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Roy Montgomery Inroads: New and collected works

2007
Rebis


Partir para um disco duplo tem sempre um peso especial. Além do peso extra propriamente dito do objecto há que reconhecer a audácia a quem se propõe a mostrar mais de duas horas de música de rajada. O guitarrista neozelandês Roy Montgomery (associado a nomes como Dadamah, Dissolve e Hash Jar Tempo) é um dos bravos, e a Rebis – a cada vez mais presente e assertiva editora – foi a casa que albergou a obra. Desta vez com uma razão especial. Esta obra é nem mais nem menos do que Inroads: New and collected works, que é como quem diz a reedição de dezassete temas do neozelandês com o bónus de cinco novos temas. Uma espécie de retrospectiva de momentos raros complementada com novas paisagens.

Ao primeiro disco chamaram-lhe Paved e ao segundo Unpaved, apesar de ambos serem terrenos férteis. Apesar de alguns intrusos (percussão ou ocasionais batidas), Inroads: New and collected works é um disco maioritariamente de guitarras. Guitarras solitárias, em camadas, sobrepostas, em drone, mais ou menos rock, espaciais, atmosféricas, cristalinas, repetitivas, reluzentes, próximas das ragas, com mil e um efeitos. Canções que não são canções, que estão na terra mas arranham o espaço. Este é o tipo de música hipnótica que Roy Montgomery gosta de criar. As suas peças de guitarra caminham no reino da imaterialidade. É impossível medir com rigor a influência que as paisagens neozelandeses terão tido para a criação destas peças - mas é possível fazer uma ideia.

Esta é música emocionalmente pesada, recolhida nas suas memórias. E profundamente bela. Ouça-se “London Is Swinging By His Neck (instrumental version)” no primeiro lado da compilação para se perceber o que aqui se trata. O segundo lado de Inroads: New and collected works é, ao contrário daquilo que alguém poderia pensar, igualmente interessante - e mais "violento" que o primeiro. Prolonga mais um pouco os territórios deslumbrantes criados pela guitarra do neozelandês. Permite-nos entrar por exemplo no microcosmos caótico e intenso que é "Zabriske Point (part I)" - avassalador - e na obscuridade de "Lazy Boy (treatment)". Resumindo, este é um daqueles discos duplos que devemos ter por perto. Agora que Roy Montgomery se afastou dos territórios musicais, Inroads: New and collected works é um documento importante para perceber a sua história e a sua fascinante música. Mais, este é um disco importante para perceber a história que poderia ter sido apagada pelo peso do título de “raridades”.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
27/04/2007