ENTREVISTAS
peixe:avião
peixe:avião já não "faz de conta"
· 20 Out 2013 · 23:14 ·
Em 2007 nasciam, em Braga, os peixe:avião. Não foi necessário muito tempo para que a banda, agregando vários fragmentos de outros grupos locais, chegasse às rádios nacionais mais alternativas e enchesse auditórios, sempre sob a fantasmagórica comparação com os britânicos Radiohead. Desde cedo que Pedro Oliveira, Ronaldo Fonseca, Luís Fernandes, José Figueiredo e André Covas se quiseram descolar desta etiqueta. Primeiro, fingiram a fazer de conta no EP. Seguiram-se 40.02, em 2008, e Madrugada, já lá vão três anos. Do “Avesso” – single do álbum homónimo da banda, editado este ano- os peixe:avião encontram um equilíbrio entre a música electrónica dançável e o rock simplificado, apenas atingido através do crescimento grupal sustentado. Deste trabalho destaca-se ainda a preferência por uma estética noir, minimalista e geométrica em múltiplas dimensões.
Parece que foi ontem mas o vosso primeiro EP saiu há mais de cinco anos. O que pretendiam de e para estes peixe :avião alterou-se? Se sim, em que termos?

Luís Fernandes: No essencial penso que não se alterou. À semelhança de hoje pretendíamos, em cada uma das fases por que passamos, que a nossa música reflectisse aquilo que éramos naquele preciso momento e que essa mesma música fosse ouvida por o maior número de pessoas, fosse em disco ou em concerto. O que se foi alterando com o tempo foi a própria personalidade da banda e a música daí decorrente, que foi mudando em cada registo.

Ao terceiro álbum... O homónimo. É de facto o que mais se identifica com a vossa ideia de peixe:avião?

André Covas: Não podemos dizer que seja aquele que se identifica mais com a nossa concepção do que é peixe:avião, até porque suponho e espero que a cada disco que façamos, essa ideia do que é “peixe:avião” ganhe outras formas.

L.F.: É aquele que teve na sua génese um maior contributo do grupo e que partiu menos de composições individuais por isso reflecte melhor uma ideia de banda.



A PAD agrega um conjunto de bandas do norte do país que regularmente trabalham em conjunto. Nesse sentido, como descrevem o crescimento da editora bracarense?

L.F.: A nossa perspectiva é que tem crescido de forma sólida e sustentada. Apesar de ter havido um certo boost no último ano, com uma entrada significativa de novos artistas, as coisas continuam a manter-se a um nível quase familiar. Apesar de a música ser o factor essencial, existe sempre uma ligação anterior de foro pessoal em relação a todos os artistas. Temos tentado apurar processos e metodologias que permitam trabalhar as edições de uma forma mais competente.

A.C.: A estrutura tem-se tornado mais ágil nalguns aspectos, mas permanece muito caseira e familiar. Gostamos disso, dessa proximidade e da convivência estreita com os membros da PAD e directa com a pequena comunidade que nos vai seguindo.

Mesmo a nível gráfico, a estética da banda também se transformou – o preto e branco e a importância da geometria. Qual a razão?

L.F.: Foi de encontro ao que a música pedia. Tentamos sempre que haja coerência a esse nível mas neste disco talvez seja o que melhor transmite essa ideia de unidade, na minha opinião pessoal.

A.C.: Sim, achámos que este disco era sem dúvida monocromático. Quisemos traduzir por um lado isso, por outro o carácter “analógico” e as texturas do disco, nas fotos, e por fim a redução e depuração dos recursos usados, através de uma grelha muito estrita.

Há uma opção clara pelo minimalismo e pela objectividade. É este um sinal do amadurecimento e da consistência da banda – um rumo bem traçado?

L.F.: É, essencialmente, o rumo que queríamos seguir nesta fase da nossa carreira. Fazer um contraponto ao disco anterior, que era bastante denso instrumentalmente e com muita informação musical. Ainda que a banda esteja mais amadurecida o disco anterior já tinha sido bastante consciente, principalmente comparado ao 40.02. Acima de tudo não queremos fazer dois discos iguais.

A.C.: Balizámos bem este disco. Sabíamos aquilo de que queríamos fugir e tivemos vontade de trabalhar com menos recursos tanto ao nível da composição como da instrumentação.

Apesar de, como o Luís disse numa outra entrevista, este disco ser mais cru, sendo mais rock, também a electrónica se encontra viva e ganha densidade certeiramente. Encontraram o vosso ponto de equilíbrio?

L.F.:Quando falei em ser mais rock falava essencialmente ao nível da linguagem musical. É música de três acordes. Em termos de instrumentação concordo contigo. Penso que nunca conseguimos equilibrar de forma tão harmoniosa a electrónica com a instrumentação tradicionalmente “rock”.

A.C.: O que não quer dizer que nos satisfaçamos com este equilíbrio por muito tempo!

Madrugada contava com duas colaborações: de Manuela Azevedo e Bernardo Sassetti. A prática inexistência de convidados e, por exemplo, de versões é propositada ou ocasional?

L.F.: Foi uma decisão unânime e inicial não ter músicos convidados no disco, seguindo a lógica do contraponto aos discos anteriores. Para além disso queríamos que o disco reflectisse o máximo possível a lógica de banda, sem intervenções externas.

A.C.: Este disco teve envolvida no seu todo uma estrutura ainda mais pequena do que o Madrugada. Quisemos manter as coisas o mais “a cinco” possível.

Em 2008 acreditavam que era difícil catapultar bandas a partir de Braga. A cidade mudou ou a opinião mantém-se?

L.F.: Se te referires a um catapultar em termos mediáticos acredito que é mais difícil para uma banda que não seja de Lisboa. Não tem necessariamente a ver com Braga. É algo difícil de contornar quando a maioria dos media estão lá sediados. É também natural que estejam mais em contacto com o que os rodeia geograficamente.



A forte ligação com a língua portuguesa é evidente, ou não fossem todas as letras em português e não tivessem convidado Luxúria Canibal e valter hugo mãe para escreverem os press’s release dos últimos discos. Como a explicam?

A.C.:Não foi de todo uma decisão baseada nalgum tipo de patriotismo ou coisa que o valha. Foi meramente uma opção artística.

L.F.: Foi também uma decisão inicial. Pretendíamos explorar a língua portuguesa num contexto que, na altura, ainda não era muito usual.

Lembro-me de concertos vossos completamente esgotados, ainda aquando do lançamento do EP. O que aconteceu a 21 de Setembro no Theatro Circo? Como resulta o disco ao vivo?

L.F.: O concerto de dia 21 correu lindamente. Em termos de público os tempos são diferentes e as pessoas não aderem tão facilmente a concertos, mas, ainda assim, não nos podemos queixar. Pela forma como o disco foi construído a transposição para o palco é natural e os temas resultam de forma imediata.

A.C.: Trabalhámos também a componente visual para conseguirmos transmitir a estética do disco na sua globalidade e o disco ganha uma nova dimensão ao vivo.

Um terceiro longa-duração é o caminho para uma longa carreira? Que planos guardam para o futuro?

L.F.: Queremos acreditar que ainda temos um caminho longo pela frente, claro! No futuro próximo pensamos em levar o disco ao máximo de locais possível. Depois pararemos para pensar e decidir o que fazer de seguida.
Alexandra João Martins
alexandrajoaomartins@gmail.com

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