É intrigante e curioso o equilĂbrio que se descobre ao ânimo dos mĂşsicos alĂ©m e ante a máquina fotográfica que captou uma das imagens que melhor define o pĂłs-rock da dĂ©cada de 90: aquela em que Will Oldham (Bonnie “Prince” Billy) enquadra os Slint embanhados pelo lago de Utica, no estado do Indiana, e que serviria de capa Ă obscuridade tornada clássica pedra-de-toque, Spiderland. EquilĂbrio, neste caso, porque os Slint ofereciam como fachada a um disco subterraneamente negro e contorcido em angĂşstia quatro expressões faciais inversamente despreocupadas, entre as quais se descobriam mesmo sorrisos. Era como se o tumulto emocional estivesse afundado no preto e branco da água, ancorado nos estĂ´magos submersos. A mesma ambiguidade descobre-se a quem retratou o momento – um precioso Will Oldham que, mantendo intermitente o disfarce Bonnie “Prince” Billy, nunca deixou de surpreender pela imprevisibilidade que o leva de folker fatalista a comediante stand up conforme a corrente da sua vontade.
A invocação de Spiderland acontece apenas porque, dezasseis anos mais tarde, Buncha Beans exibe um nĂşmero demasiado de paralelos para passar impune Ă comparação que o qualifica como nemĂ©sis bem-humorada do recuado disco bem mais sofrido dos Slint. SenĂŁo vejamos: Ethan Buckler integrou certo dia a formação dos Slint como baixista e, nesses termos, cunhou o protĂłtipo de cariz quase fĂşnebre Tweez. Decidiu-se, depois, por partir em busca de um rock mais dançável e descomplexadamente divertido e, para tal efeito, escolheu o desĂgnio de King Kong, que, com este Buncha Beans, revela o sĂ©timo disco, apĂłs um interregno de cinco anos. Ao passado de Buckler nos Slint acrescente o auxĂlio nas gravações a cabo de Paul Oldham, o irmĂŁo Oldham que geralmente oferece o baixo e auxĂlio tĂ©cnico aos projectos mantidos pelos consanguĂneos Will e Ned com quem partilha (partilhou) o veĂculo Palace e as suas milhentas ramificações. No que toca a castas, familiaridades e esferas coabitadas, Buncha Beans nĂŁo podia ser mais paralelo a Spiderland. Em tudo o resto sĂł muito vagamente os discos partilham de quaisquer intersecções.
Ethan Buckler parece muito mais empenhado em recapitular liricamente tudo aquilo que explora o indie quando comissionado a fazer-se passar por mĂşsica produzida por gente simples para gente simples (logo de ego diminuto e apto a convivĂŞncia em comunidade) - neste caso, barrando de inteligĂŞncia amanteigada um disco que consegue ser episĂłdico, prĂłspero em humor, adoravelmente ridĂculo (tanto quanto a marcha de sintetizadores que introduz a homĂłnima “Buncha Beans”), existencialmente ciente (e pronto a projectar isso na insignificância de um insecto em “Bug Make”), referencial como revela uma “Tough Guys” sem fim Ă vista na sua enumeração de alcunhas em modo de ridicularização dos trejeitos da testosterona norte-americana. Ă€ confecção deste chilli, Ethan Buckler sabe que doses de ingenuidade recuperar aos cancioneiros de Wesley Willis e Calvin Johnson e como transformar os King Kong nuns Mogwai hipnotizados pelo charme vibrafonista de Roy Ayers em “Sue Na Mi”. Convence em todas essas apropriações. Sumarizando as coisas, a sua criação Buncha Beans vale como simpática e eficaz relativização da seriedade associada aos pĂłs-rock.