ENTREVISTAS
Sensible Soccers
Voar como o Falcao sobre os centrais
· 28 Dez 2011 · 11:13 ·
À altura em que se escreve este texto introdutório está-se, apropriadamente, a ler notícias da bola. Até porque, para o bem e para o mal, o desporto-rei é das poucas coisas que ainda vão enfiando um sorriso na cara das pessoas em crise, especialmente nas que têm o condão de torcer pelo clube certo. Mas não falemos de futebol, falemos de música. Falemos de malta sensível e fã de futebol que faz música, como é o caso de Emanuel Botelho e Hugo Alfredo Gomes, duo formador dos Sensible Soccers que disponibilizaram algum do seu tempo online para responder a umas poucas perguntas. Do EP que lançaram este ano que vai findar já nós falámos, ouvimos, e ficámos maravilhados. Isto se sobrevivemos ao vídeo de "Missé-Missé". Mas até Ian Curtis haveria de ter gostado dele.
Porquê Sensible Soccers se o melhor jogo é obviamente o Itália ´90?

Emanuel: Se é para partir para isto com uma entrada à Pepe, muito bem. Vale estoiros ao redes?

Hugo: O Itália ´90 é chato. O Sensible Soccers dava para trocar o nome dos jogadores. Podias fazer a equipa do teu grupo de amigos se te apetecesse. Podias meter o gordo à baliza!

Que me podem contar dos vossos concertos no país vizinho que ainda não tenham partilhado no Facebook? Que retiram da experiência? Pelo que tenho lido em blogs nuestros hermanos gostam mesmo de vocês...

E: A AMDISCS Winter Showcase foi pródiga em situações para contar às gerações vindouras, mas não são para andar por aí a ser faladas aos quatro ventos. Não vou estar para aqui a falar de como os Madrilenos gostam de farlopa. Mas deixamos um aviso útil: esqueçam a ideia de navegar pelo centro de Madrid com um GPS.

H: Foi uma demência à moda antiga. Aconteceu de tudo. Passamos a viagem inteira a ouvir Capitães da Areia e a comer bocadillos de badejo. Os concertos correram muito bem e fomos muito bem tratados, principalmente na Galiza. Em Madrid fomos muito bem tratados por um rapaz do Bangladesh e em Barcelona tocamos numa espécie de ex-boîte.

E: Sim, é impensável não deixar aqui um abraço muito forte a quem nos recebeu na Galiza. Foram os momentos mais fortes da tour, a todos os níveis, e temos de deixar aqui o nosso sentido agradecimento a toda a malta do Bar Labranza (Meiro, Bueu): Rafa, Xavi, Sergio e todos os outros que tornaram a experiência incrível. E como agora fiquei todo emocional, um abraço apertado ao resto da comitiva: Lima, Rado, Stepan, Sean, Anezka, Martin, e Tomas.


Como surgiu esta ligação à AMDISCS? Quem contactou quem? Tem sido uma colaboração positiva?

E: Começámos a trocar e-mails com o Rado, da AMDISCS, desde que começámos a ter alguma presença na net, com as primeiras demos. A nossa primeira edição oficial, é, aliás, um tema na Twilight Sausage Mixtape da AMDISCS para a International Tapes. Foram os primeiros a propôr-nos a edição de um registo, que ficou desde o início decidido que seria um EP, e que foi sendo trabalhado em várias fases, e profundamente influenciado pela entrada do Filipe e do Né. Dessa forma, foi natural aceitarmos o desafio que nos colocaram, de partirmos em tour pela Ibéria. Foi altamente.

H: A relação com a AMDISCS é boa porque é desprendida. Não há grandes filmes com o momento da edição e eles gostam genuinamente das nossas coisas. Além disso, o circuito que eles já criaram em seu torno permite chegar a um público bem simpático. No entanto continuamos desvinculados a tudo. É imprescindível para nós estarmos livres nesta fase para fazermos o que nos apetecer.

As reacções ao EP de estreia têm sido bastante boas, e uma coisa que acho curiosa é o facto de muita gente adjectivar-vos de "vício". Não têm medo de serem penalizados por uso de doping? Estavam à espera de elogios assim tão vincados para uma estreia?

E: Acho que não estávamos à espera de nada em concreto. Eu não sabia o que poderia esperar, sempre tive algum medo das reacções, porque não acho que o que fazemos seja muito fácil e atraia um público muito vasto. Mas está a ser uma boa surpresa. E nada que condicione aquilo que temos planeado para o futuro próximo. O povo português tem sido magnífico.

