RETRO MAN脥A
Sixto Rodr铆guez e o seu Cold Fact (1970)
路 04 Ago 2016 路 15:54 路
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Estávamos em 1970, a trip contínua da década anterior já se dissipava das mentes e corpos de milhões de pessoas por todo o mundo (com os States à cabeça) e deixava no ar, quase suspenso como um grito que se retrai apercebendo-se da inoportunidade do momento, a expectativa do que aí viria. A História todos nós sabemos como se desenrolou, está ao alcance de um livro ou de uma pesquisa na net, mas para Sixto Rodríguez, músico prestes a atirar-se para o mundo, o nevoeiro que cobria a indiscernível nova década era dissipado pela esperança de nome Cold Fact (gravado meses antes no Tera-Shirma Studio da sua Detroit natal) que carregava no bolso.



Doze músicas, entre elas a eterna “Sugar Man”, quase fizeram de Rodríguez um sucesso nos setenta. “Quase”, porque a vida deste Cold Fact e do seu mentor foi um corpo esquisito e nunca benquisto na terra que o viu nascer, ao mesmo tempo que o mito e a realidade, como uma lapa, se associaram ao seu trajecto enquanto homem-músico e músico-homem. Mas o mundo dá voltas e, para Sixto, a História, apesar de nunca ter deixado de ser uma espécie “patinho feio” da música, reservar-lhe-ia um par de surpresas…



Voltemos a 1970. Produzido por Mike Theodore e Dennis Coffey (responsáveis, igualmente, pelas letras dos temas “Hate Street Dialogue” e “Gommorah (A Nursery Rime)”, Cold Fact saiu pela mão da Sussex Records para uns Estados Unidos da América que foi grande em o ignorar. Vendas quase nulas. Um antigo responsável pela editora jurava, num documentário sobre o músico, terem-se vendido menos de um milhar de exemplares, mas, na África do Sul e na Austrália, o disco foi um sucesso (o mesmo responsável afirmava que Sixto teria, em associação com a A&M Records (subsidiária da Sussex Records), editora de Rodríguez na África do Sul, comprado uma boa parte dos álbuns naquele país africano…



Não sabemos se isto correponde inteiramente à realidade, mas sabemos que este álbum que mistura o melhor do rock criado nos 60’ com blues de cariz urbano e uma folk que mais parece saída de um “agora criativo”, esse agora que os artistas contemporâneos se esforçam para criar no universo do indie-folk-rock, fez furor nesses dois países dando a Rodríguez atenção e carinho consubstanciados numa tournée-ternura à Down under em 1979 (em baixo, o concerto de Sixto no Regent Theatre de Sydney durante essa tour).



Antes porém, Rodríguez, ainda editou um segundo álbum de seu nome Coming From Reality (1971), com igual resultado de vendas, o que o levou a por um fim à sua carreira e a levá-lo para uma carreira política que seguiu o mesmo caminho (o Conselho Municipal de Detroit escreveu mal o seu nome nos boletins de voto) até que, em 1979, o hype criado nos antípodas… Ainda voltou à terra dos cangurus em 1981 para depois concluir, no mesmo ano, o curso de Filosofia na Wayne State University’s Monteith College, Detroit, enquanto trabalhava numa empresa de demolições.

Passaram dez anos até que se voltasse a ouvir falar do “homem das demolições”. Em 1991, ambos os discos de Sixto foram reeditados em CD na África do Sul. Sucesso, embora desconhecido para ele, até que em 1998, a sua filha encontrou um site sul-africano em sua honra, o que o levou a uma primeira tournée naquele país (regressou em 2001 e 2005), mas faltavam os Estados Unidos da Ingratidão…

2008/2009. A Light in the Attic Records, nome bem a propósito, reedita Cold Fact e Coming From Reality, e a História toma um outro rumo… Em 2012 é convidado do Late Show com David Letterman, a CNN decide entrevistá-lo e o jornalista Stephen Robert Morse lança uma petição online para atribuir a Rodríguez a distinção “Kennedy Center Honor”.

Durante o período que mediou a reedição dos seus dois álbuns no seu país natal, Simon Chinn e John Battsek, realizadores, começaram o filme documentário que viria a estrear no dia 3 de Setembro de 2012 no festival de Sundance e que inscreveu, de vez, o nome deste americano com origens mexicanas na galeria de honra da música norte-americana. “Searching For Sugarman” abriu festivais de cinema, integrou o alinhamento de alguns festivais de música europeus e originou um álbum novo com base na banda sonora do documento imagético (em baixo o filme completo):



A busca terminou, “Sugar Man” encontrou um lugar na História, assim como na história desta retro-mania. Primeira do alinhamento de Cold Fact, mas nunca última, “Sugar Man” fecha esta deambulação por uma das personagens mais fascinantes do glossário musical norte-americano, Sixto Rodríguez o, finalmente, Sugar Man…

Fernando Gon莽alves
f.guimaraesgoncalves@gmail.com

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