Antes de Lindstrøm ou Todd Terje invadirem as pistas de dança e os ouvidos dos atentos melómanos com uma potente mistura de house, disco, funk e o que mais coubesse, mostrando que a partir de um local tão inóspito como a Noruega (um estereótipo provocado em grande parte pelo black metal) também era possível sonhar com cocktails à beira-mar e festas intermináveis onde a areia pinta o calção curto, já Bjørn Torske se dedicava a explorar o potencial da electrónica mais solarenga em finais dos anos noventa. Nedi Myra, o seu disco de estreia, estaria algo perdido no tempo, mas uma reedição recente a cargo da Smalltown Supersound veio devolvê-lo ao estatuto que merece: pai desta gente toda. Sur la neige, la plage...

Editado originalmente em 1998, Nedi Myra é um exemplo de que o deep house não é - nem pode ser - um género estanque de cariz jazzístico e destinado apenas a enfeitar restaurantes e bares minimamente chiques. Ouçamos "Expresso": uma linha de baixo repetitiva e estupidamente groovey, pintada de elementos funk e samples que normalmente associaríamos ao house que vem de França, e com uma melodia riquinha disparada pelo sintetizador ali a meio. Em 1998, teria tudo para alcançar o mesmo apelo de uma "Inspector Norse"; mas já que o presente de então não lhe foi justo, exultemo-la agora que os ouvidos a redescobrem.

E se "Expresso" é bem capaz de ser uma das melhores canções que ouviremos em 2015, o resto de Nedi Myra não lhe fica atrás. O chug-chug-chug de "Station To Station", a beber tanto ao house como ao techno, a reviravolta downtempo em "Eight Years" a fazer lembrar um Aphex Twin menos desalinhado com o mundo, a deliciosa "Fresh From The Bakery", "Smoke Detector Song" - cuja sonoridade nos faz perceber porque colaborou, mais tarde, com os Röyksopp - e ainda o encontro com a bossa nova em "Ode To A Duck", que termina o disco em modo chill out. Nedi Myra é um disco carregado de enormes canções. Iremos a tempo de lhe prestar a devida atenção?