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Festival Rescaldo na voz do programador
· 18 Fev 2015 · 15:00 ·
© Vera Marmelo

Está quase a chegar a 8ª edição do Festival Rescaldo, que decorre entre 20 e 28 de Fevereiro. Já ali apresentámos a programação, que este ano vai passar pela Culturgest e pela Galeria ZDB. O programador do Rescaldo, Travassos, apresenta-nos o festival.

Quais são os destaques da programação de 2015?

Admito que existem realmente nomes que se destacam no programa mais que outros como é o caso do Adolfo Luxúria Canibal e da Lula Pena mas isto não é por si só uma garantia que sejam os melhores concertos do festival. Estou com elevadas expectativas nos concertos da Nova Orquestra Futurista do Porto: que reúne algumas das mentes mais brilhantes e inquietas da cidade invicta como o Gustavo Costa, Henrique Fernandes, João Ricardo, Angelica Salvi ou Miguel Pipa - são onze músicos em palco munidos de uma parafernália de instrumentos absolutamente "sui generis", tudo devidamente encenado e orquestrado. No inédito concerto de Coclea: com uma formação absolutamente de luxo que reúne o Guilherme Gonçalves (Gala Drop) na guitarra e electrónicas, o Shella (PAUS) nas teclas, o Alex Klimovitsky (Youthless) na voz e electrónicas e o original trompetista Yam Tembe. Música de grande beleza com uma doce dose de hipnotismo. E na pequena performance do Rui Nogueiro enquanto Sumbu Dunia que nos vai trazer uma criteriosa selecção de samples Jaipongan (um sub-género de dança popular Indonésia com ligações à música para gamelão). De qualquer maneira as pessoas não podem ter medo de ir ver nomes que nunca ouviram falar e desperdiçar esse raro fenómeno do factor surpresa que continua a ser um motor de existência. Os bilhetes são uma pechincha e provavelmente vão sair dar sala surpreendidas e de "barriga cheia".

A programação deste ano combina alguns nomes jovens e revelações recentes com outros nomes já consagrados. É importante esta mescla de gerações?

O Rescaldo acima de tudo é um festival de mesclas e de revelações onde se mistura, sem preconceitos, géneros e proveniências dispares. Essas são premissas base que sempre fizeram parte da sua génese. Sempre considerei que a mistura das novas gerações com alguns nomes consagrados seria importante para vincar o conceito do festival. Neste caso os músicos de gerações mais amadurecidas têm eles também que ter sido estetas ou contribuído para a evolução da música feita por portugueses e que, de alguma forma, funcionem como faróis orientadores das novas gerações. Por um lado é motivante para os novos músicos partilharem o palco com estes ícones, por outro é uma forma de fortalecer o cartaz e de o tornar mais apelativo.

Este ano tem como novidade uma noite de concertos na Galeria ZDB. Porquê a escolha deste espaço?

A escolha da ZDB é de alguma maneira óbvia, porque é o espaço/projecto que partilha connosco mais afinidades, visões e crenças. Outro dos grandes factores prende-se com a vontade do festival se descentralizar e alcançar outros locais e públicos e, acima de tudo, de ter uma sala de concertos com diferentes características do pequeno auditório da Culturgest, que permita realizar outro género de concertos, em especifico propostas onde os decibéis sejam bem mais elevados e as pessoas possam assistir aos concertos de pé. É um espaço de culto com uma sólida história perfeito para receber o Rescaldo. Para além destes factores é a minha sala de concertos favorita em Lisboa.

A label Shhpuma, subsidiária da Clean Feed, tem estado muito ligada ao festival. Quais são as novidades para o festival e planos de edições para os próximos tempos?

A Shhpuma nasceu com o Rescaldo e encontra-se intimamente ligada com o mesmo pela natural simbiose entre o catálogo e as propostas que o festival tem programado. A editora serve para fechar o círculo de suporte que fazemos a estes projetos onde tentamos oferecer algumas ferramentas que facilitam o seu posicionamento no mercado nacional e internacional. O Rescaldo funciona como um veículo de promoção da Shhpuma e vice versa. Nesta oitava edição temos dois projetos em destaque com discos na editora: o concerto de lançamento do novo disco homónimo de Coclea e o Quest da Joana Gama com o Luís Fernandes, CD editado recentemente que colheu as mais favoráveis criticas e que os levou a actuar em sítios como o festival Novas Frequências (Rio de Janeiro), na Rooster Gallery (Nova York), no MadeiraDig ou nas noites brancas em Cabo Verde. Temos ainda a ser lançado neste período duas edições da artista Helen Mirra, realizadas em parceria com a Culturgest no âmbito da sua exposição "Hedge Habitat". Trata-se de dois duetos, o primeiro com o gigante Fred Frith, uma edição limitada e exclusiva em LP, e o segundo com o sonoplasta Ernest Karel. Ambos trabalhos de um elevado carácter conceptual, o que os torna bastante particulares.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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