Um dos exemplos paradigmáticos na elaboração de bandas sonoras imaginárias é a The Cinematic Orchestra que desde 1999 – na estreia que foi Motion – se dedicou à causa da escrita inteligente onde a electrónica camuflada interage com o jazz, criando ambientes atmosféricos, intrigantes e resistentes tal qual tivessme sido concebidos para um qualquer filme. Desde sempre que Jason Swinscoe e sua pandilha imaginaram imagens inexistentes e compuseram a sua banda sonora. E disso têm feito sua vida, dentro e fora do estúdio. Excepção feita ao único verdadeiro momento de escrita sonora para cinema: a sonorização do documentário russo de 1929 Man with a Movie Camera de Dziga Vertov (que inaugurou o Porto Capital da Cultura).
O novo Ma Fleur marca a viragem do colectivo para outros quadrantes. A folk e a pop passam a fazer parte do léxico. A eloquência jazzística mantem-se, a humilde ambição de escrita para um filme também. O piano ganha visibilidade num sector folk, tal como a guitarra acústica. Os ambientes melancólicos sentem-se na pele. E as vozes de Patrick Watson ou da repetente Fontella Bass asseguram que o arrepio é eficiente. Ma Fleur é um mimo intimista que muitos estranharão ao inÃcio, mas o tempo acabará por provar que a viragem talvez tenha sido a melhor opção num perÃodo menos feliz para o nu-jazz e cada vez mais favorável à nova folk. Excelente.