ENTREVISTAS
Capicua
Sem segundas intenções
· 27 Mar 2014 · 00:03 ·
© Pedro Geraldes
O que mudou desde o início até agora, ao lançamento do segundo álbum?
Ganhei experiência e maturidade enquanto rapper. Cheguei a um público mais alargado e angariei mais atenção para aquilo que faço musicalmente. O que me trouxe muitas oportunidades de concertos, colaborações interessantes com outros músicos e até mais possibilidades de profissionalizar a minha actividade.
Capicua do dominó ou dos números? Porquê?
Capicua porque me chamo Ana.
Recorrendo a uma analogia com o jogo de tabuleiro, faz parte dos teus ideais destruir as fileiras sociais?
Não sei bem o que é isso de “destruir fileiras sociais”. Mas se estás a falar das minhas ideias políticas, posso dizer que tenho uma agenda de preocupações sociais que é transversal às minhas letras. Gosto de fazer pensar e de usar a música para questionar a realidade que nos rodeia. Sinto essa responsabilidade.
Li algures que começaste no hip-hop pelo graffiti... Já foste writter? Conta-nos isso um pouco melhor.
Comecei a fazer Graffiti aos 15 anos e foi esse o meu primeiro contacto com o Hip Hop. Foi por esse interesse que comecei a frequentar festas e concertos de Rap e a construir o meu grupo de amigos dentro da cultura.
Pintava no Porto e a minha crew chamava-se UCA. Com o passar dos anos, fui ganhando interesse pelo Rap e o Graffiti foi ficando para trás.
Como vês a relação da cidade, da autarquia e dos writters portuenses com a arte urbana?
Os writers têm feito a sua parte com empenho e sempre na resistência. A autarquia reprime ou promove a arte urbana consoante os interesses e as modas, em busca de aproveitamento populista. Os media exploram esta relação... É o normal.
© Miguel Refresco
Na biografia do teu site oficial pode ler-se que és MC militante. O que entendes por MC militante?
O Rap exige muita dedicação. Quando digo “Mc militante” quero dizer que me dedico ao rap intensamente, levando-o muito a sério. Como uma missão.
Fizeste parte da Syzygy, grupo de hip-hop feminino que há uns anos conseguiram algum relevo na cena portuense e mesmo nortenha. O que guardas dessas e outras experiências em grupo?
Guardo saudades. Foi uma parte muito importante do meu crescimento musical e até hoje mantenho a M7 e o D-One comigo no palco!
No que respeita à produção de Sereia Louca, continuas a depositar essa responsabilidade noutras pessoas? O que se alterou nos procedimentos de trabalho do primeiro disco para este?
A principal alteração é que este disco tem uma parte acústica (feita de versões de temas de trabalhos anteriores) e, portanto, uma boa parte das músicas nasceu no palco, com instrumentos e na colaboração com o Mistah Isaac e os They’re Heading West.
Neste último trabalho, optaste por convidar alguém para partilhar o cargo das vozes?
Tenho três convidadas especiais! A M7 que entra no tema “Mão Pesada”, a Gisela João (no refrão da “Soldadinho”), com quem já tinha colaborado quando escrevi uma letra para o álbum dela e, finalmente, a Aline Frazão, que tem um talento incrível e que canta um poema de José Gomes Ferreira no refrão do “Lupa”!
© Miguel Refresco
És tão eclética na escolha de sonoridades, quanto nas temáticas que abordas através das letras. Em certa medida, sinto que abriste a porta do hip-hop a um outro tipo de sensibilidade e preocupações. Concordas?
Eu acho que o Rap é habitualmente muito aberto a misturas e muito diverso nas temáticas, mas como há um grande desconhecimento da imensa variedade de estilos e rappers que cabem na cena nacional, acabam por achar que sou uma espécie de excepção! Não me reconheço nessa qualidade e acho que sou mais um dos “pantones” no imenso arco-íris que compõe o nosso Rap.
A tua entrada no panorama nacional de música portuguesa colocou em crise dois dos mais impregnados preconceitos formados acerca dos grupos hip-hop: és mulher e és doutorada. Havia esta intenção de emancipação em prol da igualdade?
Eu sou o que sou, por isso não pode haver intenção por detrás da minha identidade! Faço Rap porque é o que mais gosto de fazer! Agora, acho que indirectamente, posso contagiar algumas pessoas pelo exemplo, inspirando pela identificação, como fazem todos os rappers. E se puder inspirar outras mulheres, tanto melhor!
alexandrajoaomartins@gmail.com
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