ÚLTIMAS
Amy Winehouse (1983–2011)
Crónica de Uma Vida Cancelada
· 28 Jul 2011 · 10:33 ·


Não posso dizer que tenha ficado muito surpreendido quando, no passado Sábado, recebi uma mensagem a dizer que Amy Winehouse falecera. E boa parte das pessoas também não deve ter reagido com grande espanto à morte da cantora britânica. Consta mesmo que o seu pai, Mitchell, já redigira o discurso para o funeral há cerca de quatro anos.

Digressões canceladas (incluindo a que a traria ao Festival Sudoeste, no início do próximo mês), consequência de adições não resolvidas, e sem lançar nenhum álbum há quase cinco anos, a vida de Amy tornara-se um folhetim para encher revistas de mexericos. Desacatos conjugais e algumas detenções, entre várias tentativas de cura e recaídas, intercaladas por concertos intermitentes, muitos deles espectáculos tragicómicos, em que aparecia de voz e figura consumidas, como que um fantasma da imagem e voz que a deram a conhecer ao público. A decadência vinha-se acentuando com as luzes da ribalta, focos talvez demasiado fortes para alguém que soube fazer das fraquezas forças no álbum-catarse Back to Black (o maior legado que deixa), mas que nunca conseguiu lidar com a pressão da fama nem ultrapassar os vícios que a viriam a destruir – embora tenha passado por várias clínicas da especialidade, a letra de “Rehab†(«i said no, no, no») falou sempre mais alto.

A indústria musical e os media, sempre sedentos de construir mitos, têm apontado ao exclusivo clube de Hendrix, Morrison, Joplin ou Cobain. É bem sabido que a morte prematura ajuda às vendas, mas se Winehouse não foi uma fraude (era autêntica, tinha alma e talento), paradoxalmente a sua figura apenas se tornará mítica por artes mágicas de marketing. É certo que viveu no fio da navalha, como as velhas glórias do rock, mas falta-lhe algo para se juntar à elite: inovação. As suas canções têm méritos, mas a curta discografia não fez avançar a História da Música; antes recuperou para as gerações actuais referências e imaginários de épocas passadas, do soul e jazz à pop dos anos 60.

Ainda assim, e parafraseando Neil Young, «it´s better to burn out than to fade away / Amy is gone but she´s not forgotten». Paz à sua alma.
Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net

Parceiros