Dos Low, trio formado em Duluth em 1994, diz-se que são a banda mais lenta do mundo, mas talvez isso seja apenas sinónimo de melancolia, recolhimento. Os Low constroem espaços de um profundo silêncio, canções simples sobre sentimentos complexos. Já lá vão quase dois anos desde o lançamento do último disco de originais,
Trust, mas o Bodyspace viajou com Alan Sparhawk até ao longÃnquo ano de 1994 para contar a história dos Low até aos dias de hoje.
Disse
algures que era aborrecido viver em Duluth. O que é que o levou a deixar essa
monotonia?
Não é realmente aborrecido viver em Duluth. Acho que posso ter dito isso a
um certo ponto, mas era com a intenção de explicar às pessoas como Duluth
é uma cidade pequena onde não existem tantas coisas a acontecer como numa
cidade maior. Essa falta leva as pessoas a terem de ser criativas para encontrar
alguma coisa para fazer - um esforço extra para fazer com que alguma coisa
aconteça, mesmo que nos sintamos à margem da sofisticação das grandes cidades.
A Mimi e eu crescemos em quintas. Duluth foi, inicialmente um grande salto
da monotonia.
Auto-intitulam-se a "banda mais lenta do mundo".
É complicado transmitir tanta tensão, tanta carga emotiva com instrumentação
minimalista?
Esta é outra coisa que eu não me lembro de dizer, mas sei que as pessoas disseram
isso sobre nós. Nós não somos a banda mais lenta do mundo. Quanto à tensão
saÃda do minimalismo, acho que é mais fácil criar tensão com menos, porque
a "quantidade" de som apreendido é maior e mais poderosa quando existe em
pouca quantidade.
O que é que veio primeiro? O nome Low ou as primeiras
canções?
O nome.
São muitas vezes descritos como sendo uma mistura
entre Joy Division e Simon & Garfunkel. Concordam? Como é que dois artistas
tão distintos podem puderam inspirar um som tão único que os Low têm?
Gosto dessa comparação porque são dois lados aparentemente opostos do espectro
de estilo. Talvez a referência a Joy Division apareça devido ao minimalismo
e, às vezes, às texturas frias da nossa música. Em relação à referência a
Simon & Garfunkel, acho que vem das vocalizações e harmonias. Acima de tudo,
não nos comparamos com ninguém. Estamos a tentar fazer uma coisa única (mas
claro, quem não está?).
Uma das primeiras pessoas que apoiaram a vossa música
foi Kramer. Como é que aconteceu essa colaboração? Foi difÃcil transformar
o som que idealizaram em música?
Nós respeitávamos Kramer como produtor e ele tinha trabalhado com bandas
indie,
por isso mandámos-lhe uma cassete. Ele convidou-nos para o estúdio dele para
fazer algumas canções e correu tudo muito bem. Nós éramos novos e inocentes,
por isso estávamos contentes que ele nos impusesse o som "dele" naquilo que
estávamos a fazer. Acho que correu tudo muito bem e que ele nos ajudou a encontrar
as nossas forças.
Em 1995 e 1996 andaram em digressão com os Luna,
com os Spectrum e com os Soul Coughing. Como é que foi a reacção do público
ao vosso som?
Quando nós começámos a banda, sabÃamos que a maior parte das pessoas teriam
uma reacção adversa à nossa música, por isso o
feedback negativo não
foi nenhuma surpresa. Os concertos com os Luna e com os Spectrum correram
bem - as pessoas reagiram favoravelmente, na maior parte das vezes. Os concertos
com os Soul Coughing foram um pouco mais antagonistas, mas a banda foi fantástica
connosco e são ainda bons amigos nossos.
O que é que fez com que gravassem o vosso terceiro
álbum com Steve Fisk? Haviam alterações a fazer no som geral dos Low?
QuerÃamos tentar trabalhar com uma nova pessoa, e estávamos a ficar cada vez
mais conscientes e confortáveis com as possibilidades do estúdio. Gostávamos
das coisas que o Steve tinha feito e ele parecia entender de onde nós vÃnhamos.
Queriamos um disco que se parecesse mais com os nossos concertos.
Secret Name e
Things We Lost In The Fire foram gravados com o Steve Albini. Como
é que foi trabalhar com ele?
