ENTREVISTAS
Chinaskee & Os Camponeses
Um trocadinho ensaiado
· 08 Set 2017 · 17:26 ·
Começou com Trocadinhos a nossa aventura com Chinaskee, ou Alex Chinaskee, ou Mankey Macaco, ou o que seja... E continuou com EPs dados em mão, finos pagos em faculdades, muitas mensagens de Facebook e e-mail, e desaguou em Malmequeres, o óptimo álbum de estreia que Chinaskee assina com os "seus" Camponeses, a ser editado em breve pela Revolve.
Antes disso, o público que estiver presente no Reverence Valada poderá, presume-se, conferir a que soam as canções ali encontradas num contexto ao vivo. Fomos falar com o homem por detrás do projecto para saber o que o motiva.
Antes disso, o público que estiver presente no Reverence Valada poderá, presume-se, conferir a que soam as canções ali encontradas num contexto ao vivo. Fomos falar com o homem por detrás do projecto para saber o que o motiva.
© Maria Inês Peixoto
De onde vem o nome Alex Chinaskee?
Alex Chinaskee é uma mistura do vocalista dos Arctic Monkeys com o alter ego do Charles Bukowski. Mas recemente retiramos "Alex" do nome e adicionamos "& Os Camponeses". Por isso: Chinaskee & Os Camponeses.
Que livro do Bukowski recomendarias a quem nunca o leu?
Definitivamente, o Histórias Para Aguardente. Um conjunto de contos que retrata perfeitamente a escrita dele. O melhor é que se já leste Bukowski, ou lês depois de leres este, a maior parte dos contos já aconteceram noutros livros.
E que importância tiveram os Arctic Monkeys na tua formação musical?
A vontade de fazer coisas, principalmente. Terem sido a primeira banda da geração online do século XXI. E também passarem de puro rock 'n roll para o pop mais bem limado de sempre.
Crês que o online ajudou a "matar o rock" - no sentido de já não existirem novas grandes bandas "de estádio" - ou, pelo contrário, ajudou a disseminá-lo e a fazê-lo regressar a um underground mais interessante?
Acho que já não há tantas bandas de estádio, de facto, mas por outro lado acho que as bandas pequenas e underground são um pouco mais interessantes. Têm todas, como já disse, vontade de fazer coisas. Caso não tenho maneira de as fazer soar profissionais, fazem com que soe o melhor possível e isso inspira-me imenso. Por isso acho que o online ajuda muito. Apesar de agora haver muito mais escolha, consequentemente, o público ou não ouve nada ou então tem de distribuir a sua atenção pelas centenas de milhares de milhões de bandas, cantautores, rappers, etc. que existem no mundo.
Nesse sentido, como pode uma banda mostrar-se em relação às demais? Como é que tentas isso com o teu próprio projecto?
Gosto de me focar na parte dos concertos ao vivo. Muitas bandas chegam a um palco e tocam as suas músicas, interagem com o público, pedem para bater palmas ao ritmo da música, mas não passa disso. Eu gosto que as pessoas venham a um concerto de Chinaskee & Os Camponeses e vejam um espectáculo, e não só cinco gajos a tocar as suas canções. Por isso aposto imenso na parte visual (maquilhagem, purpurinas, vídeos ou algo a passar atrás...) e no ambiente que instalamos em palco (não tocarmos virados para o público e sim uns para os outros, os gritos e as conversas que fazemos em palco...). Basicamente, fazer com que as pessoas saiam contentes do nosso concerto porque não foram só ouvir, mas também ver.
Disseste numa entrevista que te arrependias de ter comprado um disco do 50 Cent. Como assim?
Hahahahah! Não me arrependo, só não me importo de o vender na Cash Converters se precisar de uns trocos.
Mas pareces estar a dar a entender que a "P.I.M.P." e a "Ayo Technology" não são uns malhões do caraças...
Juro-te que não faço ideia do que essas malhas sejam, mas vou ouvir e depois torno a minha opinião pública via Facebook.
Que mais te irrita num concerto, como músico e como espectador?
Acho-me sempre um privilegiado a ver um concerto, porque são pessoas que saem da sua zona de conforto para dar conforto a outras. Quando um artista não se importa com o conforto do público isso enerva-me um pouco.
Estás quase a editar um novo disco, Malmequeres. Que procuraste fazer neste trabalho que não havias feito nos EPs anteriores?
