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Baleia Baleia Baleia
Salvem as baleias


Encontramos Manuel Molarinho em Lisboa, felizmente com sol, já depois de o termos encontrado no Porto ou em Braga ou em tantas outras localidades, com maior ou menor grau de embriaguez. Desta vez não houve tempo para a bebedeira, mas sim para uma conversa sobre Baleia Baleia Baleia, o seu novo projecto com o baterista Ricardo Cabral, pop/rock para dançar e pensar as letras.

E houve, sobretudo, tempo para o surpreender com o nosso fantástico know-how de coisas que ele nem sabia que estavam cá fora. Chamem-lhe jornalismo de investigação. Eis a transcrição de uma conversa que, como não poderia deixar de ser, começou ao som de "As Baleias", do grande Roberto Carlos.
Fazes ideia do que isto é?

Não, nem consegui perceber muito bem...

"As Baleias", do Roberto Carlos.

Hahahahaha.

Quanto do Roberto Carlos é que cabe neste disco?

Opá... Não sei se cabe muito do Roberto Carlos, mas já fiz muitas viagens com o Ricardo a ouvir Erasmo Carlos...

É quase o mesmo, mas não é bem: só têm em comum o apelido. Nem sequer são parentes...

Eu sei...

Há quanto tempo é que tu e o Ricardo se conhecem? Como nasceu esta banda?

Nós conhecemo-nos em 2014, se não me engano, quando eu fui convidado para tocar no ZigurFest enquanto O Manipulador. Conheci o Ricardo e toda a gente da ZigurArtists, na altura. Começámos a trabalhar juntos, etc., o Ricardo tinha uma sala de ensaios - e ainda tem: o Quarto Escuro, no Porto, em Cedofeita -, e volta e meia convidava-me para fazer umas jams. Começámos a perceber que nos dávamos bem juntos, que curtíamos tocar juntos, e que tínhamos mais tempo que os outros, hahaha. As jams passaram a ser músicas e fizemos uma banda à volta disso.

Cantar em português foi algo planeado à partida?

Não. Tenho uma noção de que as bandas funcionam um bocadinho como entidades, que ganham uma espécie de vontade própria. E a partir da altura em que começas a perceber qual é que é a identidade [da entidade], e funcionas não como construtor mas mais como o veículo dessa entidade, aparecem-te as suas características. Nesta banda foi um bocadinho assim: apareceram os riffs primeiro, e quando começaram a aparecer as vozes só fez sentido quando se cantou em português. A partir daí, foram todas [em português].

Daza Cominatcha, uma das primeiras bandas de Manuel Molarinho. Cantavam em inglês.

Tendo em conta esta foto, passar do inglês para o português foi fácil?

Eiiii, que baú... Epá, continuo a cantar em inglês noutras bandas. E tenho uma banda antes dessa onde cantávamos em português, em francês, em alemão, em línguas inventadas... A língua para mim não é uma questão, muito honestamente. A língua nunca é ou nunca vai ser uma questão. A sociedade tem regras, e há algumas que convém mesmo cumprir; a arte, não. Não entro nessas lutas, não acho que seja melhor [cantar] numa coisa ou noutra. Acho que as pessoas que estão dentro dos projectos é que sabem o que se adequa mais.

Esta é uma de várias entrevistas que vais dar sobre Baleia Baleia Baleia. Quantas delas é que foram por telefone?

[Visivelmente confuso] Até agora, nenhuma...

Não foi nenhuma, porque sofres de ansiedade quando falas ao telefone sentado?

[Ainda mais confuso] ...Onde é que foram buscar a da ansiedade quando estou a falar ao telefone? Mas é verdade... Tenho uma ansiedade extrema quando falo ao telefone! Mas [não ter dado nenhuma entrevista ao telefone] não foi premeditado, foi um bocado fruto do acaso...

É uma ansiedade que também sentes quando sobes a um palco?

Olha, cada vez mais raramente, porque tenho dado muitos concertos. Agora, quase que anseio por essa ansiedade... Se bem que quando a banda [em que toco] é mais inexperiente... Por exemplo, Baleia Baleia Baleia já deu vinte concertos; com outros projectos dei muitos mais. Aqui sinto mais esse nervoso miudinho. Pá, vou sempre sentindo. Porque isso também é o que nos faz gostar do que fazemos, de gostar dos palcos; também é essa coisinha, esse nervosismo, esse bicho-carpinteiro.

