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Tom Vek
Onde esteve o Wally?


A pergunta é feita não só porque Tom Vek, se usasse um gorro e uma camisola de listas vermelhas e brancas, seria a cara chapada do famoso personagem dos livros, mas também porque andou desaparecido durante anos sem que ninguém o encontrasse. Tudo porque ele assim o quis, segundo nos confiou. Regressado agora aos palcos e à música, com o lançamento de Leisure Seizure, trabalho que não foge à estética pop que já se conhecia dele, apresenta-se esta semana no Musicbox, inserido no Jameson Urban Routes, naquela que é também a sua estreia por cá. Na bagagem estará não só este disco como deverão igualmente ouvir-se temas de We Have Sound, que deixou muita gente louca - e apaixonada - no saudoso 2005. Promete, portanto. Numa altura em que já ninguém tem privacidade e todos sabem onde estão os outros, fomos falar com ele para saber o que esperar após tanto tempo sem notícias, descobrir o segredo da sua façanha e tentar saber de forma mais ou menos cómica onde é que ele esteve. E também se falou de música, claro. Convém.
Por acontecer após uma pausa prolongada, que podemos esperar de um concerto de Tom Vek? Achas que ainda dás conta do recado? Quando subiste ao palco pela primeira vez desde 2006, sentiste a mesma ansiedade de quando te estreaste?

Estive recentemente a falar do velho cliché de que quando a música começa não me sinto nervoso, gosto de a ouvir de tal modo que se torna um meio de distracção, que é igualmente o efeito que desejo que tenha nas outras pessoas. Tenho andado a pensar que a ideia era fazer música que não se limitasse a um plano de fundo.

Onde vais buscar novas ideias para as tuas canções, já que és músico há já algum tempo? Sentes a necessidade de revisitar gravações antigas como fonte de inspiração? O teu próximo disco, irá sair em 2017?

Por um lado, sinto que estou a fazer a coisa certa - que ao colocar neste disco canções que me deixaram satisfeito, isso foi um desafio... por outro sei que quando certas coisas estão a funcionar, consigo ter ideias de forma muito espontânea. Para dizer a verdade o difícil é tentar manter tudo isto que faço intacto, é como tentar não destruir uma flor ao preservá-la com resina. Se eu não fizer mais nada de que goste não haverá um terceiro disco... gostava que isto fosse melhor estabelecido enquanto padrão para um artista, as pessoas adoram dizer que alguém "já não é como era". Eu também o faço, mas não vou dar esse prazer a ninguém.

É contudo bastante tempo. Andaste a ler o que se tem dito sobre o teu regresso? Que pensas sobre isso? Sendo que já disseste ter passado os últimos anos a observar a "cultura da internet", sentes-te de algum modo privilegiado por te conseguires fazer notar no meio de um gigantesco oceano musical como o é a internet hoje em dia?

Sim, mas de certo modo fui eu que o engendrei... sem querer ser muito arrogante, em meados de 2006 decidi de forma consciente que a próxima notícia a sair sobre mim seria a de um novo disco. Para ser franco, foi bastante bom ter desaparecido, acho que demonstra que é aquilo que não fazes que pode causar efeito.

Que força esteve por detrás deste novo disco [Leisure Seizure]? Tenho andado a ouvi-lo e gosto de como não é uma mudança radical em relação ao antecessor, mas continua a soar fresco. As pessoas têm falado na tua "afirmação", na afirmação do teu som. Não olhaste sequer para o We Have Sound?

Gosto dessa palavra para o descrever. De certo modo é a conclusão da minha primeira era de trabalho. O We Have Sound colocou-me nesta situação e eu queria que o meu próximo disco mostrasse que aquilo que alguns disseram sobre o que nele era único poderia ser desenvolvido e criar uma trajectória - que se pudesse traçar uma linha entre ambos. Por outro lado, ao compor uma faixa, parto de uma posição bastante experimental, e quando termino soa a Tom Vek. Acho eu...

Andaste perdido e voltaste agora de repente. Devemos falar do regresso do Tom Vek, do seu renascimento, ou de nenhum dos dois?

Sinto-o mais como umas férias em que perdi o avião de regresso e só consegui voltar agora.

url: http://www.youtube.com/watch?v=49ZVEt2X3GA&ob=av2e text: Neste vídeo para a "Aroused" trabalhaste com o Saam Farahmand, que é teu amigo. Ficaste satisfeito com o resultado final? Trabalharias novamente com ele?

O Saam é um pesadelo... temos gostos contrários e entramos em discussões enormes quando nos vemos. Até desejei que o vídeo fosse um desastre para que não pudéssemos ser amigos, mas agora que foi nomeado para uns quantos prémios tenho que aturar a amizade dele por mais algum tempo... e o sentido de humor dele, que também é péssimo.

Seis Anos sem um disco. Seis letras em "Tom Vek". O Leisure Seizure tem doze faixas, que é seis vezes dois. No teu url: http://www.tomvek.tv/ text: site lê-se isto: «the self-taught recording artist´s process and musical output is loaded with cryptic contradictions». Escreveste canções de amor, mas és o Diabo disfarçado?

Acho que quando escrevo as letras e penso na "voz" de uma canção o meu fato é o de um tipo cínico, arteiro, sarcástico, romântico frustrado e na defensiva... muitas das vezes as palavras estão apresentadas de um modo que pretende que levem a que sejam julgadas ou questionadas sobre se era essa a minha intenção. É isso que gosto de manter críptico, seja na primeira, segunda, ou terceira pessoa, gosto de que seja questionável. Alguém me disse recentemente que o disco soa como se estivesse a criticar alguém. Talvez seja eu.

Que também és designer gráfico já se sabe, mas consegues traçar algum paralelo entre ambas actividades? Usas ideias numa que não usaste na outra e vice-versa? Estarias disposto a prosseguir uma em detrimento da outra?

Tenho papéis bem definidos para ambas. A minha música é um escape puramente artístico, e a minha aproximação ao design é pegar num pedaço existente de informação e apresentá-lo de uma certa forma. A música vem do nada e o design é um trabalho onde se encontram soluções para problemas específicos a partir de uma referência. Não tem existido um cruzamento, não me parece apropriado "projectar" música e o meu trabalho na área tem sido difícil, são coisas construtivistas sem muita emoção.

Passaram oito perguntas e deixei esta para o fim, porque em todas as outras entrevistas que li tuas era a primeira, e porque disseste numa delas que ta têm feito de formas cada vez mais inteligentes e humorísticas. Podes ler as primeiras palavras de cada uma das que te fiz e responder?

Gostei muito desta entrevista, tenho de o dizer... e foi um twist enorme! Só por causa disso vou dizer-te a verdade - mas espera, a linha está a cair, e d


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
24/10/2011