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Sabre
Tigre-dentes-de


Tudo começou com algumas remisturas, de gente como Nightcrawlers e Talking Heads. Não, isso não deve estar correcto: tudo começou há muito tempo atrás, com os Osso ou com os Olive Troops SOS. Na realidade, que importa saber como começou? O que importa é o agora. E o "agora" diz-nos que a música dos Sabre, dupla formada por Bruno Silva e Carlos Nascimento, é das coisas mais vitais da música electrónica de dança feita em Portugal - não que o nacionalismo conte para muita coisa. Há dois anos sem lançamentos - o último foi Morning Worship, em 2015 - os Sabre estão já a preparar música nova, a poucas horas de subirem ao palco do Gnration, em Braga, onde actuarão como parte do cartaz deste ano do Semibreve. Antes disso, também nos responderam a algumas questões semibreves.
Que têm andado a fazer desde que lançaram o Morning Worship? O que aprenderam de novo desde que começaram com Sabre?

Bruno Silva: Temos andado a trabalhar com uma calma abençoada e parcimoniosa em novas feras - falta de tempo/espaço mental com a vida pelo caminho - que começam a ganhar a lógica interna e necessária para que sejam dois ou três novos lançamentos. Um deles para um futuro relativamente próximo. Aprendemos a viver enquanto Sabre com essa mesma calma poeirenta dos dias.

Ainda não editaram um LP. Tem mais a ver com o facto de fazerem música electrónica/de dança, que tradicionalmente não se baseia tanto em álbuns como em singles, com o panorama actual em que as playlists predominam sobre o formato álbum ou porque, pura e simplesmente, tal ainda não se concretizou por falta de tempo e/ou balanço criativo?

BS: Os EP/Maxi fazem parte de todo um processo natural nestas coisas - normas clubbing mais ou menos orgânicas? - e permitem conseguir chegar a diferentes orientações de uma forma mais libertadora e respirada. Levamos algum tempo até ficarmos satisfeitos com uma determinada fera e mesmo tendo esse tempo e/ou balanço criativo, chegar a um álbum implica toda uma conjuntura espaço-temporal e uma visão francamente definida e clara. Não interessa assim tanto estar a cagar malhas aleatórias e reunir aquilo num disco longo sem grande planeamento. Essas definições são também pouco importantes para nós - onde acaba um EP e começa um álbum? Aos 40 minutos? Isso faz algum sentido? - mas está latente a ideia de algo mais "caro" para um futuro. Talvez.



Falando em playlists, o que caberia na vossa playlist perfeita?

BS: Demasiado e mesmo assim nunca chegando à perfeição. Seria entrar pelo namedropping infinito, mas teria Coltrane e Can.

Sendo grandes fãs de pop e r&b, qual a vossa opinião sobre aquilo que se produz actualmente?

Carlos Nascimento: Metade acha que o ratio está francamente longe de ser satisfatório, pelo menos no que diz respeito a tudo aquilo que tem sido dominante. A outra tem estado demasiado alienada em tempos recentes para poder dizer com alguma consistência, mas ainda assim vai ficando fascinada com aquela meia dúzia de coisas necessárias - Kehlani, Little Big Town, a vivacidade de algum reggaeton e aquele número saudável de dancehall.

São um dos destaques do Semibreve, em Braga. O que é que se poderá esperar do vosso set?

BS: Uma maior libertação e fogo.

Tocar em festivais, como o Semibreve ou o Lisboa Electrónica, obrigam-vos a planear o set de forma diferente daquilo que acontece em concertos em nome próprio?

BS: Hm, existe sempre aquele contexto que se revela em questões logísticas e de alinhamento que influenciam mais ou menos a direcção de um concerto, mas tentamos que isso não seja muito determinante. A questão do concerto em nome próprio vs. festival sente-se principalmente no tempo que tens para preparar o set no local - nos festivais costuma ser mais limitado - mas acaba por ser mais importante a própria sala e a vibração humana desse dia. Na verdade, não tocamos assim tanto quanto isso, e cada concerto tem a sua pulsação própria.

Também irão tocar na festa de aniversário da Extended Records, no Lux. Como surgiu esta relação com a editora? O que acham que a Extended trouxe à "cena" portuguesa, tanto a mais focada na música electrónica como a geral?

CN: É uma relação bem saudável e já com algum tempo - aquando de um convite para uma festa no LX Faktory - e que tem sido sedimentada a seu tempo com um enorme respeito comum. Desde sempre foram extremamente supportive para com a nossa música e para com eles só temos o nosso maior carinho.

Das mortes recentes no mundo da música, a do Holger Czukay foi a que vos bateu mais?

BS: Foi?
CN: Foi.



No Morning Worship têm um tema baseado/inspirado num tema do mítico Streets Of Rage. É, ainda hoje, a melhor OST de sempre para um videojogo? Se surgisse a oportunidade, fariam vocês mesmos a banda-sonora de um jogo qualquer?

CN: Não, existem tantas outras como a do Shadow Of The Beast, Lisa, Riven, Aurora Memoria, Lost Eden, Final Fantasy e restantes cenas do Nobuo Uematsu e por aí em diante. E claro [que sim], mas isso ia depender do jogo; tipo um remake do Beneath A Steel Sky era sonho.

No ano passado, foi editado um disco de remisturas de temas vossos. Quem gostariam que pegasse nos vossos temas, no futuro?

CN: O omnipresente Carl Craig - escolha óbvia, mas... Além disso, Stellar Om Source e Jamal Moss assim de cabeça e coração. E Autechre.

Faz falta um revival das compilações da Alcântara-Mar?

BS: Faz falta um revival do espírito talvez - aquela nostalgia por tempos nunca vividos, etc. As compilações estão lindas como são.

Bruno: como é que alguém não curte marisco excepto bivalves? Carlos: qual é o mal de pôr orégãos na tosta mista?

BS: Acredita, tentei inúmeras vezes - aquele ar de felicidade meio animalesco das pessoas nas marisqueiras é contagiante - mas não consigo. Bivalves para sempre. Todos.

CN: Uma tosta mista faz-se com pão, fiambre e queijo. Simples.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
27/10/2017