Tendo em conta que muitas das letras deste disco são críticas mais ou menos directas à forma como estamos cada vez mais dependentes das tecnologias, achas que esta tua ansiedade poderá ter influenciado - mesmo que inconscientemente - o teu processo criativo?

Não sei. Sou um jovem um bocadinho mais velho que os jovens desta geração, mas faço parte do grupo dos millenials. Acho que não tem a ver propriamente com ansiedade, mas mais com uma inquietação, a mesma de que o José Mário Branco fala e que já existe desde o tempo dele; as coisas não mudaram assim tanto. As críticas [no disco] são directas mas não me excluo delas, faço parte disso. Divirto-me um bocadinho a falar sobre as coisas que critico. Ou não critico...

Sim, o disco também tem uma carga humorística.

Sim, divertimo-nos em todas as vertentes do disco: a escrever as letras, a compor, na mistura... Acho que não nos queremos levar demasiado a sério, mas também acho que não nos estamos a cagar. Estamos algures ali no meio.

Uma espécie de área cinzenta...

Uma área cinzenta gigantesca... Virados para o lado mais descomplexado dentro daquela metade mais complexada dessa área cinzenta.



Pegando especificamente na "Quero Ser Um Ecrã", o que te parece que se tem perdido nas relações entre as pessoas, com as novas tecnologias?

Acho que sempre tivemos coisas que nos distraíssem. Há atropelamentos de pessoas que estão a olhar para o telemóvel, há pessoas que atropelam outras porque estão a falar ao telemóvel, e é óbvio que a dependência da tecnologia... Há tempos li um estudo sobre isso - o receberes notificações [no telemóvel], receberes uma resposta no mundo interactivo, digital, funciona no teu cérebro um bocadinho como uma droga, como o açúcar, como um estímulo...
Isso também a música.

Hahahaha. Acho que é óbvio que estamos aqui num ponto risível da coisa. Exageramos bastante. Perdes umas coisas, ganhas outras. Faz falta, por vezes, conversarmos e estarmos mais juntos de facto - sobretudo no que toca à construção de projectos em conjunto, que sejam duradouros. É preciso que as pessoas se unam mais.

Quer isso dizer que não vão começar a fazer como o Jack White e banir os smartphones dos vossos concertos...

Não, porque às vezes ninguém filma e ter esses registos dá jeito...

Seriam capazes de jogar à Baleia Azul? Também é um sintoma de vício em novas tecnologias...

Precisava de conhecer um bocadinho mais a fundo esse dilema do mundo moderno...

Putos a cortarem-se e a suicidarem-se porque foram desafiados a fazê-lo...

Acho que qualquer exercício que seja fazer uma coisa porque te mandam não inspira muita confiança... Mas nunca digas nunca.

Como é que alguém como tu, formado em Direito, acaba no rock n' roll?

Foda-se, como é que tu sabes que eu sou formado em Direito?

É o meu trabalho.

Ok, mas apanhaste-me bêbado...

Hahahahah.

Pá, acabei formado em Direito como poderia ter acabado formado em Agronomia. O curso, no meu caso, não teve nada a ver. Fi-lo porque hoje em dia o ensino obrigatório, em certa medida, já não é o 12º ano - é a universidade. Tenho alguma facilidade em estudar, portanto acabei o curso. Nunca gostei...

Não planeias seguir carreira em Direito?

Não, nada.

E não achas que essa formação em Direito vai dar jeito quando os Led Zeppelin, inevitavelmente, vos processarem por causa da "Buéda Amor Para Dar"?

Hahaha. "Inevitavelmente processado" deixa-me um bocado mais preocupado... Vou acreditar que eles têm sentido de humor.

Como é que olhas para esta questão do plágio, dentro da música actual? Fala-se da Isaura, falou-se do Diogo Piçarra...

É assim: acho muita pouca coisa. Acho que, na maior parte das vezes, os casos em que se acusa alguém de plágio não são plágio. No caso do Diogo Piçarra, creio mais que ele poderá ter ficado envergonhado por ter uma música parecida com uma música evangélica do que propriamente por a ter plagiado... Acho que isso não faz sentido nenhum. No caso da Isaura, nem sei do que se fala...

Consta que a "O Jardim" é parecida à "To Build A Home", dos Cinematic Orchestra.

