ENTREVISTAS
A Place To Bury Strangers
Sinto a cabeça a explodir
· 23 Out 2013 · 23:01 ·
É assim: uma drum machine a colocar a terra a tremer, noise a rodos e canções narcóticas como "To Fix The Gash In Your Head". É isto que torna os norte-americanos A Place To Bury Strangers num dos melhores nomes da vaga shoegaze do século XXI, como se pode comprovar nos três discos que editaram desde 2007, onde o ruído e a melodia pop se conjugam, juntamente com a urgência do caos rock ' roll, para criar algo com adrenalina q.b. que nos faça acreditar que ainda existe vertigem no mundo choninhas de hoje. Os APTBS irão passar pelas Cartaxo Sessions e pelo Porto já no início do próximo mês mas, antes disso, Oliver Ackermann teve a simpatia de nos responder a algumas questões. Para ler aí em baixo.
O vosso primeiro disco saiu pela Killer Pimp, o Exploding Head pela Mute e o Worship tem o selo da Dead Oceans. São demasiado selvagens para serem domados por uma única editora?

Gosto de me adaptar a qualquer que seja a situação corrente - por isso tivemos editoras diferentes a trabalhar connosco em tempos diferentes. Todas elas são fantásticas e colaboraria de novo com elas.

Parece haver um tema base no Worship - tens o tema-título, a "Mind Control", a "Fear", a "Alone"... que procuravam vocês com este disco, que vos passava pela cabeça na altura e como foi o processo criativo diferente dos registos anteriores?

Muito desse disco foi escrito em fluxo de consciência, por isso é um registo de auto-descoberta e reflexão sobre o estado das coisas em nosso redor e de como o compreendemos. O Dion e eu juntámo-nos todos os dias ao longo de cinco semanas e compusemos uma canção nova cada dia. Era a primeira vez que trabalhávamos juntos e atirámo-nos de cabeça. Foi também a primeira vez que trabalhei tão depressa para acabar tanto trabalho mas foi verdadeiramente bom não pensar demasiado nas coisas e deixar o que quer que fosse acontecer naturalmente. Trabalhámos muito para poder deitar logo fora muito disso, e isto é algo importante. Tínhamos tantas canções que conseguimos captar desde logo quais se conjugavam melhor entre si, de um modo harmonioso, e compusemos assim o Worship.



Disseste numa entrevista, e cito, «basicamente queres que as pessoas percebam desde logo que isto não é um disco pop...», mas canções como "You Are The One" e "Dissolved" são certamente pop, do mesmo modo que os Jesus & Mary Chain eram uma banda pop. Ao escrever uma canção, tentas deliberadamente torná-la tão "afiada" quanto possível, ou a melodia também tem uma grande fatia no processo composicional?

A melodia é chave. O som é chave. O ritmo é chave. As letras são chave. Tudo pode ser igualmente importante e cada pequeno detalhe extremamente importante, para mim. Mas depois há esta coisa que rebenta com toda a sensatez e tudo o resto. É um sentimento. Nem o sei descrever. É apenas a maneira como o teu corpo se sente bem com algo. Uma engrenagem que encontra outra engrenagem e coloca a máquina da excitação a funcionar. Tenho mesmo tentado captar isto recentemente. Às vezes, uma composição soa melhor quando está mal feita. Não falo de coisas que não fazem sentido matematicamente ou daquelas ocasiões em que uma ponte ou um acorde transitivo fica pela metade, mas quando existe algo realmente mal executado. Um tipo de som ou um movimento estranho pode reformular tudo. Isto é mágico e, às vezes, há que deixá-lo lá.

Que achas do epíteto de "banda mais ruidosa de Nova Iorque" que vos colaram? Achas que vos ajudou a alcançar maior reconhecimento fora de portas que de outro modo não obteriam ou faz mais mal do que bem?

Tem e não tem ajudado. Se fosse eu não quereria ir ver a banda mais ruidosa do sítio que fosse. Isso não me diz nada, ser ruidoso. Mas somo-lo, de facto, e somos loucos e fazemos muitas coisas imbecis, por isso talvez faça sentido e talvez as pessoas pensem nisso quando o lêem.

É a primeira vez que tocarão em Portugal. Que podemos esperar dos vossos concertos?

Vai ser fodido e vai estar fora de qualquer controlo. Para além disso, vamos tentar tocar um pouco de música.



Que nos podes dizer acerca da Death By Audio - para aqueles que ainda não a conhecem?

Começou como uma companhia de pedais de efeitos em 2001 e tornou-se igualmente um local de eventos em 2008. Já desenhámos e construímos pedais originais para gente como o Trent Reznor, a Lauren Hill, a Lady Gaga, o Brian Chippendale, os Wilco, os U2, Xiu Xiu, Tame Impala, My Bloody Valentine e milhares de outros artistas por esse mundo fora. O recinto é um espaço para todas as idades no nosso armazém em Brooklyn que coloca arte de que gostamos disponível para os residentes de Nova Iorque. Tudo o que fazemos tem qualidade e serve para ajudar a promover boas pessoas que fazem boas coisas.

Que reserva o futuro para os APTBS?

Vamos continuar a aperfeiçoar aquilo que as pessoas têm ouvido e a seguir caminhos mais extremos enquanto mantemos a nossa estética, aquela que tem crescido connosco. Isso torna-o cada vez mais difícil mas é assim a vida. Tentar sempre procurar a próxima coisa que nos espante.

Já que abriram para eles há tempos, que achas do novo disco dos Nine Inch Nails?

Acabei de o ouvir. É porreiro. Tem ali umas canções funk maradas e algumas malhas rock e música ambiente...
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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