O Malmequeres é o meu álbum de estreia, e o meu disco de estreia como Chinaskee & Os Camponeses. A principal diferença é não ser eu a tocar tudo nem eu eu a escrever tudo. Neste disco procurei dinâmica de banda e um som especifico, cozy, que só conseguia com as pessoas com que trabalhei: Os Camponeses (SunKing, David Simões e Ricardo Oliveira), o Francisco Ribeiro na guitarra em algumas canções, o Filipe Sambado a produzir, gravar e misturar, o Eduardo Vinhas na masterização e a minha querida Inês e a Marta Lontrão nos coros. Para além das pessoas que me emprestaram material como os Old Yellow Jack, os Galgo e o Miguel Ângelo. Toda a gente contribuiu para fazer o disco, que demorei tanto tempo a debater e preparar com o SunKing e com o David. É uma viagem por várias influências e sons e estou muito, muito, muito satisfeito com o resultado. Ficou exactamente o que imaginámos nos nossos inúmeros brainstorms. E haverá mais umas surpresas.
Também queria chegar aí. Que diferenças há a nível de processos criativos entre o teu trabalho a solo e com banda? Torna-se mais fácil, em grupo, transformar uma ideia pré-concebida em canção?
Sim e não. Por um lado, escrever a solo é muito fixe pois só tenho de me agradar a mim; escrever em conjunto já têm de ser mais pessoas a gostar do que está a ser feito. Por outro lado eu o David e o SunKing trabalhamos muito bem em conjunto, não só em Chinaskee & Os Camponeses, e isso ajuda-nos a chegar a coisas que a nunca tinha chegado sozinho.
Já pediste ao Miguel Ângelo para te escrever as liner notes do disco?
Népia, é o Tigerman que vai escrever a PR!
Malmequeres será editado pela Revolve. Como surgiu esta parceria?
Nada de muito complicado. Enviei o disco ao Bruno, ele reencaminhou-o para o Miguel, e gostaram todos. Todos tínhamos interesse em trabalhar em conjunto e foi assim. A Sara é que se juntou um pouco depois para ajudar na promoção do disco!
Dois dos temas do disco têm como título "Má Água". Tudo isto porque preferes cerveja?
A "Má Água" foi a primeira música escrita para este disco. Aliás, o disco era para se chamar Má Água, e não Malmequeres. Gostamos todos de cerveja e o titulo tem a ver com isso mas é um trocadilho muito cliché com mágoa. Apresentámo-la pela primeira vez em Setembro do ano passado, e a melhor reacção que tivemos foi um amigo a dizer «a partir desta música vocês deixaram de ser uns putos a tocar e tornaram-se numa banda a sério». Se alguém comprar o disco online ou físico terá uma surpresa.
Na primeira "Má Água" há, no final, um sample do Filipe Sambado. Pagaste-lhe devidamente pelos direitos de autor?
Há um sample de Filipe Sambado e outro de NOOJ. O Filipe produziu o disco e queríamos que estivesse lá clara a sua marca. Os NOOJ são uma das bandas dos ex-Old Yellow Jack que foram, para muitos de nós, a primeira banda underground que ouvimos. E são dos nossos melhores amigos na cena portuguesa, por isso também lhes pedimos para pôr um bocadinho dessa faixa. Eles disseram que sim, mas esqueceram-se, quando ouviram o disco assustaram-se bué nessa parte...
Antes do Malmequeres, editaste um EP - Trocadinhos Ao Pôr-Do-Mi - logo no primeiro dia do ano. Foi algo planeado apenas pela piada ou simplesmente aconteceu?
O Trocadinhos foi uma ideia que tive durante uma insónia. Tudo o que aconteceu no disco, as letras, as passagens de canção para canção e a data de lançamento - em três dias acabei o disco e ainda o lancei quando queria. Ninguém me tira isso: lancei o primeiro disco do ano.
Também ajudaste a criar uma editora, a French Sisters Experience. Não quero perguntar sobre o passado ou as origens; que futuro vês para esta editora?
Vejo muitos artistas muito bons a lançarem discos via French Sisters Experience. O disco do SunKing, o meu teclista que acabei de produzir e gravar... O disco do meu baixista, David Simões, também está quase pronto... Para além dos outros projectos que já temos: Môno!, Miguel Estrada, CAIO, VANE, SEXO/DROGAS/MORTE e Tomás Gomes/ El Kordi.
