RETRO MANÍA
Expressway to your Skullflower
· 11 Out 2013 · 10:21 ·
O algodão nos ouvidos não engana: é noise.


Portugal vai ter uma visita do outro mundo. Os Skullflower. Os verdadeiros Flor Caveira (perdoem-me, malta da editora). Os discípulos em terras de Sua Majestade das viagens ao centro da Terra dos Swans do início; os contemporâneos dos Godflesh com quem fizeram uma mítica digressão e cujo Justin Broadrick, além de fã confesso, lhes editou alguns discos no seu selo hEADdIRT; irmãos transantlânticos dos melhores Melvins de sempre, aqueles de fins de oitenta, meados de noventa; o espelho embaciado da ressaca inglesa das experimentações noise dos Nurse With Wound, Whitehouse, Pure, Coil, Hototogisu, Sunroof!, Total, tudo lendas sónicas em que os seus membros participaram.

Esse caldeirão temporal de influências abriu com a chave de ouro (ou será de chumbo?) os portões sonoros a IIIrd Gatekeeper, de 1992, um verdadeiro clássico parte de uma lista imensa de clássicos. Uma demonstração psicadélica de força, antes de fases ainda mais “anoisificadas” no seu caminho trilhado até aos dias de hoje. Em IIIrd Gatekeeper, os portões abriam-se para entrarmos no mundo perdido dos japoneses Les Rallizes Denudés e Fushitsusha, mas a alma estava ainda entre os Black Sabbath e os Swans, versão instrumental, das suas raízes de fins de oitenta. Os Godflesh são claros parentes, mas aqui é tudo mais denso, pesado, visceral-arrastado, o metálico e o industrial são mais cabeça cheia prestes a explodir. Há quem diga que sem os Skullflower não teria havido Earth ou Sunn O))). Compreensível. O ritmo marcial, naquela lentidão que ao mesmo tempo parece o "metal-que-não-é-metal" dos Swans, emprega mais calmantes para a dor. Heavy Metal em câmara lenta. Free drone stoner sem as letras do Gira mas provavelmente mais uma tonelada de noise em cima para compensar.

Três anos mais tarde, em Carved Into Roses, as guitarras Fushitsushizam-se, a percussão tribaliza-se, à procura do ritual quando não é omissa nos décibeis exagerados da fábrica feedback de explosivos. As guitarras cortam como diamantes brutos em atmosferas densas de largos minutos, com o fuzz a ladrar como cães vadios nas nossas cabeças. Como se os esquizohippies orgásmicos dos Cromagnon da ESP se tornassem numa orquestra desorientada pelo maestro Keiji Haino. Já em Infinityland, também de 1995, a música cai carregada de explosivos, com bateria a sério diria um baterista, onde a velocidade muda, torna-se mais perigosa, as guitarras acompanham-na, numa vertigem sónica e psicadélica que faz uns Bardo Pond soarem a meninos de coro. É pós-pós-rock, Godspeed You Black Emperor! sem paragens, um TGV desvairado com Keiji Haino agora a maquinista. Aliás Matthew Bower como maquinista, o atual sobrevivente desta máquina pesada, que agora na companhia da violinista Samantha Davies promete continuar a celebração metalúrgica no local certo: Barreiro, Pavilhão do G. D. Ferroviários, OUT.FEST, sábado, 12 de Outubro.









Nuno Leal
nunleal@gmail.com

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