ENTREVISTAS
Ghost Hunt
Máquinas da paz
· 10 Set 2015 · 17:26 ·
A história dos Ghost Hunt é bem curta ainda. Desde o momento em que se decidiram juntar (no final de 2014 em Lisboa) até aos dias de hoje, Pedro Oliveira (ex-Monomoy) e Pedro Chau (The Parkinsons) mostraram-se ao mundo com o lançamento de um EP com três temas - a que chamam carinhosamente de demos - e em alguns, não muitos, concertos. Sintetizadores, guitarra e baixo. É tudo o que precisam para explorar uma música que é feita à medida para viagens interiores. Falamos com Pedro Chau sobre, entre outras coisas, como é essa missão de tentar fazer a paz entre o rock e as máquinas. Este sábado actuam no âmbito da NOS em D'Bandada 2015, mais precisamente no Café au Lait, no Porto. 
© António Bernardo
Comecemos pelo princípio. Ambos têm e tiveram diferentes projectos, como é que juntam para este projecto?

Este projecto nasce de uma grande vontade em fazer música, tocá-la e gravá-la. Desde o início que nos apercebemos que existe uma boa possibilidade de fazer a nossa própria música.O Pedro Oliveira sabia que eu andava com desejo de tocar baixo num projecto novo e um dia fez-me o convite para tocarmos. O resultado agradou a ambos e passado algum tempo decidimos formar Ghost Hunt. É gratificante ver que depois de um ano desse mesmo encontro, as nossas músicas têm vindo a evoluir. Há uma forte dedicação ao que fazemos, principalmente pela parte do Pedro Oliveira que passa muitas horas a tocar e a aperfeiçoar as músicas. É uma honra poder acompanhar no baixo uma pessoa que cria música como ele.

Foi fácil acertar agulhas, conciliar gostos e manias? Parece-vos fácil gerir uma relação musical a dois?

Foi também fácil acertar agulhas e conciliar gostos porque gostamos de muita coisa em comum. Foi precisamente essa a razão que nos aproximou. Entre os 13th Floor Elevators e o Aphex Twin, podíamos estar aqui a mencionar uma quantidade de grupos que não acabava. Quando nos encontramos, para além do tempo que tocamos, passamos tempo a ouvir música e a comentá-la. Creio que é mais fácil gerir uma relação musical a dois do que a 4 ou 5.

© Vitória Galão

Como descreveriam o processo de composição e registo do vosso EP de estreia?

Nunca tivemos a intenção de chamar às três músicas, de EP, mas compreendemos que possa ter sido interpretado dessa maneira. São as nossas primeiras demos e apesar de terem sido muito importantes no momento em que as lançámos, já não correspondem ao que estamos a tocar agora. Talvez o "Space Race" tenha sido a que sofreu menos alterações. As outras duas estão agora bem mais completas e trabalhadas. Neste momento a melhor via para nos conhecer é assistir a um concerto ao vivo, mas num futuro próximo esperamos começar a gravar um álbum completo. Quanto ao processo de composição, normalmente as ideias surgem enquanto tocamos. Quando temos uma ideia geral de um tema, tocamo-lo e aperfeiçoamo-lo ao mesmo tempo. Passamos muitas horas a tocar a mesma coisa até surgir o tema final. O caso das demos foram gravadas ao vivo em ensaios.

Olhando para trás, a considerando a vossa experiências, como analisam a evolução da música portuguesa no que toca a plataformas, exposição, publicações, espaço e, porque não, criatividade?

De uma maneira breve e evasiva à questão, acho que tem havido uma evolução no que toca à criatividade e exposição. Acho que nunca houve tão boa e variada música em PT. No entanto, continua a existir muita coisa má que não merecia a cobertura mediática que tem.

Como gostariam que os Ghost Hunt encaixassem no actual cenário da música portuguesa?

Gostávamos de desencaixar como um projecto que tem as suas características particulares, honesto, que se dedica a fazer a música que gosta sem seguir modas. Gostávamos de participar tanto em eventos de rock como de música electrónica e mostrar que instrumentos de rock e máquinas se podem dar muito bem.

Que tipo de bandas portuguesas vos entusiasma nos dias que correm? Existe alguma realidade musical com a qual se identifiquem particularmente?

De momento lembro-me destas: Los Black Jews (disseram num concerto que iam mudar de nome a pedido de várias famílias, mas não sei se estavam a falar a sério ou a brincar), Beautify Junkyards, 10.000 Russos, Psicotronics, Acid Acid, Dreamweapon. Existem algumas realidades musicais que gostamos, mas aquela que de momento nos identificamos mais é a nossa própria realidade, aquela que criamos com o desenvolvimento deste projecto. O que tocamos é um reflexo de nós mesmos, do que sentimos e queremos expressar.

© Vitória Galão

Quando poderemos contar com um disco? Ou ainda haverá um outro EP antes disso? O que vos apetece fazer a seguir?

Esperamos para breve lançar mais uma demo e começar a gravar o nosso primeiro disco, os temas já existem mas ainda não foram gravados. Em 2016 podem contar com isso.

Como foi a experiência no Reverence Valada? Sentiram que foi o vosso maior desafio até à data?

Acho que uma boa parte de pessoas que eu gostava que tivesse assistido ao nosso concerto nos perdeu por termos tocado já depois das quatro da manhã, mas em geral a experiência foi excelente. Foi um privilégio poder tocar no Reverence, ainda por cima no mesmo dia que Amon Düül e The Horrors. O staff do palco praia esteve muito bem, acho que nunca tínhamos tido um som tão bom. Passado este desafio, julgamos que estamos mais à vontade e confiantes para o que vier a seguir.

Este sábado actuam na D’bandada. O que é que o público presente poderá esperar deste concerto?

Para quem nunca nos viu, poderá ser uma boa surpresa. Para quem já nos viu, acredito que não se vai desiludir.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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