Ok, tenho que ir ouvir essa música outra vez... Felizmente, o que mais ouvi na minha vida foi "a tua música não soa a nada!" do que "a tua música soa mesmo a isto!", hahaha. Acho que é fixe encontrarmos a nossa personalidade e a nossa identidade nas coisas que fazemos. Acho que é o que a maior parte das pessoas faz. Eu não acredito sequer em direitos de autor, são uma pequena aberração do mundo, mas percebo que existam, porque lá estão. É um bocado complicado estar a dar uma opinião [sobre isto]... Tenho uma opinião - e bastante formada - mas hoje não me apetece falar do assunto.

Hahahahaha. Mas é engraçado que tenhas referido essa do "a tua música não soa a nada!", porque no Mesa de Mistura comparou-se a sonoridade de Baleia Baleia Baleia à dos Death From Above 1979. Eu pessoalmente vi ali mais Smix Smox Smux... São referências?

Death From Above 1979 é uma referência. No sentido em que gosto da banda...

E porque também é uma banda de baixo e bateria.

Exacto. As bandas que são de baixo e bateria também não são assim tantas... No caso dos Smix Smox Smux, és a segunda pessoa que me fala disso...

É mais pela carga humorística das letras do que propriamente pela sonoridade.

Eu conheço o [Filipe] Palas [vocalista dos Smix Smox Smux], e falei-lhe disso... Eu sei que ele era de Smix Smox Smux, mas eu nunca ouvi a banda! E disse-lhe, "olha, compararam a nossa banda à tua" - na altura, era para tentar tocar no Sé La Vie [em Braga, e onde Filipe Palas é gerente], mas não resultou - ele nunca me respondeu...

© Hugo Adelino

Ainda bem que já chegámos a Braga. A melhor francesinha do mundo é mesmo a da Taberna Belga?

Para mim é, sabes? Mas eu tenho uma razão específica. O molho é uma mistura do molho da francesinha normal com o molho do Snob, um restaurante-bar daqui [Lisboa] ao qual ia quando era bué de puto, com os meus pais, naqueles dias em que podia ser um bocadinho "adulto" e jantar às 11 da noite, beber ginger ale com gelo e limão... E isso traz ao de cima uma memória de infância que não tem como não me deixar feliz.

Sendo músico, é fácil para ti arranjar mesa na Taberna Belga?

Hahaha. Sendo músico, tenho facilidade em ir durante a semana. Por isso, sim.

No teu perfil no Facebook, escreveste "já não sei se sei ser punk até ao osso". É desse desejo de agitação que nasce a música não só de Baleia Baleia Baleia, mas de todos os teus outros projectos?

Acho que a música é a tradução da tal ansiedade que temos dentro de nós, em algo que não seja auto-destruição. Ou a destruição de outras coisas. Tenho qualquer coisa para dizer; e a música é-o. Seja em que formato for. É a forma que tenho de trazer as coisas cá para fora. O punk é super importante para mim, porque foi assim que comecei.

O que é, para ti, uma atitude punk?

É uma pergunta que, sempre que alguém a responde, é impossível não meter um bocadinho os pés pelas mãos.

Pode ser qualquer coisa, não é?

Sim, mas a atitude punk é, para mim, fazer a música como sempre a fiz e como sempre olhei para ela. E tem a ver com isto: sou eu, um conjunto de pessoas (ou não), divertirmo-nos, fazermos o que nos apetece, dizer mais vezes "porque não?" do que "porque sim!", não termos merdas... Se temos verdadeiramente algo a dizer, digamo-lo. Por muito que ofenda ou que chateie. Por muito que te arrependas.

Dançar em cima do balcão do antigo Canhoto, ao som de Gin Party Soundsystem, é uma atitude punk?

Como não?

Hahahaha. Mudando de assunto. Na "Interdependência" cantas assim: "só preciso de alguém que tenha paciência para ouvir esta merda toda até ao fim". Quão difícil é, para um projecto novo, fazer com que alguém os ouça, tendo em conta a quantidade de música nova que nasce todos os dias?

Muito difícil. Esta banda, de todas as que tenho, gera interesse; as pessoas ouvem-na. Mas o "ouvir", para mim, não é isto; eu sou do tempo dos álbuns. "Ouvir" é eu ouvir uma coisa uma vez, duas vezes, em diferentes ambientes. Procurar relacionar-me, de certa forma, com o que foi feito. E hoje em dia isso é complicado porque há muita coisa, e chega-nos muita coisa, e a diversidade também é uma tentação maldita; queremos consumir tudo, por muito que esse consumo seja de forma superficial. [De repente, um camião do lixo invade a rua com um som desgraçado.] O som do lixo, enquanto eu falo, é uma metáfora bonita, hahahaha. Quando estamos a falar de meios que te podem ajudar a divulgar [o teu trabalho], ainda se torna mais complicado, porque acho que à medida que se multiplicam os projectos musicais e artísticos diminuem os agentes culturais que estão aí para os divulgar, ou que têm as condições para o fazer.

