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Logh North

2007
Bad Taste / Música Activa


Independentemente da falta de sal e inovação que se lhe possa apontar a alguma esterilidade, North salvaguarda uma certa lógica no lugar que ocupa na linearidade do percurso que levam a cabo os suecos Logh, que se podem gabar de produzir um pós-rock bem simpático que até si atraiu estima alheia pela sua alternância pendular entre passagens mais confessionais e outras mais dolorosamente expostas em rock de coordenadas amplas. O quarto longa-duração North simboliza essencialmente a recolha desse tal rock até um crepúsculo intimista que se exterioriza em gradual descortinar de piano, percussão e metais sonâmbulos e a voz de Mattias Friberg quase sempre produzida com o intuito de soar angelical. Momentos de maior rispidez são muito mais escassos em North. Com isso, perde-se um atractivo dinâmico que avolumava o interesse a The Raging Sun. A dinâmica entre andamentos mais lentos e outros mais acelerados parece agora existir apenas em compilações personalizadas que englobem os quatro discos da banda ou muito possivelmente no concerto que traz os Logh ao Santiago Alquimista, em Lisboa, no próximo dia 11 de Maio, e ao Passos Manuel, no Porto, no dia anterior. Esperar para ver, portanto.

Além de que também parecem acusar os Logh aquela ideia pouco fiável de que a inclusão de um piano salva o arcaboiço instrumental de qualquer música que conheça a sua infiltração. Nem sempre será assim e aquele que percorre – em variável revelação – o quase-épico “Thieves in the Palace†avança igual a tantos outros dispersos por discos congéneres que trataram já de solidificar uma excessiva familiaridade com crescendos sucedidos por sincronizada combustão rock. Tais momentos não são novidade nos discos de Logh e muito menos o serão em discos de filiação pós-rock.

Provavelmente nem se enquadrará a uma banda de tão simples pretensões como é o caso dos Logh julgar que North marca o início de um novo ciclo que tem pelas costas uma trilogia de discos tematicamente incidentes no sol. Ainda assim, North oferece um número talvez excessivo de pistas por parte do colectivo sueco acerca de uma legitima vontade de refinar os momentos mais pacíficos e esplendor outonal que ofereciam os primeiros três capítulos discográficos lançados pela Bad Taste.

As aspirações podiam resultar em pleno se Mattias Friberg fosse mais versátil no registo vocal ou se, com o auxílio da restante banda, obtivesse um relevo e carácter que mais definidamente distinguisse as dez composições incluídas em North. Pode-se em sua defesa alegar que se trata de um disco diferente dos restante. Não sobram dúvidas disso e os que preferirem a calmaria ao pós-rock, dispõem por aqui de muito bom acompanhamento para tardinhas de dias mais curtos. As dúvidas instalam-se incomodativamente quando se percebe que Friberg ainda não dispõem de caule para suportar um disco que depende muito mais da escrita de canções que da dinâmica. Parece que, desta vez, alguém se esqueceu mesmo de deixar abertas as botijas de éter.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
09/05/2007