Ora aí está um artigo que pode até padecer de informação aprofundada em relação à banda cujo nome não me atrevo a escrever entre aspas no motor de busca Google. Ainda assim, quando se decide um obscuro trio oriundo de Brooklyn – incubadora alucinante - por ser apresentado com tão repelente termo e aproveitar o mesmo para o título do seu primeiro longa-duração, é obrigado a render o dobro do ruído e provar que não se limita a reproduzir os movimentos de outras tantas formações próximas do noise mais espasmódico e esquizofrenicamente matemático.
Nesses termos, Child Abuse é cativantemente inconclusivo - na medida em que, no tempo que toma ao corpo para ser violentamente atropelado e restabelecer-se no chão após o embate, o assalto do trio dispõe de margem para condensar em forma de balas de 3 minutos a progressividade de discos quádruplos e inflectidamente indulgentes, subverter o poder absorvente de teclados distorcidos e bestiais e tribalizar o espumar raivoso que verte a “Age of Reason”, que pouco ou nada tem de racional, mas apenas ritmos que decepam a forma rock como guilhotinas. Entretanto, “Internal Projections” rodopia como um faquir que em vez de fogo engoliu death-metal japonês. Não sobra sequer miragem de um estilo concreto para ajudar alguém a perfilar o criminoso através de um retrato–robot.
Para já, suspeita-se que, apesar do seu conteúdo corrosivo, o disco venda mais umas quantas cópias à custa de serem escassas as probabilidades de alguém arriscar pesquisar levianamente o nome da banda nas plataformas de partilha de ficheiros. O fruto proibido mais apetecível se torna quando por aqui se sente a marca de gente de dentes afiados como os Jesus Lizard, Cop Shoot Cop ou grande parte das bandas aglomeradas pela Skin Graft, que, além de ter apresentado a dupla Ruins a um público ocidental, tornou viável e conjugáveis a apreciação de banda-desenhada underground e discos ruidosamente eruditos e imprevisíveis.
Figurativamente, dir-se-ia que os Child Abuse dispõem de um cabaz cheio dos tomates que efectivamente faltaram aos Giddy Motors no seu último disco (Do Easy) e a outras tantas bandas que, de um disco para o outro, se vêem órfãs do acompanhamento técnico e garantias de intensidade que oferece a produção de um Steve Albini, que praticamente inventou por si só os moldes de um rock sujo que contrariava tudo e todos e sucedia-se sempre bem nessa postura. Child Abuse exibe evidente rubor e garra, mas uma gestão que ainda não as sabe aplicar na perfeição. Se produzirá ou não eco este primeiro sonante e frontal buh!, é um daquelas dúvidas que se resolverão apenas com segunda investida da banda a que não se Googla o nome.