Nessa situação, editoras como a ZigurArtists, que separam o trigo do joio, podem ajudar?

Neste caso, ainda bem que está aqui o António [Cardoso, da ZigurArtists] comigo, porque é como te dizia antes de começarmos esta conversa: eu quase que agradeço em forma de reza de cada vez que alguém me dá atenção para eu falar sobre aquilo que quero partilhar, que é a minha música. E o António tem feito um trabalho incansável, fruto da aproximação que temos por isto ser um colectivo artístico, uma associação e uma netlabel pequena. Bem, já não é bem netlabel, porque agora tem edições físicas; eu é que me habituei a dizê-lo. E é ele quem tem feito os contactos todos, as aproximações todas, as insistências, para que possa ser dado um bocadinho mais de atenção à música que estamos a fazer.

Quem é que fez as vozes na "Polícia Do Bom Gosto"?

Fui eu que fiz todas.

Como foi a vossa interacção em estúdio, enquanto gravavam o álbum?

Foi incrível! Adorei, adorei mesmo. Porque nós temos pequenas clivagens, mas todas do ponto de vista estético; queremos seguir aquele que é o melhor caminho para os dois mas temos visões, em certas coisas, que são diferentes. A "Polícia Do Bom Gosto" foi óptima, porque era a única música que tínhamos que nunca havíamos sequer ensaiado! Tínhamos um draft, nem sequer tinha uma linha de voz, e foi construída no estúdio. Acabou por ser quase uma história em quatro partes, com personagens, várias vozes... Foi como que o exemplo daquilo que foi o trabalho de estúdio: muito diálogo entre mim e o Ricardo, muita tentativa, muito erro, muitas ideias parvas em que algumas resultam e outras não - e resultam porque são parvas... Foi fixe!



Tendo isso em conta, serias capaz de dar voz a filmes de animação?

Pá, adorava!

Até pelo teu background enquanto participante na Rua Sésamo.

Atenção: participante no genérico da Rua Sésamo. Ganhei aquela corrida, mas não conheci o Poupas.

Hahahaha! É chato não ter conhecido o Poupas?

Pá, nem sabia que estava a ser filmado para o genérico da Rua Sésamo! Isso hoje seria um problema gravíssimo... Eram outros tempos. Isso foi só um dia divertido, em que revi um amigo que já não via há uns tempos... Mas adorava fazer vozes para filmes de animação. Na realidade, o mundo das dobragens sempre me fascinou. Ainda por cima, o [Pedro] Pestana [guitarrista de 10 000 Russos, Tren GO! Soundsystem] trabalhava num estúdio onde se faziam dobragens e divertia-se como o caraças a fazer cenas para a Cartoon Network! [Sussurra] Se estiver por aí alguém...

E um disco para crianças?

Uma vez ensaiei um disco para crianças, mas era um disco para destruir completamente a possibilidade das crianças serem felizes...

Hahahahaha! Isso é uma atitude punk...

...É uma atitude se calhar preocupante, mas pronto... Acabei por não levar esse projecto para a frente, não me lembro exactamente porquê. Não sou contra a ideia de fazer um álbum para crianças - se me pedirem para fazer um álbum tabulado para crianças, para uma Tucha qualquer bater palmas enquanto elas cantam, não me apetece...

"Sacaplicação": Que aplicações é que tu tens no telemóvel?

Epá, pouquíssimas... Agora tenho o MB Way - tem dado jeito, hahaha. Tenho os GPSs, importantíssimos... Até posso ver num instante. [saca do telemóvel] São mesmo poucas, meu. Aquelas coisas normais, Gmail, Facebook, o tempo - porque já tenho dores nos joelhos quando fica muita chuva -, Whatsapp, Instagram, um leitor de QR Code que usei uma vez... e é isso.

Que histórias guardam do ZigurFest que nunca contaram a ninguém?

Tendo em conta que sabes muita coisa sobre mim começo a achar que sou um fala-barato, mas... Que nunca contei a ninguém? Deixa lá ver se posso contar...

