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El perro del mar
Disco novo, vida nova


Abriu-se um novo capítulo na vida de El Perro del Mar com o lançamento do novo disco, Pale Fire. É a própria Sarah Assbring que o confirma numa entrevista que esclarece tim-tim por tim-tim a raiz das motivações que estão por detrás do processo de criação de El perro del mar. Perdeu-se na inocência, ganhou-se na reinvenção. E de repente El Perro del Mar é outra coisa qualquer. Outra coisa que tem cada vez mais um lugar definido na música que sai da Suécia para o mundo tudo. Não se sabe se é a água, o ar ou qualquer outra substância, mas a música sueca continua a exportar música com uma velocidade fascinante. Sarah Assbring não está certa mas desconfia que seja a água. A conversa que registamos com a voz de El Perro del mar não se ficou por aqui: falamos do Milhões de Festa, da origem do nome El Perro del Mar, de Nabokov e de tudo o que ajuda a compreender a forma como Sarah Assbring construiu este mundo para viver.
O que nos podes contar acerca deste novo disco, Pale Fire? Parece um capítulo totalmente novo na vida de El Perro del Mar…

É certamente um novo capítulo. Como o é cada álbum para mim. Demorou algum tempo até deixar que o disco crescesse dentro de mim. Eu queria ter realmente a certeza que o tinha entendido correctamente, que o ataquei a partir do ângulo certo e que a forma lírica estava lá. Muitas coisas neste disco foram um pouco como o quebrar das regras e talvez até ir contra a corrente - em muitos aspectos foi como quebrar as regras que eu configurei ou a corrente na qual eu própria tenho vindo a nadar. Ir contra ti própria pode ser tão libertador e inspirador como ir contra alguém ou outra coisa qualquer. Para mim, inicialmente, este Pale Fire ia ser um disco muito sombrio e escuro, mas percebi desde muito cedo no processo que havia algo em mim que queria lutar e protestar contra isso. Então decidi deixá-lo ser as duas coisas - sombrio e brilhante, triste e esperançoso. Para além disso, o disco não só me deu uma liberdade para falar como eu queria, mas ainda me deu a liberdade para misturar todos os tipos de inspiração musical dentro desse cenário.

Foi difícil para ti encontrar esta nova linguagem para este disco? O que é mais difícil para ti quando começar a escrever música nova para um novo disco?

Foi definitivamente mais difícil com este álbum. Escrever letras é uma coisa muito delicada para mim. Eu preciso de ter a certeza que cada palavra se encaixa dentro do "enquadramento estético" do disco. É um processo de tentativa e erro no final, tentar palavras e frases, enchê-las de harmonias e dar-lhes a minha voz. É um processo muito demorado. E especialmente com este álbum uma vez que queria ser capaz de dizer mais e algo mais do nos meus álbuns anteriores.



Com estas mudanças no som e na linguagem, algumas vezes ficas preocupada com a possibilidade de alienares o teu público? Ou achas que eles se habituam se os preparares convenientemente?

Para ser honesta, eu não penso realmente no público ao fazer um álbum. Eu preciso apenas de seguir com a minha ideia e visão e já é suficientemente problemático seguir com isso. No entanto, eu tenho, algures dentro de mim, uma espécie de fé no meu público, uma esperança que, apesar de todas as mudanças pelas quais eu possa passar, eles possam sempre identificar essa base que é El Perro Del Mar - que é a minha voz e as minhas letras e, no final de contas, eu própria.

Pale Fire, o teu ultimo disco, tem o mesmo título de um romance de Vladimir Nabokov. Roubaste o nome do livro dele?

Na verdade não. As palavras só vieram a a mim quando eu estava a trabalhar na canção “Pale Fire”. Já tinha obviamente ouvido falar do romance antes e acho que o título apareceu numa espécie de forma subliminar. Eu ainda não li o romance por isso coloquei-o na minha lista de coisas a fazer antes de este ano acabar.



Quando tiveste pela primeira vez a certeza que El Perro del Mar seria um emprego a tempo inteiro para ti? É possível identificar o momento em que tudo começou a ficar realmente sério?

Acho que foi mais ou menos na altura em que fiz o meu segundo álbum, From The Valley To The Stars. Eu tinha um emprego em part-time tempo parcial na principal sala de concertos de Gotemburgo do qual gostava realmente mas as digressões começaram a retirar-me cada vez mais tempo e tive de desistir. De certa forma sinto falta de ter um trabalho mais regular ao longo do tempo. Dá-me uma ligação com um mundo mais real e torna-te mais certo da importância do teu trabalho como artista e músico. Eu acho que essa dinâmica serve um bom propósito do qual eu sinto falta por vezes.

Voltando atrás, o que é que te lembras dos tempos em que gravavas para a Hybris? Esses dias foram importantes para ti em termos de auto-descoberta e definição da tua persona musical?

Eu lembro-me que tinha uma ideia muito clara do que queria para El Perro Del Mar e que a Hybris me deu as rédeas para fazer apenas isso. A liberdade do DIY foi muito importante para mim na altura de fundar El Perro Del Mar e estava muito relutante em desistir disso. A Hybris estava a meio caminho entre uma editora propriamente dita e um selo DIY por isso a combinação era belíssima. Como tudo progrediu naquela altura, vi-me forçada a abrir mão de alguns princípios, tanto por necessidade e como por uma questão prática, e sim, aprendi muito durante esses tempos. Às vezes com lições dolorosas, mas de uma forma geral acho que tenho crescido com isso.

Existe alguma coisa no ar ou na água que explique a quantidade de bandas pop que o país tem exportado nos últimos anos? Tens alguma explicação possível para tudo isto?

Aparentemente, é suposto termos água particularmente boa na Suécia, por isso começo a pensar que poderá ter algo a ver com isso. Quero dizer, que outra explicação poderia haver? Knackebröd? Os invernos escuros? Alcaçuz salgado? A herança social-democrata? Não, eu diria que a água é responsável.

Ouves muita música hoje em dia? Ou és uma consumidora moderada de música?

Eu diria que sou uma consumidora moderada de música. Eu vivo com uma pessoa que ouve muita música e por isso faço muitas das minhas descobertas através dele. Eu sou mais uma espécie de ouvinte conservadora - tenho os meus artistas favoritos e álbuns aos quais fico colada mas às vezes descubro alguma coisa nova pela qual fico obcecada. Não sou o tipo de pessoa que anda atrás de blogues de MP3. Já tentei mas simplesmente não funciona para mim.



Portugal foi o primeiro país a ouvir as novas canções deste novo disco, Pale Fire. Como é que foi tocar no Milhões de Festa?

Foi bom. Adoro tocar em Portugal e tendo em conta que era a minha primeira actuação em muito tempo estava especialmente contente com o concerto. Mas o concerto foi bastante prejudicado por problemas técnicos, coisas for a do meu controlo, por isso foi um pouco uma desilusão para ser sincera.

Porquê El Perro del Mar? Este é um daqueles casos de nome com uma história ou nem por isso?

Ó, essa velha história. Eu passei algum tempo em Espanha durante um tempo de crise pessoal. Enquanto estive lá encontrei um cão perdido numa praia e comecei a chamar-lhe “El perro del mar”. Esse cão acabou por significar algo importante para mim, algo intacto e delicado, algo que eu pensei que tinha perdido. Quando regressei, de um momento para o outro, consegui escrever música de novo e quando pensei o que havia de chamar a essa música não foi preciso pensar muito.

Qual é a coisa mais importante que alguém pode dizer acerca da tua música?

Uau, essa é difícil. Que é única. Que dá uma perspectiva diferente sobre o mundo.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
06/11/2012