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Algodón Egipcio
Pop mais pop não há


Cheky Bertho é um tipo venezuelano que um dia decidiu fazer duas coisas: a primeira, deixar crescer uma afro espectacular; a segunda, enveredar por um projecto a solo ao qual chamou Algodón Egipcio. O porquê desse nome não lhe perguntámos (nem interessa para muito), mas o porquê da música e fácil de perceber: pop electrónica com experimentação q.b. aqui e ali para se poder ouvir sem medos e tornar os nossos dias mais felizes com canções tal qual "Los Temas Turbios", incluída num belo disco ao qual chamou La Lucha Constante (isso já lhe perguntámos o porquê; resposta mais à frente). Estará entre nós nos próximos dias para concertos em Lisboa e Bragança (sexta-feira, no contexto do Isto Não É Uma Festa Indie, e sábado, a 4€, respectivamente), e acedeu ao pedido do Bodyspace para responder a uma perguntinhas poucas. Sobre música e algo mais.
É verdade que o algodão não engana?

É a primeira vez que ouço isso, haha, adoro. Sim, não engana, de certeza.

Quanto tempo demoraste a juntar ideias e a gravar este primeiro LP? Foi algo bem pensado ou foi mais espontâneo?

Foi na verdade muito rápido e espontâneo. Demorou cerca de dois meses e meio a ser escrito, gravado e misturado. A parte mais difícil creio que foi escrever as letras, foi a primeira vez que escrevi letras para canções. Neste disco fiz muitas coisas pela primeira vez.

La Lucha Constante é um título bastante forte, refere-se a algo pessoal ou é apenas um título que te surgiu?

É um bocado pessoal mas muito universal ao mesmo tempo. Todos têm as suas lutas diárias em cada aspecto da sua vida.

O álbum é uma bela mistura de pop e elementos electrónicos/noise, mas também tem uma certa qualidade latina, especialmente em faixas onde usas uma guitarra acústica, como a "Los Temas Turbios". Pegaste em todas as tuas diferentes influências e misturaste-as num caldeirão, ou foi algo mais próximo do corta-e-cola? Pensas no La Lucha Constante como um disco decididamente pop, ou como algo mais experimental?

Quis definitivamente explorar o que aconteceria se misturasse todas as influências que me definem e representam. Há folk, há noise, há r&b e muito mais, e tudo numa só canção. Para mim o disco é ao mesmo tempo pop e experimental, quis mesmo fazer um disco pop e foi isto que criei. E para o próximo disco quero fazer algo ainda mais pop e mais estranho.

Por falar nessa canção, quem teve a ideia para o vídeo e quão feliz ficaste com o resultado final?

O meu amigo Joshua Rogers enviou-me um e-mail pelo Bandcamp onde me disse que gostava muito da minha música e que fazia vídeos para artistas novos e em crescimento. Por isso pedi-lhe para juntar imagens que acompanhassem a canção e foi essa a ideia que ele teve. Estou feliz com o resultado, acho que acompanha muito bem o sentimento da canção.

Nestes últimos anos têm havido vários artistas que encontraram sucesso relativo a cantar em espanhol - como o El Guincho, por exemplo. Dado que também tu cantas na tua língua materna, achas que se está a tornar cada vez menos importante que se cante en inglês para ter audiências no estrangeiro? Que é a música e não a linguagem que se tornou universal?

Acho que se está a tornar menos importante cantar em inglês para alcançar mais pessoas, mas é algo complicado. As pessoas continuam a querer acompanhar as canções nos concertos e a querer perceber as letras, mas não muitas se dão ao trabalho de as procurar, de as traduzir, essas coisas. E há pessoas que gostam de música cantada numa linguagem diferente, mas a maior parte delas é porque gostam de não perceber a letra e de se concentrar apenas em como soam as palavras. É uma maneira de ouvir, mas acho que retira importância ao esforço que se teve ao escrever as letras. Mas pronto, os Sigur Rós cantam numa linguagem inventada e são famosos, por isso há esperança para nós!

Enquanto criador de música, que pensas acerca do SOPA e do ACTA?

Acho que devia haver legislação que proteja os direitos de autor na Internet, mas a forma como o ACTA e o SOPA actuam é muito, muito errada. É uma coisa tentar controlar a pirataria e outra muito diferente censurar a Internet, que é o que pretendiam fazer com o SOPA/PIPA. O ACTA é o pior, foi feito às escondidas para proteger os interesses das grandes empresas, e afecta todos da mesma forma porque é um acordo global. Espero que um dia as vozes dos artistas sejam ouvidas nas discussões e os legisladores se empenhem na criação de leis que se adaptem ao que está a acontecer hoje em dia.

Que planos tens para o futuro, após lançares este disco? Vais focar-te mais nos Jóvenes Y Sexys, ou vais continuar a trabalhar a solo?

Neste momento faço as duas coisas. Já comecei a trabalhar num novo disco de Algodón Egipcio, e os Jóvenes Y Sexys têm trabalhado há já algum tempo nas canções do seu primeiro disco. Também estou a trabalhar nalgumas cenas fixes para a minha editora, a Lefse Records, que espero que saiam daqui por uns meses. E também há colaborações com músicos meus amigos aí a vir.

Já tocaste em Portugal, e vais regressar a 17 e 18 deste mês. O que será diferente desta vez? Li algumas entrevistas em que dizes que tentas não ser apenas um tipo e o seu laptop, o que fazes normalmente para o evitar?

Bem, acho que todos vocês terão de ir ao concerto e descobrir! Vão haver canções novas, covers novas e mais cenas para dançar. Vou tentar estar muito ocupado em palco, a cantar, a tocar guitarra barítono, sintetizador, controladores, a pisar nos meus pedais...


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
16/02/2012