ENTREVISTAS
Villa Nazca
Um lugar ao sol
· 24 Jul 2013 · 16:50 ·
Os Villa Nazca nasceram do intimidade entre Filipe Miranda e Lisete Santos. É o som de uma casa para o mundo. A casa deles. O mundo deles. Outrora nos Kafka, os dois músicos criaram um espaço de partilha que gera canções ao ritmo que lhes apetecer. Porque os Villa Nazca é um espaço de liberdade. Desse espaço de encontro criativo nasceu o EP Nós, espécie de rampa de lançamento para o que aí pode vir, espécie de tubo de ensaio para o futuro. Sem pressões, sempre pressas, sem compromissos. Para saber mais acerca das fundações desta casa musical, e aproveitando o concerto que darão este fim-de-semana inserido no Milhões de Festa, fomos falar com Filipe Miranda e Lisete Santos.
Como é que nascem os Villa Nazca? Não no sentido prático, mas no sentido mais criativo, mais, errrrr, filosófico. Nasce de alguma necessidade, de alguma motivação?
 
Filipe Miranda: Não sei se terá um sentido assim muito para o filosófico, é uma motivação natural. Tocar em casa é algo que fazemos no dia-a-dia, despreocupadamente, até decidirmos lançar em disco para partilharmos com os outros. Ao nível de conceito, ele fez-se sozinho… Villa Nazca não é só o nome da banda, mas também o nome da nossa primeira casa, quando ainda vivíamos em Barcelos. É talvez um pequeno pulsar romântico da ideia de podermos projectar pequenos sons de uma pequena casa para o resto do mundo. 
 
Este é um projecto com um cunho eminentemente pessoal e, até familiar, digamos assim. Quais são os riscos mais evidentes desse conforto?
 
Lisete Santos: Basicamente, a preguiça. Não temos um local de ensaio para onde ir, com mais gente à espera que nos obrigue a horários ou compromissos. Isso faz com que as coisas demorem mais tempo a arrancar, tipo editar um disco ou decidirmo-nos a dar um concerto.


 
E as maiores vantagens?
 
Lisete Santos: As maiores vantagens são, curiosamente, as desvantagens. O facto de ser tudo feito em nossa casa dá-nos mais liberdade para aproveitar um momento mais criativo que surja. É só subir as escadas e gravar ou experimentar uma letra ou um som.
 
Falem-nos da Casa del Sol. O que representa esse lugar para ambos?
 
Lisete Santos: É onde sempre quisemos viver… estar junto ao mar, num sítio calmo, relaxado e muito bonito… é inspirador.
 
Filipe Miranda: E a Casa del Sol é o espelho dessa inspiração. Para nós representou a luz, uma nova vida. É o que nós quisermos, uma casa, um atelier, um estúdio, um terraço ao fim de tarde com a família e os amigos…
 
Falem-nos do EP Nós. Conseguiram que os Villa Nazca fossem tudo o que queriam nesse registo?
 
Filipe Miranda: Não. As primeiras gravações começaram por ser temas mais acústicos, uma coisa mais simples de guitarra e vozes, tipo os temas “Eu e tu”, “Canção roubada” ou o “Sábado”. Depois virou-se para umas experimentações instrumentais como a malha que deu origem ao tema “Livre” ou a brincadeira com a voz do nosso sobrinho no “Kikku”. Entretanto descobrirmos o potencial da electrónica lo-fi nas nossas músicas, ao nível do ritmo e sons que sacámos de um pequeno teclado de baixa qualidade, como acontece na “Com uma dança no peito. O EP Nós mostra essa procura e experimentação, mostra essa amplitude, mas não o sentimos como uma obra final… É como um work-in-progress que aponta algumas das direcções possíveis para Villa Nazca. 
 
Há alguma coisa da experiencia dos Kafka ainda? O que restou dessa vossa aventura?
 
Lisete Santos: A descontração, a cumplicidade e o sentido de se fazerem coisas em família. 


 
Nos Villa Nazca cantam em português. Algum motivo especial para isso acontecer?
 
Lisete Santos: Pessoalmente, eu prefiro cantar em português. Sinto-me mais confortável e as letras ganham um significado mais profundo. Como o Filipe também compõe bastante em português e tem várias músicas que nunca editou (por não se adequar aos projectos que tem a solo ou com outras bandas), algumas dessas canções são canalizadas para Villa Nazca. 
 
O que têm a dizer acerca do Milhões de Festa, onde actuam este fim-de-semana?
 
Lisete Santos: É um festival que ambos gostamos bastante e que leva a Barcelos muita boa música. O espírito do festival é muito bom e traz novas bandas que, de outra forma, seriam desconhecidas para nós. Também o que mais o diferencia dos outros é o facto de não concentra num único espaço tudo o que por lá passa. Exemplo disso será a nossa actuação, que é inserida num conceito de espalhar gratuitamente música por toda a cidade em locais que, à partida, seriam improváveis.
 
Filipe Miranda: E esta edição do festival, para Villa Nazca é mais especial, porque vai ser a primeira vez que vamos tocar ao vivo.
 
Quais são os vossos planos para este projecto? Para quando um novo lançamento?
 
Filipe Miranda: Quando nos fizeram essa pergunta na altura do lançamento do disco, não saberíamos dizer, a ideia era apenas gravar algumas músicas e partilhá-las, só isso. Mesmo os convites para tocar… fomos recusando, porque nem sabíamos bem o que queríamos fazer ao vivo. Agora, estamos com vontade de voltar a gravar e temos uma ideia do que gostaríamos de fazer em concerto ou em estúdio. Este ano, ainda vamos estar muito atarefados com fraldas e biberons, mas acho que vai sobrar algum tempo para lançarmos novas músicas e, quem sabe, talvez até agendar umas datas perto de casa para podermos experimentar tocá-las ao vivo.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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