O que se passa no ZigurFest fica no ZigurFest?

Pois, porque às vezes não te lembras do que se passou no dia seguinte, hahahaha. Mas há muitas histórias, que eu acho que contadas não têm o mesmo impacto que teve em quem esteve lá a vivê-las. E não vou desmistificá-las nem torná-las melhores do que aquilo que são, porque aquele festival é mesmo muito especial para mim. É uma honra, verdadeira e muito grande, participar naquele que eu considero ser um dos melhores festivais do país. A primeira vez que lá fui não estava ainda a trabalhar com [a ZigurArtists]; só comecei a fazê-lo depois. É, mesmo, das coisas melhor organizadas e feitas com mais amor que eu conheço. Não vou contar [essas histórias], não quero diminuir [o festival]; quero que as pessoas lá vão e tenham essa experiência.



Infelizmente, o Ricardo não pôde estar hoje connosco. Quão fodido é que achas que ele ficava se eu mencionasse o passado dele na música pimba?

Hahahahahahahaha! O Ricardo trabalha a sério, tem um emprego, não teve hipótese de vir a Lisboa comigo - trabalha no Rivoli, no Porto, como técnico de som... E estou a fugir, hahaha. Na realidade, o facto de ele ter feito música pimba - e ele tem muita, muita, muita abertura em relação a isso, não está nada preocupado... Ele curtia tocá-la, e na altura...

Dá dinheiro.

Não sei se foi por isso, se foi propriamente por isso. Ele queria tocar. Era baterista; nem sei se começou por sê-lo nessa banda. E aquilo era uma oportunidade para tocar, de aprender um instrumento novo, explorá-lo de certa forma. E ele diz que se bebia muito vinho... Ele era bué de puto, lá está, tinha dinheiro do qual não estava à espera, e eu acho que há um lado festivo na nossa música que é tão influenciado pela presença do Ricardo numa banda pimba, como por mim, quando era puto, a ouvir o Veneno dos Peste & Sida e "As Torres Da Cinciberlândia" dos Xutos & Pontapés. São pequenas coisas da nossa infância, ou do nosso passado, que trazemos sem qualquer tipo de pudor. Até a Rádio Cidade; ouvi-a durante imensos anos...

Quem não?

Há pessoal que não, que diz que com 12 anos era viciado em Pink Floyd... Eu não era assim, demorei muito tempo até perceber que gostava de outro tipo de música, e ouvi muita porcaria. Mas trago muito daquela alegria mesmo infantil de ouvir música para esta banda.

Já pensaram em convidar a Inês Castel-Branco para o vosso próximo vídeo?

Essa foi a que nos fotografou no Maus Hábitos?

Ya.

Sou mau com celebridades, desculpa...

Nesse caso, posso passar para a última pergunta: caso Baleia Baleia Baleia alcance um sucesso gigantesco, a primeira coisa que vais fazer é?...

O que é que é um sucesso gigantesco?

Fica ao teu critério. Imagina que começas a receber imenso dinheiro com os cachets de Baleia Baleia Baleia. Qual é a primeira coisa que compras?

Ah, que eu compro. Ok.

Podemos falar em termos consumistas ou de outra forma. Mas podemos ficar por aqui: qual é a primeira coisa que compras?

[silêncio absoluto]

Quererás dizer "uma máquina de lavar roupa", para já não teres de ir à Urban Wash de Cedofeita?

Já não vou à Urban Wash...

Não? Então enganaram-me...

Isso é um mito! Eu mudei-me... Ou é a Urban Wash? Eu agora vou àquela na Rua da Boavista... Mas não, meu, eu detesto máquinas de lavar! Desde o Seinfeld que tenho a cena de o pessoal se reunir numa lavandaria e conversar. Acho que não faz sentido, num prédio inteiro, cada um ter a sua máquina de lavar! Devia haver um espaço comum...

Portanto: as lavandarias são os novos tascos...

Sim! E falta uma lavandaria que sirva café, meu! A única oportunidade de negócio que eu vi, que era boa - eu não tenho jeito para negócios... -, era isso. Uma lavandaria que era café.

Lá está; se ganhares muito dinheiro com Baleia Baleia Baleia podes abrir esse negócio...

Se eu ganhar muito dinheiro com Baleia Baleia Baleia vou abrir um negócio? Eu vou é reformar-me, passear... Isso não faz sentido. Trabalhar não é muito fixe, meu.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
20/03/2018