No que toca a pérolas "escondidas" da música brasileira, cada qual tem a sua e defende-a com os trunfos que tem. O álbum homónimo de Nelson Ângelo & Joyce, de 1972, está carregado de motivos para ocupar esse papel nas nossas/vossas vidas. Ao longo de pouco mais de trinta minutos, e de 13 canções essenciais, Nelson Ângelo e Joyce propõem uma viagem fascinante pelas músicas brasileiras, pelo psicadelismo. Apesar da sua curta duração, assume-me como uma obra completa, total. Talvez seja de evitar o lugar comum, mas Nelson Ângelo & Joyce assemelha-se a uma viagem solitária pela mais pura e selvagem das florestas; a sua proximidade à natureza é uma das suas vitórias mais importantes. Ouça-se por exemplo a delirante "Comunhão" para se perceber melhor essa fundamental ligação.

Não faltam motivos de espanto e beleza: "Um gosto de fruta", "Pessoas", "Sete Cachorros", entre outras. Apenas uma canção chega aos três minutos e, no entanto, cada uma delas convida a uma experiência tão imersiva que parecem durar pelo menos o dobro. Cada uma das treze partes de Nelson Ângelo & Joyce são essenciais para a apreciação do disco enquanto o todo. É música desligada da corrente, e até por isso mais próxima da natureza. É música deslumbrantemente desprendida de formatos, verdadeiramente livre. É música brasileira, é psicadelismo mas é essencialmente música quase uterina, humana, animal, eterna. Um disco obrigatório.