O DJ Quesadilla é o promotor que Portugal merece?
É!
Entre Pokémon Ruby e Pokémon Sapphire, qual o melhor?
A quinta geração é a melhor - Pokémon Black & White. Esses são provavelmente os que gosto menos.
Para terminar: queres abrir para os Strokes amanhã?
A solo ou com banda? Não respondas: sim.
Paulo CecílioAlex Chinaskee é uma mistura do vocalista dos Arctic Monkeys com o alter ego do Charles Bukowski. Mas recemente retiramos "Alex" do nome e adicionamos "& Os Camponeses". Por isso: Chinaskee & Os Camponeses.
Que livro do Bukowski recomendarias a quem nunca o leu?
Definitivamente, o Histórias Para Aguardente. Um conjunto de contos que retrata perfeitamente a escrita dele. O melhor é que se já leste Bukowski, ou lês depois de leres este, a maior parte dos contos já aconteceram noutros livros.
E que importância tiveram os Arctic Monkeys na tua formação musical?
A vontade de fazer coisas, principalmente. Terem sido a primeira banda da geração online do século XXI. E também passarem de puro rock 'n roll para o pop mais bem limado de sempre.
Crês que o online ajudou a "matar o rock" - no sentido de já não existirem novas grandes bandas "de estádio" - ou, pelo contrário, ajudou a disseminá-lo e a fazê-lo regressar a um underground mais interessante?
Acho que já não há tantas bandas de estádio, de facto, mas por outro lado acho que as bandas pequenas e underground são um pouco mais interessantes. Têm todas, como já disse, vontade de fazer coisas. Caso não tenho maneira de as fazer soar profissionais, fazem com que soe o melhor possível e isso inspira-me imenso. Por isso acho que o online ajuda muito. Apesar de agora haver muito mais escolha, consequentemente, o público ou não ouve nada ou então tem de distribuir a sua atenção pelas centenas de milhares de milhões de bandas, cantautores, rappers, etc. que existem no mundo.
Nesse sentido, como pode uma banda mostrar-se em relação às demais? Como é que tentas isso com o teu próprio projecto?
Gosto de me focar na parte dos concertos ao vivo. Muitas bandas chegam a um palco e tocam as suas músicas, interagem com o público, pedem para bater palmas ao ritmo da música, mas não passa disso. Eu gosto que as pessoas venham a um concerto de Chinaskee & Os Camponeses e vejam um espectáculo, e não só cinco gajos a tocar as suas canções. Por isso aposto imenso na parte visual (maquilhagem, purpurinas, vídeos ou algo a passar atrás...) e no ambiente que instalamos em palco (não tocarmos virados para o público e sim uns para os outros, os gritos e as conversas que fazemos em palco...). Basicamente, fazer com que as pessoas saiam contentes do nosso concerto porque não foram só ouvir, mas também ver.
© Maria Inês Peixoto
Disseste numa entrevista que te arrependias de ter comprado um disco do 50 Cent. Como assim?
Hahahahah! Não me arrependo, só não me importo de o vender na Cash Converters se precisar de uns trocos.
Mas pareces estar a dar a entender que a "P.I.M.P." e a "Ayo Technology" não são uns malhões do caraças...
Juro-te que não faço ideia do que essas malhas sejam, mas vou ouvir e depois torno a minha opinião pública via Facebook.
Que mais te irrita num concerto, como músico e como espectador?
Acho-me sempre um privilegiado a ver um concerto, porque são pessoas que saem da sua zona de conforto para dar conforto a outras. Quando um artista não se importa com o conforto do público isso enerva-me um pouco.
Estás quase a editar um novo disco, Malmequeres. Que procuraste fazer neste trabalho que não havias feito nos EPs anteriores?
