Quando a esperança em dias melhores começa a escassear e na superfÃcie nada mais encontramos que banalidades sem essência, a atenção volta-se para o underground. Parte da nova música contemporânea nasce nas periferias urbanas, nas margens de uma sociedade supostamente pragmática - veja-se o recente caso dubstep. Nasce de mentes inconformadas com o sistema, e com a conjectura no geral. Mentes irrequietas que procuram escapes, alternativas; são almas que almejam a evasão através de música inventiva, informal, descomprometida e transversal. É a necessidade da criação como forma de expressão do interior para o exterior. Uma obrigação inconsciente para comunicar algo novo, transmitir novos pensamentos e enviar mensagens curtas mas incisivas e simultaneamente procurar na memória de um povo - outrora oprimido - o espÃrito do prazer fÃsico da dança. É a evocação dos espÃritos africanos por parte de uma geração que encontrou nos computadores uma forma de expressar-se. O underground português está vivo, apesar de nem sempre o público aperceber-se disso.
Começaram por experimentar o palco. Depois veio o estúdio. E entre o tablado onde o espectáculo foi aquecendo e a oficina onde a música tomou forma evidente, os produtores e mentores do Buraka Som Sistema, Riot, Lil’John e Conductor, aperceberam-se do culto que foi nascendo à sua volta. Acabou por ser a curiosidade a atrair a atenção do público para um determinado movimento underground, o dos Buraka Som Sistema.
A música do EP From Buraka To The World - que agora é reeditado com dois extras - pulsa vida alienÃgena, uma energia estranha, progressiva. O confronto directo das cadências vigorosas do kuduro e do techno estimulam a esfera do pensamento humano e incentivam os corpos ávidos por prazer fÃsico. A catalogação não é fácil, mas também acaba por não ser o mais importante, porque a frescura experimental desta música espicaça o Ãntimo.
Buraka Som Sistema é um projecto onde a tecnologia e a tradição não encontram estorvo, antes pelo contrário, deparam-se com frontalidade, extraindo um do outro os elementos necessários que permitam a erecção de uma personalidade com sentido de existência singular. A mais-valia acaba por ser o encontro com uma nova essência, uma nova realidade estética nascida em terras lusitanas. E assim vale a pena dizer que temos o nosso próprio som.