H: Eu achava que corríamos alguns riscos, mas tinha confiança total nas nossas músicas e nas nossas emoções, por isso estava completamente descansado. Isso fez com que não estivesse à espera de nada em específico.

E: Ei, eu não escrevi aquilo do povo português... Vai pró caralho, Hugo!

Não gosto muito de fazer comparações (ou talvez goste), mas ao ouvir o vosso EP lembro-me de uma excelente banda: os Disco Inferno. É uma influência ou nunca ouviram?

H: Eu nunca ouvi. A minha grande influência são os Brian Adams.

E: Nunca ouvi. A minha influência principal devem ser os Die Antwoord, que foi o que mais ouvi enquanto estivemos a fazer o EP. Quando estamos todos juntos ouvimos John Maus e estamos sempre a cantar a "Nightingale" dos Low.

Para além do futebol, o que vos leva a criar canções?

H: A necessidade de estarmos juntos e o casamento do Emanuel.

E: A Casa dos Segredos e a sobrevivência da espécie.

H: Pallestrina, Manuel Göttsching e Creed.

E: Internet lenta.

H: A Fanny em fato de banho e os Can.

E: Arroz de Banda e o Joca dos Demon Dagger.

H: Pembridge, Minto, Charles e toda a selecção do Zaire do mundial de 1974.

E: Isto é escolha múltipla?

H: É.


Tendo também ligações à música pop desempregada, porque os dois membros fundadores dos SenSo (ia escrever SS mas era capaz de ser má onda) são também os fundadores da mpd, diriam que são um produto desse núcleo de artistas ou a ideia ao formar os Sensible Soccers era afastarem-se um pouco do que (alguns de vós) tinham vindo a fazer aí?

E: Podes escrever SS à vontade. Estou ansioso pelos primeiros comentários idiotas em torno das iniciais. Qualquer dia metemos um 88 ao barulho só para meter nojo. O facto de estarmos intimamente ligados à mpd não nos vincula em exclusivo a ela. De qualquer das formas, a metodologia de trabalho aplicada na criação do EP não respeita os princípios subjacentes às edições da mpd, pelo que não íamos quebrar as regras que nós próprios criámos. E como fazemos as coisas como bem nos apetece, o que é que te diz que não vamos daqui a uns dias (ou anos) editar o que nos apetecer e fizer sentido na mpd?

H: Nós queríamos editar o EP em k7. Na mpd não há edição física. Como já tínhamos combinado uma edição com a AMDISCS...

...da mesma maneira que têm ligações à RUC. Que vos parece o panorama actual da rádio numa altura em que a internet quase a matou?

E: A internet matou a rádio? Não me tinha apercebido, desculpa. Sempre me pareceu que a internet deu uma nova vida à rádio, como mais uma forma de fazer chegar a emissão às pessoas, e com a vantagem de a tornar global. Só consigo ver coisas boas nisso. E as pessoas ainda não deixaram de ouvir rádio, parece-me. Claro que a internet mudou muita coisa, e a realidade da rádio tornou-se mais Darwiniana. As mais adaptadas sobrevivem, e vão continuar a sobreviver, parece-me.

H: Bom, Emanuel!

E: Desculpa o tom seco. Ainda estou ressabiado da entrada a pés juntos com o Italia ´90. Um primaço na Galiza explicou-nos que a cena do Pepe é não lhe darem a medicação. Se calhar também me falta a medicação, não sei.

Quantas pessoas já mandaram para o hospital à pala do vídeo da “Missé-Missé”?

H: Seis.

E: Vou mostrar às minhas sobrinhas na noite de Natal a ver o que acontece.

Quem teve a ideia do mesmo?

H: Foi o realizador e nosso amigo Jardi. Fez tudo e enviou-nos.

E: Precisamente.

Tencionam aproveitar a Lei de Bosman, seguir o conselho do nosso primeiro-ministro e levar o vosso futebol para ligas mais competitivas? Qual é o local onde gostariam MESMO de tocar?

H: No estádio de Wembley ou no estádio dos Arcos.

E: Num coreto.

Qual de vocês é o gordo que vai sempre à baliza?

H: Eu não costumo ir à baliza, nem o Né. O Filipe também nunca vai.

E: Sou eu. Não queria entrar em grande detalhe sobre isso.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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