peculiar e ser muito bem sucedido. E se discutir quem Ă© gangsta e quem nĂŁo Ă© gangsta Ă© uma temĂĄtica pertinente e importante para ele, tambĂ©m Ă© pertinente e importante para nĂłs.