O Malmequeres é o meu álbum de estreia, e o meu disco de estreia como Chinaskee & Os Camponeses. A principal diferença é não ser eu a tocar tudo nem eu eu a escrever tudo. Neste disco procurei dinâmica de banda e um som especifico, cozy, que só conseguia com as pessoas com que trabalhei: Os Camponeses (SunKing, David Simões e Ricardo Oliveira), o Francisco Ribeiro na guitarra em algumas canções, o Filipe Sambado a produzir, gravar e misturar, o Eduardo Vinhas na masterização e a minha querida Inês e a Marta Lontrão nos coros. Para além das pessoas que me emprestaram material como os Old Yellow Jack, os Galgo e o Miguel Ângelo. Toda a gente contribuiu para fazer o disco, que demorei tanto tempo a debater e preparar com o SunKing e com o David. É uma viagem por várias influências e sons e estou muito, muito, muito satisfeito com o resultado. Ficou exactamente o que imaginámos nos nossos inúmeros brainstorms. E haverá mais umas surpresas.
Também queria chegar aí. Que diferenças há a nível de processos criativos entre o teu trabalho a solo e com banda? Torna-se mais fácil, em grupo, transformar uma ideia pré-concebida em canção?
Sim e não. Por um lado, escrever a solo é muito fixe pois só tenho de me agradar a mim; escrever em conjunto já têm de ser mais pessoas a gostar do que está a ser feito. Por outro lado eu o David e o SunKing trabalhamos muito bem em conjunto, não só em Chinaskee & Os Camponeses, e isso ajuda-nos a chegar a coisas que a nunca tinha chegado sozinho.
Já pediste ao Miguel Ângelo para te escrever as liner notes do disco?
Népia, é o Tigerman que vai escrever a PR!
Malmequeres será editado pela Revolve. Como surgiu esta parceria?
Nada de muito complicado. Enviei o disco ao Bruno, ele reencaminhou-o para o Miguel, e gostaram todos. Todos tínhamos interesse em trabalhar em conjunto e foi assim. A Sara é que se juntou um pouco depois para ajudar na promoção do disco!
Dois dos temas do disco têm como título "Má Água". Tudo isto porque preferes cerveja?
A "Má Água" foi a primeira música escrita para este disco. Aliás, o disco era para se chamar Má Água, e não Malmequeres. Gostamos todos de cerveja e o titulo tem a ver com isso mas é um trocadilho muito cliché com mágoa. Apresentámo-la pela primeira vez em Setembro do ano passado, e a melhor reacção que tivemos foi um amigo a dizer «a partir desta música vocês deixaram de ser uns putos a tocar e tornaram-se numa banda a sério». Se alguém comprar o disco online ou físico terá uma surpresa.
© Maria Inês Peixoto
Na primeira "Má Água" há, no final, um sample do Filipe Sambado. Pagaste-lhe devidamente pelos direitos de autor?
Há um sample de Filipe Sambado e outro de NOOJ. O Filipe produziu o disco e queríamos que estivesse lá clara a sua marca. Os NOOJ são uma das bandas dos ex-Old Yellow Jack que foram, para muitos de nós, a primeira banda underground que ouvimos. E são dos nossos melhores amigos na cena portuguesa, por isso também lhes pedimos para pôr um bocadinho dessa faixa. Eles disseram que sim, mas esqueceram-se, quando ouviram o disco assustaram-se bué nessa parte...
Antes do Malmequeres, editaste um EP - Trocadinhos Ao Pôr-Do-Mi - logo no primeiro dia do ano. Foi algo planeado apenas pela piada ou simplesmente aconteceu?
O Trocadinhos foi uma ideia que tive durante uma insónia. Tudo o que aconteceu no disco, as letras, as passagens de canção para canção e a data de lançamento - em três dias acabei o disco e ainda o lancei quando queria. Ninguém me tira isso: lancei o primeiro disco do ano.
Também ajudaste a criar uma editora, a French Sisters Experience. Não quero perguntar sobre o passado ou as origens; que futuro vês para esta editora?
Vejo muitos artistas muito bons a lançarem discos via French Sisters Experience. O disco do SunKing, o meu teclista que acabei de produzir e gravar... O disco do meu baixista, David Simões, também está quase pronto... Para além dos outros projectos que já temos: Môno!, Miguel Estrada, CAIO, VANE, SEXO/DROGAS/MORTE e Tomás Gomes/ El Kordi.
O DJ Quesadilla é o promotor que Portugal merece?
É!
Entre Pokémon Ruby e Pokémon Sapphire, qual o melhor?
A quinta geração é a melhor - Pokémon Black & White. Esses são provavelmente os que gosto menos.
Para terminar: queres abrir para os Strokes amanhã?
A solo ou com banda? Não respondas: sim.
pauloandrececilio@gmail.com
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