Eis-nos na presença da antÃtese perfeita do tÃpico músico brasileiro. Desde cedo ausente do seu paÃs natal (residiu na ilha da Madeira e actualmente está estabelecido em Brighton, Inglaterra) viveu rodeado de influências que nada têm a ver com samba. Felizmente.
Sob a designação de Cujo, lançou o seu primeiro trabalho (Adventures in Foam) pela pequena editora Ninebar. Desde logo deu nas vistas, ao ponto de a reputada Ninja Tune o recrutar imediatamente, corria o ano de 1997. Ao fim de três albuns, Amon Tobin era o artista que mais vendas garantia à editora inglesa. O que, mesmo ao lado de nomes como Cinematic Orchestra, DJ Food e Mr. Scruff, acaba por não ser de todo surpreendente face à singularidade da música com que Tobin nos tem brindado em albuns como Bricolage, Permutation ou o fantástico Supermodified.
Por tudo isto, era com grande expectativa que aguardava a chegada do novo trabalho.
“I wanted to make a very dense record; I wanted it to sound really gritty. I didn't feel like doing a smooth jazz affair: There's enough of that around already.â€
À primeira audição decidi parar a meio, e disse para mim próprio: “É melhor ouvir outro dia... quem sabeâ€. Com outro estado de espÃrito, percebi que “afinal, é mesmo assim.â€. Sem querer tirar conclusões precipitadas, não conseguia deixar de pensar nas saudades de um “4 Ton Mantisâ€, um “People Like Frankâ€...
Julgo que foi por volta da 5ª tentativa que consegui perceber que, mais que baralhar e dar outra vez, Amon Tobin enveredou sem hesitações por uma das multiplas vertentes que vinham caracterizando a sua música até aqui. Como sempre foi seu apanágio, os samples à volta dos quais são construÃdos os onze temas de “Out From Out Where†são de um bom gosto irrepreensÃvel, mas desta feita Tobin deixou o jazz na gaveta e deu-se a outros devaneios. Como que uma saÃda definitiva de órbita, confirmada pelas boas-vindas que são dadas por “Back From Spaceâ€, primeiro tema do album e que funciona um pouco como elo de ligação entre o passado e o futuro (fará sentido escrever “presenteâ€?). Ainda o drum n bass, mas ao mesmo tempo evidenciando uma dimensão que os trabalhos anteriores não apresentavam. É que, como o próprio nome indica, Amon Tobin parece mesmo ter ido ao espaço e voltado.
Está dado o mote, e uma vez dentro da nossa nave espacial, resta percorrer o sistema solar que nos foi apresentado. “Verbalâ€, com a voz digitalizada do MC Decimal R e beats invocando claramente o hip hop, foi o tema escolhido como single de avanço, não deixando margem para enganos: estamos perante algo de novo. Se em Permutation e Supermodified o caos era explorado de uma forma única, entrecortado por momentos de aparente acalmia que se encarregavam de concentrar toda a tensão que posteriormente desembocaria em mais uma torrente de percussões encadeadas a um ritmo alucinante, desta vez deparamo-nos com um ambiente profundo, misterioso e soturno como nunca antes, caracterÃsticas acentuadas pelo tom orquestral de “Searchers†e “El Wraithâ€.
Mas numa viagem absorvente como esta, é claro que há onde descontrair e retemperar forças para o que falta percorrer. “Hey Blondie†e “Rosies†são os momentos menos atribulados da jornada, oferecendo uma panorâmica privilegiada sobre os objectos que pairam vagarosamente à nossa volta.
“Cosmo Retro Intro Outro†e “Triple Science†encarregam-se de despertar os mais descuidados, voltando à toada mais agressiva explorada nos primeiros temas, mas a um nÃvel muito mais abstracto em que os diferentes sons se vão reproduzindo com uma frequência quase descontrolada.
A velocidade diminui. “Proper Hoodidge†encarrega-se de nos baixar a pulsação progressivamente, até à chegada a “Mighty Micro People†onde o ambiente torna-se mais ameno e etéreo, como que respondendo à necessidade de se respirar um pouco após tão movimentada experiência.
“Out From Out Where†talvez não seja o album que grande parte dos fãs de Amon Tobin esperavam. É um disco que dá luta e que surpreende mas que, uma vez descoberto, conquista o explorador. Perdão, o ouvinte.