ENTREVISTAS
Dead Meadow
Três Reis Magos
· 28 Jun 2011 · 00:49 ·
Agora que o calor aperta e as esplanadas parecem altamente convidativas ao final das tardes, nada melhor que uma cerveja gelada enquanto se contempla o horizonte. Uma forma de meditação que os Dead Meadow têm feito ao longo da sua carreira - a única coisa que quiseram da cena punk da Washington DC onde surgiram foi o espírito DIY. A agressividade e a simplicidade, essas, foram substituídas por jams psicadélicas e pelas histórias fantásticas sobre mundos desconhecidos, retiradas do imaginário literário de gente como H.P. Lovecraft. No activo desde 1998 e com vários títulos já na bagagem, um dos próximos lançamentos dos Dead Meadow será a reedição da gravação que fizeram para o lendário John Peel, há precisamente dez anos - como o encerrar de um ciclo, e o início de uma nova era. O Bodyspace foi falar com o baixista Steve Kille, na ressaca da sua passagem por cá, num concerto no Porto que se diz não ter sido menos que épico. Da conversa que tivemos trouxemos desde já um bombom: o título do disco que aí vem.
Como correu a vossa tour europeia? Há alguma noite em particular que queiram destacar?

Foi fantástica. É sempre uma alegria tocar na Europa, temos aí cada vez mais fãs e conhecemos cada vez mais pessoas especiais e importantes nas nossas vidas. Devo dizer que tocar no Porto foi para nós um ponto alto. Era o nosso único dia de folga, mas era um lugar tão belo e era a nossa primeira vez lá... mal posso esperar para regressar.

Contem-me mais acerca do vosso último trabalho, o Three Kings. Como surgiu esta ideia? Foi uma esperiência mais enriquecedora que um "mero" disco? É algo que gostariam de fazer outra vez?

Duvido que façamos algo do género outra vez. Foi uma carga de trabalhos e, claro, também bastante recompensadora. Basicamente começou como uma maneira de captar o som da banda ao vivo no pico da nossas capacidades de jamming após meses de espectáculos contínuos... acabou por crescer e ser algo mais. Muito honestamente, a maioria das cenas fantásticas surgiram após uma noite de bebedeira com o director (um dos meus melhores amigos), a rir enquanto pensava no que surgiria se pegássemos nas filmagens ainda "cruas" e misturássemos com cenas ao estilo exploitation dos anos 70. A minha cena na praia foi o primeiro conceito. Surpreendentemente, estávamos bêbados num bar tiki em Los Angeles... o que explica a presença de muitas coisas tiki nas minhas cenas.


A aventura com a Xemu Records tem corrido bem? Conseguem lidar com todo o trabalho que devem ter a gravar bandas com o que têm em ser uma? Ter a vossa própria editora significa que irão adoptar uma postura mais DIY e abandonar a Matador?

Sim, a Xemu tem andado bastante bem, tem sido muito importante para nós ter o controlo daquilo que fazemos e a habilidade de tomar decisões e manter o nosso ímpeto criativo. Infelizmente, os negócios hoje em dia no que toca a discos estão algo limitados, dependendo se vendes muito ou não. Tem também sido muito bom expandir o que fizémos com a nossa banda e ajudar outras... tenho um pequeno sonho de ver a editora continuar a crescer e tornar-se em algo especial dentro desta cena psicadélica. No que toca à Matador, continuamos bastante chegados e, quem sabe, poderá haver mais colaborações. Caso não aconteçam temos sempre uma casa pela qual pagamos renda.

O Mark Laughlin regressou após um longo período de ausência. A "re-conexão" foi automática, ou ele teve de reaprender algumas coisas?

Foi completamente natural. É um músico extraordinário. Não consigo imaginar um melhor substituto para o McCarty que o Mark. Fez perfeito sentido.

Que me podem dizer acerca do vosso novo disco? Têm já algo gravado, ou um nome?

Para já intitulado Wiggle Room. Espero que o nome dê uma pista para o que aí vem.

Reeditaram recentemente a vossa Peel Session de 2001. Foi uma forma de olhar para o passado e contemplar o que já fizeram, uma espécie de introspecção? Qual consideram o ponto alto dos Dead Meadow até agora?

É uma espécie de encerramento de um ciclo. Foi de certa forma o último trabalho que fizemos com o Mark, por isso foi bom reeditá-lo agora com o seu regresso. Já o tínhamos planeado há algum tempo mas tal como tudo na vida surgem outras coisas entretanto. Todos os anos há um novo ponto alto para os Dead Meadow... continuamos a crescer e a curtir. A única estranheza é a de termos atingido este pico durante tantas mudanças na indústria. Nunca pensei que estes dias chegassem.


Sei que já vos perguntaram isto muitas vezes, mas vindo da cena punk de DC, que vos puxou primeiro para o psicadelismo?

É o que sempre nos excitou. Sempre fomos malta do psicadélico, desde o início. Foi a cena DIY de DC que nos levou a pensar que também o podíamos fazer... Acho que todos os músicos, não importa o quão punk sejam, têm a sua quota parte de discos dos anos 60 e 70, do Renascimento do pop rock, e de bandas como os Stones e o Hendrix, que foram os mestres. É quase como perguntar a um artista visual porque é que ele respeita Rembrandt, ou assim.

Consideram que as vossas referências literárias (Tolkien, Lovecraft...) têm tido mais peso no imaginário que a banda tenta fazer passar que os vossos riffs? Que têm lido ultimamente?

Provavelmente só o Lovecraft. De momento tenho andado obcecado com o Raymond Chandler.

Disseram há anos numa entrevista que as pessoas usavam o epíteto stoner para vos definir demasiado facilmente, sem sequer ouvir a vossa música... ainda sentem esse estigma? Como descreveriam o vosso som se estivessem do lado de fora?

Bom e velho rock n´roll... (risos)

Numa luta/jam session épica entre a "Everything´s Goin´ On" e a "Pilgrim" de Wolfmother, quem sairia victorioso?

Já estive numa jam com o Andrew. Sem dúvidas que numa jam session dávamos cabo dele... depois íamos todos beber um copo. É uma competição muito Eduardiana.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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