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Black Bombaim
O triunfo dos titãs


Hoje e amanhã, Porto e Lisboa, Black Bombaim e Titans: uma vitória completa do riff sobre o resto. Os Black Bombaim, assim como as restantes bandas de Barcelos, já não são um segredo bem guardado. Chegaram, viram, venceram: bastou-lhes juntar num só disco um grupo de amigos e outro de famosos, adicionar-lhe uma pitada de groove, outra de peso, agitar bem e servir Titans a todos aqueles que estivessem dispostos a ouvi-lo. A fórmula parece simples, mas na verdade não é; se o fosse, teríamos centenas de titãs a destruir-nos fisicamente todos os anos. Não temos, porque nem sempre basta pegar numa guitarra e gostar de Kyuss para deixar no mundo um legado eterno sob a forma de vinil; os Black Bombaim fizeram-no porque, bem, são os Black Bombaim - uma das melhores bandas rock da actualidade - e deveríamos exportá-los por esse mundo fora em vez de considerar o C. Ronaldo um exemplo para a raça lusitana. Ao Bodyspace Tojó Rodrigues contou-nos algumas coisas. Não muitas, que isso seria expôr demasiado os planos dos Barcelenses para a destruição dos palcos que pisarão hoje e amanhã. Mas as suficientes para percebermos o que vai na cabeça deste trio.
Não acham que serem apelidados de melhor banda rock nacional pelo Rui Miguel Abreu é um insulto aos Mão Morta?

Talvez, mas deixem-nos ficar com esta porque é difícil por aqui... nem conseguimos levar a taça de melhor banda rock do Minho. Posto isto, os Mão Morta são os maiores.

Titans é um disco que merece o nome que tem: riffs enormes, 60 minutos de rock puro, gente grande a colaborar em cada faixa. Como se deu o seu processo de crescimento? As ideias foram surgindo à medida que o gravavam? Foram obrigados a deixar algum convidado de fora?

As ideias foram todas surgindo na sala de ensaio, ao longo de 2010 e 2011, enquanto ainda promovíamos o Saturdays and Space Travels. Foram muitas horas de jam para no fim juntar tudo num bolo de quatro fatias que é o Titans. Fomos para o estúdio já com uma base definida do que íamos fazer. E sim, alguns convidados tiveram que ficar de fora, pois reparámos que estávamos a convidar gente a mais, e não tínhamos dinheiro para gravar um álbum triplo.

Acho-o igualmente um disco muito mais ambicioso do que o anterior. Concordam? Como o comparam em relação ao Saturdays And Space Travels? Consideram-no uma continuação do trabalho aí realizado ou uma evolução?

É de facto mais ambicioso se tiveres em conta o seu formato e duração, mas também pelo maior trabalho que nos deu a gravar e organizar tudo em comparação ao SaST, que foi gravado de uma forma super descomprometida. Não sei se lhe chame continuação ou evolução, mas sei que o Titans é um trabalho único, e nunca mais iremos fazer algo do género, assim como muito provavelmente não faremos algo como o SaST. Gostamos da ideia de fazer coisas diferentes de cada vez, mas ainda não sabemos o que fazer depois disto.

Nas últimas semanas andaram por Inglaterra e França. Como correu essa tour? A reacção do público foi positiva? Há alguma história que valha a pena ser contada ou ir em tour pela Europa é a nova Las Vegas (o que por lá se passa fica lá)?

A reacção do público foi muito boa! O mercado e o público lá são muito diferentes, e quando tocas numa cidade como Londres, há 30 concertos melhores que o teu a acontecer à mesma hora. Mas, tendo isso em consideração, tivemos uma adesão bem fixe aos concertos e uma reacção espectacular. Sem dúvida que fizemos novos fãs! Quanto a histórias, há muitas, mas são daquelas que se contam ao balcão de um bar a beber uns copos...

Deram também, há um par de meses, um concerto com James Pants, basicamente uma jam session ao vivo. O que retiraram desta experiência? Foi uma maneira de crescer enquanto banda, saindo da vossa zona de conforto, ou é precisamente essa – as jams, a improvisação – a vossa zona de conforto?

Além de descobrir grandes segredos da Stones Throw Records, estar e tocar com o James foi muito bom, mesmo por essa experiência de fazer algo a que não estamos habituados, sair da nossa zona de conforto. Focámo-nos mais no aspecto dançável e foi bastante divertido. Temos um certo à vontade na improvisação e isso facilitou imenso. E ele acima de tudo é um porreiraço.

Como é que este Titans será apresentado ao vivo? Naturalmente, ter todos estes convidados num palco não é exequível, mas está planeada alguma coisa em especial? De que forma procuram compactar as canções do disco?

Temos algo especial preparado para as duas datas de apresentação no Porto e em Lisboa, com alguns convidados a ajudar à festa, mas são casos pontuais. O Titans ao vivo funciona como no disco, excepto a parte dos convidados. Procuramos também tocar mais as partes fortes e deixar um pouco de lado alguns momentos mais calmos que temos no disco, porque talvez não funcionem tão bem ao vivo, e um concerto nosso quer-se aceso e pujante. Cria mais impacto.

Tendo o vosso som enraízado no stoner rock e no psicadelismo, o estado de espírito induzido pelas drogas é um meio de criação ou o objectivo da criação?

Juro-te que um fiscal GNR fez-me exactamente essa pergunta no outro dia, mas por outras palavras. Exerci o meu direito ao silêncio.

Da maneira como Barcelos e o rock português em geral tem crescido, pode-se afirmar que é este o Quinto Império profetizado pelo Fernando Pessoa?

Estamos longe de dominar o que quer que seja, mas há excelente música a ser feita aqui (em Portugal) e as pessoas têm noção disso. E mesmo Barcelos tem crescido imenso nesse sentido, agora até vejo putos de 16 e 17 anos a organizar concertos e é raro haver um fim-de-semana em que não se passe nada aqui. E isso é óptimo!

O que reserva o futuro próximo aos Black Bombaim? Parar é morrer?

Agora o plano é rodar este disco por onde seja possível e vamos ter algo espectacular a apresentar no próximo Festival de Curtas de Vila do Conde, mas mais detalhes virão com o tempo. Depois disso claro, pensar em criar algo novo, porque de facto, parar é morrer.

Já convenceram o Fua a trazer cá Earthless depressa ou vamos ter de esperar mais anos?

Primeiro tens que acabar com os OFF! e com os Howlin’ Rain para que isso aconteça...


Paulo André Cecílio
04/05/2012