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SILVA
De Vitória para o mundo


Cinco letras, cinco belíssimas canções num EP de edição caseira mas de encanto e fruição universal. SILVA é o nome que Lúcio Silva de Souza, com 23 anos apenas, escolheu para dar cara às suas canções que, apesar de terem raiz na música brasileira, apontam a mira para o mundo todo. Masterizado pelo mesmo senhor que trabalhou com James Blake no seu disco de estreia, o reputado Matt Colton, o EP SILVA é uma pequena maravilha pop de sensibilidades indie (seja lá o que isto significa); uma palete colorida feita de cordas, metais, electrónica gentil, pianos e todo o tipo de arranjos que costumam levar as canções pop para um lugar melhor. Por saber que este EP tem vindo a deixar saliva na boca de muita gente, Lúcio Silva de Souza já começou a pensar no seu disco de estreia - há já novas canções a caminho - que tratará de provar se isto foi tudo um sonho ou pura realidade. Em entrevista, o brasileiro abriu mão do maravilhoso mundo de SILVA: um mundo encantado onde as canções pop são princípio e fim, espécie de espelho da humanidade.
Antes de mais, pedia-te que te apresentasses porque a informação acerca de ti é pouco pouca. Quem és tu e como é que a música chegou a ti?

Bem, me chamo Lúcio Silva de Souza e nasci em 1988 em Vitória, Espírito Santo. Acho que a música veio da família da minha mãe, que é flautista e me colocou em contacto com a música bastante cedo. Ela tinha que me levar para o trabalho com ela e eu acabei tendo a sorte de participar das aulas de musicalização antes de completar meus dois anos de idade.

E depois disso, alguma banda de garagem, alguma banda de punk, alguma escola, algum projecto até chegares a SILVA?

De vez em quando um amigo me chamava para participar de uma banda e eu aceitava quase tudo que aparecia, mesmo quando não conhecia o género muito bem. Gostava de me virar. É que o ambiente erudito do conservatório era um pouco "bitolado" e me entediava muitas vezes. Eu tinha medo de virar um daqueles músicos que só conseguem tocar olhando para a partitura, embora o contacto com a orquestra tenha me ajudado a ter mais noção de instrumentação.

Este EP que editaste no ano passado é uma bela surpresa. O que é que nos podes contar acerca dele, do processo, do resultado final?

Comecei a pensar no meu próprio trabalho em 2009, quando escrevi "A visita" no meio da vida de busker em Dublin. Em 2010, quando voltei para o Brasil, gravei algumas músicas em casa até que a versão demo de "A visita" foi parar na mão de um produtor do Rio de Janeiro que me apresentou ao Lucas de Paiva, que trabalhou comigo neste EP. Em 2011 eu comecei a fechar as ideias de como o som deveria soar, compus "12 de Maio" e decidi lançar o material na internet. O EP foi gravado parte na minha casa, parte num estúdio do Rio e parte na casa do Paiva.

Essa experiência em Dublin serviu de alguma forma para enriquecer a tua música?

Serviu sim. Eu tocava numa banda de improviso formada por três brasileiros, um espanhol, um checo e um irlandês. Era divertido e tocávamos um som bem "groovy", uma mistura de funk, blues, bossa, etc. Aprendi a apreciar géneros diversos e abri a cabeça pra quase todo tipo de música.

Como é que este EP foi recebido no Brasil?

Creio que bem recebido, tenho visto comentários positivos.

Surpreende-te todo esse feedback?

Muito! Eu estou no último período do curso superior de violino e ainda tenho que preparar um concerto final e por isso, quando lancei o EP, estava sem grandes expectativas, mesmo com todo o esforço empregado. Agora fico feliz de poder dedicar mais tempo às minhas músicas.

No Brasil também se gasta tanta tinta e tanta saliva acerca de cantar ou não em português? É que aqui em Portugal há gente que perde demasiado tempo a falar sobre isso, como se fosse uma espécie de obrigação cantar na língua materna…

Sim! Aqui também há compositores puristas que acham inaceitável que um brasileiro cante em inglês, embora eles estejam sumindo de uns tempos para cá. Eu canto em português porque gosto e não descarto a ideia de cantar em inglês. O El Guincho é um bom exemplo, canta em espanhol e muita gente aqui não entende o que ele diz mas ama a música que ele faz. Penso que se o som for interessante, provavelmente vai ultrapassar a barreira da língua. Caso contrário, ninguém ouviria Sigur Rós e tantas bandas por aí.

Como é a cena musical onde vives, em Vitória? Existem alguns nomes interessantes nesse circuito?

Mesmo sendo uma capital, Vitória é uma cidade pequena e aqui as pessoas se dedicam mais à música erudita ou MPB/música regional. Mas há também alguns projectos electrónicos, como o ZéMaria, que já tocou em alguns festivais aí na Europa.

Sei que ainda não deste nenhum concerto, sei que dás o primeiro concerto no dia 2 de Março no Rio de Janeiro. Como é que te estás a preparar para isso?

Eu vou para o Rio dentro de alguns dias para isso, ensaiar com três amigos e tocar no dia 2. Estou agora terminando algumas músicas novas para tocar nesse dia.

Sei que este projecto tem caído todo nas tuas costas. É difícil? Tens planos para aumentar a equipa Silva?

Não sei se difícil, mas diferente. Eu sempre fui coadjuvante nos projectos que participei, orquestras, bandas, o que me deixava mais concentrado na música sem ter que me preocupar com questões burocráticas. Quando você está à frente de um projecto e decide tirar as músicas do quarto e comercializá-las, aí entram aquelas questões extra-musicais que não me agradam muito. Tenho planos de aumentar a equipa sim, mas não é muito fácil achar pessoas para tocar, e não falo de super músicos, falo dos músicos certos.

Tocar na Europa é um fetiche para ti? Ou é mais entrar nos Estados Unidos?

É um fetiche sim, talvez por ter morado aí. Eu nunca morei nos Estados Unidos e só conheço poucos lugares, mas ficaria feliz se o trabalho chegasse até lá também.

Já andas a pensar em disco novo, um disco com princípio, meio e fim?

Estou a pensar sim e já comecei a compor novas músicas. Em 2012, isso é o que eu pretendo fazer na maior parte do tempo.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
02/02/2012