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Rickie Lee Jones The Sermon On Exposition Boulevard

2007
New West


Em 1979 Rickie Lee Jones cantava sobre Chuck E. Weiss: “Chuck E's in love with the little girl who's singing this song”. Chuck E. Weiss era um amigo de Tom Waits, com quem a cantora teve, nos anos 70, uma relação. E foi essa canção que lhe lançou a carreira, chegando ao lugar #4 da Billboard. O sucesso desse primeiro disco, homónimo, teve seguimento em vários álbuns na década de 80: Pirates (1981),The Magazine (1984), Flying Cowboys (1989). Até que em 1991 chegou Pop Pop, álbum belo mas incompreendido pelo público, onde Rickie deixa de lado originais e interpreta simplesmente standards, acompanhada pelo contrabaixo de Charlie Haden.

A partir de aí a carreira perdeu o fôlego inicial, tendo-se seguido álbuns menos conseguidos - aos curiosos que queiram explorar a obra passada da cantora está disponível a antologia Duchess of Coolsville, editada em 2005. O verdadeiro regresso da diva acontece agora, em 2007. Neste The Sermon On Exposition Boulevard voltam as grandes canções e volta a Rickie que conhecíamos dos velhos tempos. Este não é propriamente um disco conceptual, mas há uma temática que assombra todo o álbum. A inspiração vem do livro de “The Words” de Lee Cantelon, uma adaptação da mensagem de Cristo ao contexto moderno. Mas se à partida se poderia temer um qualquer panfleto de propaganda religiosa desprovido de qualquer interesse artístico, a música trata de nos mostrar o contrário.

O álbum é um conjunto de canções inspiradas e a temática que o originou acaba por ficar relegada para um lugar lateral. Com ou sem inspiração divina, muitos dos temas foram gravados ao primeiro take. Os habituais arranjos jazzy/bluesy foram dispensados e o som está mais sóbrio. E tudo isto se traduz numa prestação intensa, sentida. Mesmo quando Rickie canta “when Jesus walked I was there” nós acreditamos, sorvemos cada palavra e sabemos que é verdade (mesmo que seja uma verdade temporária). Não é preciso ter fé, basta ouvir. E quando ouvimos sabemos que nunca perderemos a fé em Rickie Lee Jones.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
07/05/2007