bodyspace.net


Avey Tare & Kria Brekkan Pullhair Rubeye

2007
Paw Tracks / Flur


. frente a para trás de paciência a percorrer a disposta encontra se que extensão a parágrafo um a limitado ver mesmo seria certo mais O. leitura da sentido o trocar de trabalho ao sujeitasse se não quem de incompreensão a ou Cipriano São de estudiosos de simpatia a cativar isso com Podia. avesso do também apresenta se, final forma sua na, que disco um sobre opinam que palavras das ordem a inverter a direito o atesta-me excentricidade da caprichosa mais aplicação Uma

Por isso, a restante apreciação decorre nos mais suportáveis termos lineares. Pullhair Rubeye, evidentemente, não. Quiseram os recém-casados Avey Tare, parte dos Animal Collective, e Kria Brekkan, integrante de uns Múm hibernados, compor em conjunto algumas canções propícias à beira da fogueira, ao bom jeito característico do primeiro a que se reconhece a especialidade nisso, exposta em toda a glória em discos vários do colectivo que lhe ocupa a maior fatia de tempo. Depois, algumas adversidades sucedidas com o humilde gravador de duas pistas onde haviam sido gravadas as tais canções obrigaram-nas a ficar congeladas no tempo. Reza a lenda que, numa noite em que haviam regressado do visionamento de Inland Empire de David Lynch, Avey e Kria voltaram a escutar o material armazenado e ficaram agradados com a forma apurada que lhe tinha oferecido a passagem de alguns meses. Nada de anormal, até aqui. O caso só muda de figura quando o casal se decide por lançar as canções na sua forma inversa – alinhadas de trás para a frente.

Não se julgue contudo que o abuso assumido por Pullhair Rubeye, nessa sua inversão indigesta, camufla quaisquer mensagens subliminares como o faziam requintadamente os viciosos e heréticos Judas Priest ou Black Sabbath. As canções invertidas são apenas exercícios bem conseguidos na harmonização das vozes dos cônjuges com elementos instrumentais (guitarra e piano) repetidos em transe circular – sendo que isso chega até a honrar a memória recente de uma “Purple Bottleâ€, incluída em Feels dos Animal Collective, que para ser inesquecível necessitava apenas da voz de Avey e do piano de Kria. Porém, é o resultado apresentado em disco o que importa avaliar e sobre esse pode-se apenas referir que é curioso e igualmente chato – musicalmente, talvez soe a regressivo percurso do perfume sónico até à lamparina que o libertou ou a implosão continua do colorido tonal combinado. “Palenka†não é tão repudiante como à partida se pudesse julgar, mas pouco importam os dividendos obtidos com o risco assumido quando a lógica podia ser tão milagrosa, neste caso específico, sem que isso sequer implicasse a banalidade ou repetição. Quando Vincent Gallo se decidiu por filmar um beijo apaixonado (igualmente infame pela sua invulgaridade) no final da sua romaria romântica The Brown Bunny, não obrigou a que Chloe Sevigny o cumprisse a fazer o pino. O que podia ser um perfeito disco conjugal, na documentação de uma criativa e construtiva lua de mel, passa à condição de manifesto contra-natura magnetizado e iluminado por uma lua de fel.

Existem por aqui doses impróprias de secretismo tentativamente legitimado por pretexto de iniciativa experimental e arrojo artístico. Existirá, porventura, o mais rude golpe que sofreu o karma de Animal Collective até hoje e o primeiro sinal flagrante de que um dos seus principais criativos não descarta o absurdo enquanto forma de variar, ao ponto do quase irreconhecível, as qualidades espontaneamente temperamentais da sua folk alienígena. Provavelmente a culpa até será de Lynch e do labirinto não linear que forma no absorvente Inland Empire (que, de igual modo, é tudo menos consensual). Lynch é também o criador do bizarro anão que em Twin Peaks segredava pistas ao ouvido do Detective Cooper. O bom senso dos criadores da série obrigava a que as declarações do anão fossem acompanhadas, em rodapé, pelas correspondentes legendas (que, mesmo assim, só baralhavam mais as coisas). A legendagem e interpretação de Pullhair Rubeye encontra-se na inversão do mesmo através de software apropriado. Talvez por isso, se assemelhe muito mais a um apelo à usufruição de programas de tratamento de som e, por conseguinte, à proliferação de bootlegs, do que a um disco de música propriamente dita.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
08/05/2007