Foi óptimo. Ele ajudou-nos imenso a ter aquilo que queriamos e ensinou-nos
muito sobre honestidade e alma musical.
Things We Lost In The Fire é,
provavelmente, o vosso trabalho mais aclamado. É como um filho especial para
vocês?
Não. Foi o disco que fizemos daquela vez. Foi o melhor que podÃamos fazer
e foi onde as nossas mentes estavam naquela altura. Não sei muito bem porque
é que as pessoas olham pare esse disco em particular como sendo um ponto especialmente
alto.
Estiveram em palco com os Godspeed You Black Emperor".
Não consigo sequer imaginar o resultado disso. Como foi?
Fizemos vários espectáculos com eles. Numa noite, juntámo-nos a eles numa
canção chamada "Do You Know How To Waltz?". Foi muito pouco ensaiada e muito
espontânea. Foi barulhento. Eles são boas pessoas.
Em 1994, os Low e os Dirty Three lançaram os seus
primeiros álbuns. Cinco anos mais tarde, In The Fishtank foi o resultado
de uma participação conjunta das duas bandas. Como é que foi gravar com o
trio?
Foi uma das minhas experiências favoritas. Eles são verdadeiros artistas e
inspiram todas as pessoas que estão perto deles para irem além das suas capacidades.
Fizemos esse disco em dia e meio, sem preparação. Todas as canções foram escritas
no primeiro dia. TÃnhamos feito uma digressão com eles e demo-nos muito bem,
por isso foi uma colaboração muito natural e fácil.
Owl apresenta
um lado muito diferente dos Low. Qual foi a intenção do seu lançamento? Como
é que foi a selecção das canções e dos artistas para as remisturarem?
O disco de
remixes Owl foi feito pela nossa companhia discográfica,
sem muito envolvimento da nossa parte. Acho que algumas coisas no disco são
muito boas mas não é, na verdade, um disco nosso.
Trust é o vosso disco mais diverso. Foi uma tentativa de tocar e
explorar outros aspectos da vossa música?
Todos os nossos discos são um esforço para explorar para além dos nossos meios
e expectativas.
Trust foi bastante longe mas acho que estamos a chegar
àquele ponto em começamos a estar abertos a tentar qualquer coisa. Nos primeiros
discos, sentimos que tÃnhamos um "som" a que devÃamos ser fiéis, mas agora
não nos preocupamos tanto - nós sabemos que podemos fazer isso, queremos continuar
a desafiar-nos a nós próprios.
"In The Drugs" é uma canção muito forte. É um hino à vida?
Obrigado. Fico contente que tenhas gostado. Muitas das canções de
Trust fazem com que eu pareça um homem velho a falar para uma criança sobre a minha
vida mesmo antes de morrer. Talvez isso seja um hino à vida…
Como é que é escrever canções com a Mimi? Como é
que acontece o processo de escrita das canções?
Na maior parte das canções, eu faço a parte da escrita e ela escreve e adiciona
a harmonia. As canções onde ela assume a voz principal são normalmente escritas
por ela. Trabalhamos um bocado juntos nas canções, mas trabalhamos de forma
diferente, por isso, geralmente, um de nós tem a ideia inicial antes de começarmos
a trabalhar nela juntos.
Estão a preparar o lançamento de uma compilação de raridades e b-sides para marcar o décimo aniversário dos Low. O que é que podemos esperar desta
edição? De onde é que vem o material?
Queriamos que saÃsse por volta do nosso décimo aniversário, mas isso foi em
Março de 2003, por isso estamos atrasados. Parece que vai sair este Verão.
É uma caixa com três discos de música, um DVD com vÃdeos e um documentário,
e um
booklet de trinta e duas páginas com fotos e informação. É, na
maior parte, material raro de
singles e compilações,
out-takes,
faixas não editadas e
demos e algumas faixas ao vivo.
As vossas canções são muitas vezes melancólicas visões
da vida. São pessoas tristes?
A Liza Minelli tem canções felizes mas, de alguma forma, acho que ela é uma
pessoa muito triste.
Os Mogwai disseram uma vez que num mundo perfeito
todos ouviriam os Low. Poderiam alguma vez ter um álbum chamado Happy Songs
For Happy People, como eles ironicamente têm?
Não.