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King Midas Sound
Restrições zero


Kevin Martin já anda por cá há algum tempo. Como Techno Animal, como The Bug, como muitos outros projectos e, neste caso, como King Midas Sound, ao lado do poeta Roger Robinson (natural de Trinidad) e da japonesa Kiki Hitomi. King Midas Sound, como todas as aventuras de Kevin Martin, é um local para não haver qualquer tipo de restrições sonoras ou estéticas. É, assim querem os seus elementos, um gigantesco caldeirão de experiências, o espaço para explorar infinitas possibilidades e quebrar as catalogações mais óbvias da música electrónica. A propósito da vinda de King Midas Sound ao Serralves em Festa 2013, fomos falar com Kevin Martin para perceber melhor o ADN deste projecto que se prepara para lançar novo disco em 2014.
Olhando para trás na tua carreira, Kind Midas Sound é o projecto mais exigente que criaste?

Não é o mais exigente, mas é certamente extremamente turbulento de uma boa forma, já que são três indivíduos muito distintos de três origens culturais extremamente diferentes que tentam encontrar um ponto de encontro. Por isso, garantidamente, é um grande desafio, mas também muito gratificante quando finalmente encontramos um som com o qual estamos todos felizes...

Será que de alguma maneira sentias que faltava algo no seu trabalho musical? Alguma vez sentiste que precisavas de abrir novas portas?

Não, uma vez que eu tinha explorado atmosferas profundas em Techno Animal e em Pressure , mas eu comecei parcialmente Kind Midas Sound como uma reacção à representação crescente de The Bug na imprensa como sendo apenas uma caricatura agressiva (o que nunca foi o caso)… Mas King Midas Sound começou também porque eu tinha passado por uma relação pessoal má e trabalhar com o Roger era uma forma de curar isso e seguir em frente. E eu queria continuar a trabalhar com o Roger fora de The Bug, já que tinha tanto respeito por ele como cantor, escritor, poeta, artista…

Foi difícil encontrar um som nas primeiras vezes que se reuniram para criar?

Estranhamente não, uma vez que o Roger e eu discutimos exactamente o que queríamos antes de iniciar as sessões de estúdio. Queríamos misturar o mais pesado lovers rock com drones shoegaze janados, e incorporar um ambiente puro, tenebroso. Nós queríamos criar um manifesto musical para a melancolia e queríamos abordar a perda. Basicamente queríamos criar uma banda-sonora para o desgosto, para os males de coração.



Alguma vez sentiste que o vosso som estava a divergir demasiado – até mesmo para vocês – e sentiram a necessidade de contê-lo de alguma forma? Ou os King Midas Sound são um local onde não pode haver restrições?

Nenhuma música minha pode ter alguma vez restrições de algum tipo. As restrições fazem-me sentir desconfortável. King Midas Sound é um espírito livre, o que é particularmente importante agora, uma vez que a música está tão preocupada com géneros vulgares e fórmulas de marketing de má qualidade. Nós seguimos os nossos instintos na busca de manter uma identidade totalmente individual, que reflecte os nossos gostos e interesses… É crucial para que possamos crescer como artistas. E o nosso som ao vivo actual tem ditado as mudanças de direcção, uma vez que acabamos por nos sentir decepcionados com a recriação do nosso disco de estreia nos concertos…

Como é lançar na Hyperdub Records? Sentes isso como uma grande responsabilidade, ou é exactamente o mesmo com outras editoras?

Eu tenho o maior respeito pelo Steve (Kode 9) e o gosto dele. E sinto que ele construiu uma editora incrível. Foi uma honra lançar material com o selo da Hyperdub tendo em conta que é uma das melhores editoras no Reino Unido… Mas agora mudamo-nos para a Ninja Tune...

No passado escreveste para revistas de música. Achas que é difícil alguém manter-se ao mesmo tempo nessa área e a fazer música?

Eu já não escrevo sobre música há muito muito tempo. Tenho estado totalmente imerso em fazer música durante uma grande parte da minha vida... Eu não tenho escolha, é a minha terapia... Está no meu sangue, e é uma necessidade completa... Escrever foi um exercício meditativo interessante durante um período relativamente curto. Foi uma tentativa de ganhar algum dinheiro quando a música não me estava a pagar nada…



Regressando ao assunto King Midas Sound, qual é a definição de um bom concerto para vocês? O é que podem prometer às pessoas?

Queremos "chocar, entusiasmar e surpreender", como o DJ Premier aspirava e dizia muitas vezes… A música já não está a vender, por isso é importante que deixes a tua marca nas pessoas numa sala de concertos e incentives o público a espalhar evangelicamente a palavra em teu nome... Queremos destacar-nos dos nossos contemporâneos e deixar as pessoas sentindo-se esgotadas de diversão.

Existe um novo álbum a ser lançado num futuro próximo? Já estás a trabalhar nisso?

Sim, a maioria das backing tracks estão gravadas, só temos de terminar algumas das vozes... Diria que está 70% feito... Estamos todos verdadeiramente excitados com a nossa nova direcção... É mais explosivo e, ao mesmo tempo, mais insular… Gigante e micro, antagonista e íntimo… Deverá ser lançado no início do próximo ano na Ninja Tune e devemos lançar um novo single no final deste ano...


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
07/06/2013