Eis a prova evidente que o brokenbeat não é uma exclusividade do oeste londrino. Não que This Is My Home seja um álbum pleno de ritmos quebrados e funk delirante, mas os que fazem parte do alinhamento serão mesmo os mais interessantes e pertinentes. Lanu, com origem na Nova Zelândia e actualmente a residir na Austrália, é Lance Ferguson, produtor hábil que reparte o seu tempo entre este projecto a solo e o colectivo The Bamboos. Criativo a tempo inteiro e um multi-instrumentalista é, à semelhança do seu conterrâneo Mark De Clive Lowe, um talento na forma como faz convergir numa massa sonora única diversas tipologias e espÃritos.
Não terá sido o primeiro a chegar nem será o último a explorar estes ambientes. Mas muito à semelhança das metodologias de trabalho de senhores como Quantic ou os Jazzanova, Lanu é um produtor competente que revela conhecimento nas técnicas de produção e sabedoria cultural no que à matriz sonora afro-americana diz respeito. Talvez por isso as comparações ao colectivo de Berlim e a Will Holand não sejam um disparate completo. Não que haja um aproveitamento descarado dos paradigmas, mas a marca de autor de Lanu dilui-se por vezes por entre outras referências apagando-se o efeito de novidade que muito raramente consegue impor.
Lanu é competente. Que não haja dúvidas. Quem ouve “Mother Earth†não poderá deixar de acreditar que é uma das canções do ano, inteligentemente erguida por entre o brokenbeat menos austero, a soul ecologicamente apelativa e o afro-beat com cheiro a terra húmida. Outros temas seguir-se-ão. Por entre referências funk, soul, hip-hop, samba e house, vai erguendo-se um registo que procura na essência da alma um estado de espÃrito introspectivo mas simultaneamente festivo.
Eloquentemente tropical, This Is My Home começa prometedor com o desejo de afirmação do seu autor e com a vontade ostentar a qualidade do que é caseiro recorrendo a valores inteligentemente válidos num universo com excesso de programação inútil. Mas tudo quase acaba mal quando nos últimos minutos – "Beachcomber" e "Beijo do Sol" – Lanu opta por referências house efémeras e banais que quebram a ideia sã e facunda do inÃcio. A ideia de redundância estética do fim não invalidadará nenhum dos excelentes temas que compõem este This Is My Home. “Mother Earthâ€, “Riseâ€, “Dont Sleep (Part 3)†ou “Let You Glow†são os temas mais memoráveis e que – por entre aproximações a Quantic, Bugz In The Attic e Jazzanova – validarão o trabalho do neozelandês nos próximos tempos.
No equilÃbrio entre os adjectivos bom e mau, Lanu não se destacará facilmente. Independentemente do bom perfume que Lanu tente espalhar pelo mundo – e do sincretismo que tente impor na lógica da sua música –, este jardim à porta da sua casa também tem flores malparecidas que podemos ignorar. Talvez o próximo cultivo seja mais eficaz.