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Giardini di Mirò The Academic Rise of Falling Drifters

2002
2.nd rec


Díficil tarefa esta, a de analisar um disco de remisturas sem conhecer o álbum-base de onde foram retiradas. Sem saber até que ponto a música sofreu as diversas alterações que apresenta. Sem conhecer o tipo de música que a banda tem. Díficil, sem dúvida, mas também interessante. Interessante porque podemos percorrer o disco e as músicas em busca das alterações que sofreram, ou pelo menos as que nós pensamos que sofreram. Porque podemos imaginar o som da banda sem os cortes ou os “implantes†que sofreu. Porque podemos um dia mais tarde ouvir o disco em questão e pensar que sim, era isto que pensava ser a música deles, ou pelo contrário, não, não gosto e prefiro as remisturas. Seja qual for o caso, e quer se goste ou não das remisturas, não deixa de ser um desafio interessante. E na altura em que este disco sai, as remisturas até estão na moda e a invadir em força o mercado... desafiem-se e ousem investir em tal aventura.

O que é remisturar? É, idealmente, reinventar, recontextualizar, dar nova forma a uma canção mas tentar não lhe retirar a alma. E foi nisso que os Giardini di Mirò pensaram: dar novo fôlego aos seus sons. Para dar forma a essa ideia convidaram uma série de artistas que remisturarem, música a música, temas do álbum de 2001 “Rise and Falling Driftersâ€. Sem recorrer aos habitués nessas andanças, as remisturas ficaram a cargo de pessoas mais ou menos desconhecidas. Passando por Opiate, de quem faz parte Thomas Knak que produziu duas músicas de “Vespertine†de Björk, ou Styrofoam (Arne van Petegem) que lançou dois mui aclamados álbuns na Morr Music, os italianos Giardini di Mirò podiam mesmo assim ter também optado por uns Four Tet ou Matmos para abrilhantar mais o disco.

Como será a música dos Giardini di Mirò? A resposta a esta pergunta não é fácil... É instrumental (só um tema é cantado), recorre a alguns instrumentos orquestrais (pianos, trompetes), mas se as batidas que se ouvem ao longo do disco são ou não características das suas músicas, não sei... Os melhores temas deverão ser “Penguin Serenadeâ€, remisturada por isan (que são os ingleses Antony Ryan e Robin Saville), o tema inicial “A New Startâ€, que ficou a cargo de Styrofoam, e a canção “Littel Victories†(versão de Dntel). Serão estas também as melhores remisturas? Penso que não! Se por um lado são agradáveis e bons temas, não quer dizer que sejam as que menos alterações sofreram em relação àquilo que eram. As outras músicas, apesar de parecerem menos interessantes poderão ter sido melhor interpretadas por quem as recontextualizou. Algumas são mais complexas nas formas e isso poderá querer denunciar algo. Mas este é um mistério que só a audição do registo “original†pode desvendar.

Mais conhecidos no seu país do que no resto do mundo (as informações acerca deles são em Inglês escassas), os Giardini di Mirò deverão precisar apenas de alguma sorte para ver a sua música reconhecida em mais lugares.


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
09/11/2002