ENTREVISTAS
The Haxan Cloak
Do outro lado do espelho
· 15 Nov 2013 · 20:48 ·
Há algo muito físico em The Haxan Cloak. Os drones prolongados, os pormenores ensombrados por um grande plano que paira sobre todo o disco, a densidade bem negra que povoa Excavation… Tudo, com mais ou menos detalhe, deixa-nos com a sensação de que saímos agastados, como se de uma viagem se tratasse. Pelo menos esse propósito, o de nos fazer sentir passar por uma viagem nada agradável como a personagem, é cumprido na perfeição. A culpa é de Bobby Krlic, músico, produtor e compositor que vai estar no Semibreve já amanhã. Quisemos saber mais sobre como se constrói este mundo e o que é estar em estúdio e em palco com The Haxan Cloak. O resultado, curto e directo, está em baixo.
Consideras a criação de música mais desgastante física ou psicologicamente?

Eu diria os dois. A reacção física é a mais imediata, particularmente por causa das frequências que eu utilizo, mas por detrás disso estão temas que eu espero que sejam ainda mais permeáveis nas pessoas.

E a tua música reflecte a pessoa que és?

Claro. Criar música, para mim, é uma manifestação criativa da honestidade e vitalícia. O que eu quero dizer é que todas as intenções que tenho para com a música são as mais puras. Não diria que sou uma pessoa “negra” ou “deprimida”, mas as coisas que eu crio encontram eco em vários interesses que eu tenho e que acabam por fazer parte da minha personalidade.



Como foi a gravação deste Excavation?

O Excavation foi gravado em vários locais diferentes. Grande parte dos sons que o compõem foram criados em Snape Maltings (um complexo artístico em Inglaterra), onde eu passei algum tempo. Eles têm o apoio financeiro da fundação Benjamin Britten, por isso têm muitos meios. Passei cerca de uma semana dentro de um estúdio, com uma biblioteca de instrumentos de orquestra à minha disposição. O que eu fiz foi fazer imensas gravações que me permitiram desenhar e projectar a base do Excavation. Não há qualquer tipo de samples neste disco, fui eu que fiz tudo.

Visto que também produzes, interessava-te desenvolver as tuas capacidades enquanto produtor?

Se o projecto for interessante, ou eu sentir que é o mais acertado, definitivamente. Acabei de produzir um disco para os The Body, em Nova Iorquem, e estou extremamente orgulhoso dele.

Concordas que os meios determinam sempre o fim – neste caso o som final do disco?

Certamente. Contudo, isso só acontece porque usei instrumentos como ferramenta de composição. Neste disco em particular, o que fiz a seguir foi recorrer a várias técnicas digitais para dar ênfase à narrativa do disco. Tudo o que usas para criar e compor vai condicionar o produto final. Se escolhes ou não seguir certos caminhos é o que acaba por fazer a diferença no final.

Podes falar-nos um pouco mais do conceito por detrás do Excavation?

Este disco fala basicamente de uma personagem e a sua passagem para o outro lado, após a morte. O Excavation começa exactamente onde o disco anterior acaba e conta a viagem desta personagem em direcção a uma nova existência.

Com tantos pormenores e detalhes, quase que parece surpreendente que dês concertos. Como é que abordas todas estas questões em palco?

Pelo contrário, acho que as pessoas deviam esperar ver algo como The Haxan Cloak ao vivo. Penso que esse é um problema inerente à forma como os concertos são recebidos hoje em dia. Para mim, tocar ao vivo é como fazer um disco. A única diferença é que um concerto não te permite ter a atenção que várias audições repetidas de um disco permitem, por isso acaba sempre por ser mais intenso e mais directo.



Já pensaste tocar com outros músicos?

Já, claro. Para já ainda não estou preparado para dar esse passo, mas num futuro próximo é algo que espero que aconteça.

Achas que tanto o sítio onde tocas ou as pessoas que lá estão não influenciam o teu concerto?

O meu objectivo é que a minha performance influencie o espaço e o público, não o contrário.

Houve alguma reacção a um concerto teu que te tenha marcado?

Já vi de tudo: náuseas, choro, danos na audição, gritos…
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com

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