ENTREVISTAS
The Miami Flu
Jogos da vida real
· 15 Set 2016 · 10:57 ·
Pedro Ledo e Tiago Sales (metade dos Lululemon) juntaram-se a Tiago Campos e João Vilar e daí resultaram os The Miami Flu. Pouco tempo depois nasceu o álbum de estreia, intitulado Too Much Flu Will Kill You. Que é como quem diz um banho de surf rock (preferencialmente nas praias de Miami). O processo criativo envolveu um elemento que não costuma estar muito presente na hora de escrever e gravar um disco: os videojogos, como é possível observar numa das fotos em baixo.

Com o vocalista e guitarrista Pedro Ledo falamos sobre o nascimento da banda e como foi chegar até este disco de estreia. Falamos ainda sobre gripes em Miami e sobre, claro está, videojogos. Os The Miami Flu apresentam-se este sábado na D'bandada num concerto que acontece no Café au Lait e com a curadoria do Bodyspace.
Como é que nascem os Miami Flu? Como começa a vossa história?

Ainda em 2014, os 3 gajos de Lululemon pensaram em fazer uma banda diferente, apenas com a premissa de ser uma coisa mais pop e experimentar vozes. Por coincidência, no arrancar deste processo recebemos um e-mail de um gajo que curtia Lululemon e surf rock, morava relativamente perto de nós, e que queria fazer uma jam connosco. Nós aceitamos, ele trouxe a bateria dele e bastou essa mesma jam para sabermos que o Tiago tinha que ser o baterista desta nova banda. Entretanto, o Sales apaixonou-se pelo baixo e o Luca decidiu deixar a banda porque supostamente iria para o estrangeiro em breve. Com a saída dele, decidimos trocar uma guitarra pelas teclas e pusemos o melhor teclista de rock da zona, o João. Estava assim formada uma banda ainda sem nome nem destino.

Tu e o Tiago Sales já vinham dos Lululemon. Tinham vontade de experimentar outros territórios?

Sim, quem ouvir os discos de Lululemon percebe á partida que não nos contentamos com apenas um estilo de música e que nos aborrece fazer músicas parecidas. Compusemos músicas de rock, blues, surf rock, funk, bossa nova, post-rock, entre outras. Os Miami Flu manifestam essa mesma vontade, mas desta vez ampliada a mais membros e instrumentos diferentes para conseguirmos chegar a um resultado mais complexo e trabalhado tanto a nível melódico como harmónico.



Ouvi dizer que o vosso disco de estreia foi construído no meio de partidas de videojogos retro. Acham que isso inspirou também o som do disco?

Sem dúvida, até porque todos as consolas e videojogos retro estão no nosso estúdio mesmo á beira dos instrumentos. Temos uma coleção enorme de jogos de mega drive (a consola que marcou a nossa juventude), Nintendo NES (a primeira Nintendo) e uma Máquina Arcade Neo-Geo. As bandas sonoras das consolas nesse tempo eram exclusivamente compostas por Japoneses com um talento incrível para a música. Embora que possam ter um timbre um pouco estranho para muita gente por serem apenas sons de um chip (chiptunes).

Existem algumas experiências de discos feitos com essa missão. Recomendas algum em especial?

Existem discos feitos com a missão de emular o som dos videojogos mais antigos mas acaba por ser só isso: replicar o timble “8bit” e os sons da altura. A nível de composição, do que conheço, não têm grandes semelhanças, acho que tens mesmo de ser Japonês e estares inserido dentro daquela cultura para compores melodias daquela forma. Um bom exemplo disso são os Yellow Magic Orchestra, uma banda Japonesa de ‘78 (muito antes de existirem a Sega e a Nintendo, as consolas neste tempo praticamente não tinham banda sonora) que começou a fazer experiências dentro da música electrónica com computadores e sintetizadores da altura. Quem ouvir o disco “Solid State Survivor” vai facilmente associar o som aos jogos que surgiram mais tarde no final dos 80’s, principalmente pela forma de composição.

Fala-me do processo do disco propriamente dito. Como foi chegar até ao resultado final?

Chegar ao resultado final foi um misto de dias de muita alegria e dias de frustração profunda. Dias inspirados em que tínhamos ideias infinitas e dias em que só nos apetecia desistir de tudo. Tivemos que conhecer-nos aos 4 como músicos e mais difícil ainda, encontrar um rumo e uma sonoridade para a banda. Foram praticamente 2 anos de experiências, composição e gravação do disco. Além disso, usarmos vozes foi uma coisa nova para nós, tivemos que basicamente aprender a cantar e encontrar o nosso timbre. Muitas músicas e ideias ficaram de parte para um próximo disco enquanto que outras foram diretamente para o lixo. O disco foi inteiramente gravado por nós, no nosso estúdio.



Fizeram assim por uma questão de liberdade ou por não haver orçamento para contratar alguém?

Foi precisamente por uma questão de liberdade e tempo “infinito” para fazermos e experimentarmos o que nos apetecesse. Sem pressões de qualquer género.

Sentem-se uma espécie de OVNI na música portuguesa actualmente? Não há muita gente a fazer este tipo de som…

Acho que o objetivo principal de qualquer banda ou músico é soar o mais único possível e obviamente que também é isso que procurámos. No entanto, existem neste momento em Portugal muitas bandas de rock psicadélico, e nós acabamos também por pisar esse terreno de certa forma, o que faz com que tenhamos semelhanças com outras bandas. Porém, é algo que queremos abandonar no próximo disco.

Este disco tem rodado muito em cima do palco. Sentem que é um disco feito para a estrada?

Penso que o disco tem músicas que realmente funcionam muito melhor na estrada, ganham mais vida e energia. Enquanto que outras, devido a terem mais instrumentos em disco do que os que são possíveis tocar por 4 pessoas ao vivo, soam diferente. De qualquer das formas, algumas músicas sofreram alterações nos arranjos para funcionarem melhor ao vivo e terem um sabor diferente do disco.



O que é que podemos esperar no concerto da D’bandada? E o que é que vocês não querem mesmo perder?

Do nosso concerto podem esperar algo dinâmico, tanto estamos a tocar uma música do disco mais calma e melancólica como de repente estamos a tocar rock n’ roll no seu estado mais puro e de seguida entramos em algo mais tropical e ritmado. Ou seja, não vão haver músicas parecidas. O que não queremos perder no D’bandada: Fugly, que de certeza vai ser dos concertos com mais energia do evento; Surma, vi-a nas virtudes há uns tempos e acho que vale a pena rever; Bonga, porque sim; Marvel Lima e Sallim, porque nunca vi e tenho curiosidade.

Será mesmo a gripe em Miami diferente da nossa?

A gripe de Miami propriamente dita é quando um sujeito snifa mais cocaína do que o que devia (se é que devia snifar alguma). Para sentirem a gripe dos “Miami Flu”, podem começar aqui a contaminação no nosso site.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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