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Cinco dedos de conversa sobre Aquelas Três
· 11 Jul 2012 · 18:05 ·
A Feromona deixou de ser um power trio desde que João Gil se juntou a Bernardo Barata e aos manos Diego e Marco Armés, mas não perdeu a pujança. Como que para o comprovar, foi já sob o formato de quarteto que lançaram o EP Aquelas Três (composto por outras tantas canções aguerridas) há um par de semanas. Continuando numa de números, apanhámos Diego Armés para cinco dedos de conversa, onde se fala um pouco deste recente trabalho e da opção em editar desde já um EP em vez de seguir a via clássica na sucessão ao álbum Desoliúde.



“1991†já tinha saído na mix-tape de tributo ao Ruptura Explosiva, numa versão acústica a solo. Era um tema que estava a pedir a energia e electricidade do rock?

Sim. O que tinha feito era um esqueleto, um esboço na guitarra clássica, com a melodia de voz, tudo um pouco à pressa para responder ao convite urgente do Tiago Cavaco (aka Tiago Gillul, aka Tiago Lacrau). Logo que experimentámos tocar a canção em banda, na sala de ensaios, percebemos que estávamos perante uma necessidade óbvia: fazer uma homenagem rock ao Patrick Swayze.

A letra desta música tem referências explícitas aos Nirvana e a outros ícones dos anos 90. Até que ponto as influências dessa época continuam a ser fundadoras para vocês, enquanto pessoas, músicos e banda?

Estamos a falar da nossa adolescência tenra, daquela época decisiva no gosto de cada um em que, mesmo sem se saber como ou porquê, se tomam partidos e se definem gostos. Para mim, os Nirvana (e outros) foram e são incontornáveis, do mesmo modo que para o Bernardo os Red Hot (e outros) são “a cena†daquela altura. O meu irmão, por razões óbvias, partilha comigo muitos dos gostos. O João Gil também tem uns gostos muito aproximados no que se refere a essa época. Penso que nas nossas ideias estas personagens, estas bandas e estes sons talvez tenham ficado cristalizados como “aquilo que é fixeâ€. Eram os nossos ídolos. Por mais que os mates, não te consegues livrar deles. Nem nós queríamos isso, que gostamos muito deles todos, mortos ou vivos.

“Sábado à Tarde†é daquelas malhas que ficam associadas a uma cena que nunca passa de moda: um sábado à tarde será sempre um sábado à tarde, com tudo o que lhe podemos associar, não é?

O sábado à tarde é o monumento temporal ao tédio. É aquele período curto mas lânguido que está depois de tudo o que havia para fazer por obrigação e antes de tudo o resto que vamos fazer porque gostamos mesmo, até às tantas da madrugada. É um impasse sem ralação de qualquer espécie. É estar à varanda a apanhar sol sem o menor sentimento de culpa. Ou então é arrumar a casa e ouvir música. A única coisa que não se pode fazer a um sábado à tarde é deturpar-lhe o espírito, dando-lhe seriedade ou sentido de obrigação. Diria que o sábado à tarde é aquele momento anarco-hippie da semana – e não importa a tua ideologia, filosofia ou religião: vais usufruir dele e deleitar-te, sejas tu conservador católico ou marxista-leninista.

“Ché Guevara Eunuco†acaba por ser, d´Aquelas Três, a música com toada mais lenta e menos radiosa: como que para acentuar que “quando é preciso erguer a voz alto e bom som / a garra perde para o torpor�

Nunca pensei nisso. Ou, melhor: a relação entre letra e música é, para mim e no que escrevo, simbiótica. Ou seja, elas devem estar lá uma para a outra, em função uma da outra, puxando uma pela outra. Portanto, existe uma procura pela relação ideal, que não seja descompensada ou desequilibrada ou desajustada ou inadequada. Mas o que queria dizer é que não arrastámos a música para acentuar isto ou aquilo. Ela foi acontecendo assim até ficar neste ponto, que é o que considerámos ideal. Com força, mas também com contenção.

Já tinhas abordado esta questão, mas gostava de saber se o lançamento do EP surge mais como concretização duma oportunidade ou sinal dos tempos que a música atravessa, em termos da sua produção e consumo?

É um pouco de ambos, se bem que é mais da primeira: a oportunidade surgiu e não a desperdiçámos. Por outro lado, também sabemos que o consumo da música está cada vez mais distante da noção de “álbumâ€: o conjunto de canções foi preterido, agora prefere-se uma ou duas músicas de um disco e o resto deixa-se de lado para não gastar megas ao áipode. Então, se só precisam de duas ou três canções, aqui têm Aquelas Três. Daqui a uns meses haverá mais.
Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net

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