RETRO MANÍA
MY BLOODY VALENTES EXEMPLOS
· 11 Fev 2013 · 15:00 ·
Fender Jaguar, Jazzmaster, tremolo, glide, shimmer, layer, layer, Yamaha SPX 90, reverse reverb, loop, loop, layer ad infinitum, patente do rei D. Kevin Shields I, o Influenciador e sua côrte de derivações influenciadas.


Atenção, escrevo segundo a antiga ortografia e com ela reconheço o óbvio: Kevin Shields não veio do nada, do abstracto. Glenn Branca, Lee Ranaldo, Robin Guthrie deram-lhe pistas e Kevin fez algo muito difícil: encontrou o seu caminho próprio até ao tesouro, à fórmula mágica. Qual Kubrick da música, Kevin Shields e companhia provaram ao mundo que vale a pena esperar, nem que sejam duas décadas, para poder ouvir um digno sucessor de um dos discos mais essenciais da história da música humana e alienígena (aliás dois, Isn’t Anything? também o é).
Agora no abono da verdade podemos sempre perguntar se eles fossem já no 6º, 8º ou até 10º álbum como seria hoje o seu som, no que teriam dado as suas experimentações? O engraçado é que com o interregno e a quantidade absurdamente compreensível de músicos fãs dos MBV, abundam na história musical muitos exemplos quase-quase Shieldescos que alimentaram o bichinho do tal “como seria, se” antes do tão-esperado MBV . Um salto em frente entre duas margens ligadas por uma ponte feita pelo tempo e que estamos sempre a tempo de voltar a atravessar de um lado para o outro, até porque se o fizermos, o caminho vai dar a temas como “In Another Way”, “Wonder 2”, “If I Am” e “Nothing Is”. Vamos aos valentes (aposto que terei esquecido de alguns).

Third Eye Foundation. Sobretudo em Semtex de 1996, o britânico Matt Elliot repensou os MBV como que se o baterista Colm Ó Ciosóig tivesse uma versão Cyber Ó Ciosóig a rebentar todas as costuras do ouvido interno já operado. “Wonder 2” segue daqui.





Seefeel. Sempre se falou que o terceiro MBV seria muito mais electrónico, dançável. Culpa de Loveless acabar com “Soon”. Em 1993 uns ingleses seminais - um deles Mark Van Hoen, senhor de um dos melhores discos de 2012 – abriram a porta de “Soon” e entraram onde ninguém tinha entrado, num espaço muito próprio, onde iluminam com um forte sol dub a sombra dos MBV. Estes nem os próprios MBV apanharam ainda, talvez o quarto disco daqui a 20 anos.





Bowery Electric. 1996, álbum Beat>/i> e eis “Soon” por todos os lados. Lawrence Chandler e Martha Schwendener, dois americanos apaixonados pela química noise-Bilinda Butcher, neste caso Martha, tudo num prisma mais trip-hop. Facto: Chandler que tinha estudado com nomes como Pauline Oliveros ou La Monte Young, chegou a colaborar com Kevin, ao participar com ele e outros grandes como Sonic Boom e Eddie Prévost, nos E.A.R., Experimental Audio Research.



Lovesliescrushing. O fã nº 1, Scott Cortez. Aliado à voz angelical de Melissa Arpin-Duimstra, a química sexual do som dos MBV é amplificada, em territórios ainda mais etéreos e ambientais, desde 1992 até hoje. “Wash layers, wash wash”, Cortez também tem os seus segredos, guardados com ele num estúdio algures no Arizona.





Astrobrite. Scott Cortez outra vez. Aqui mais directo na colagem, desde 94, entre alguns hiatos e os dias de hoje, imperial na forma como o ruído ronca quase industrial e chega à melodia pura. Muito cópia, mas muito boa cópia.





The Ecstasy of St. Theresa. Os MBV chegaram à República Checa ainda mal recomposta do fim da Cortina de Ferro. Nos seus primórdios, em míticos EP’s, arrancavam melodias brutais, respondendo em inglês com sotaque checo à pergunta do primeiro álbum dos MBV.





Lilys ou como os E.U.A. amam os MBV. Depois da British Invasion, houve uma má Irish Invasion nos oitentas com os U2 e uma boa nos noventas com já sabem quem. Por todos os cantos dos States surgiram bandas clones, umas melhores, outras piores. Estes eram das melhores, tendo sido convidados pelos próprios MBV para tocar nas suas primeiras partes nos E.U.A em 2009.



The Swirlies. Idem idem a tudo escrito em cima (excepto a parte dos concertos).



Fennesz. O austríaco tinha que aqui estar. Entre muitos ambientes que nos proporciona, é inegável a queda para o tal “como podia ser, se” os My Bloody Valentine entrassem na electrónica a fundo. Como podia ser se os layers ganhassem vida própria para além das canções.



Nuno Leal
nunleal@gmail.com

Parceiros