ENTREVISTAS
Computer Magic
Zap, Zing!
· 22 Nov 2010 · 22:11 ·
Eis o imaginário de Computer Magic. Aqui, a electrónica caseira proveniente de Brooklyn ganha formas cinemáticas a partir de sintetizadores e batidas que valem pela estranheza. Quem o diz é Danielle Johnson, fã de filmes série B e do lema DIY – do it yourself. A ficção científica na música de Danz, nome artístico de Danielle, é o condimento essencial dum universo que não se fica por sons esquisitos e vozes dessincronizadas, com espaço para fonética de banda desenhada e a recordação de um “terrível apartamento em Chinatown”. Mas há também a escola secundária e o facto de passar mais tempo a trabalhar em clubs do que em modo-festa propriamente dito, em que os 21 anos são a principal barreira. Em entrevista ao Bodyspace, Danielle Johnson abre as portas do seu space shuttle musical e mostra-nos os botões todos.
Há quanto tempo fazes música? Como foi que tudo aconteceu?

Tenho andado a fazer música durante os últimos cinco meses. Cresci a coleccionar discos que nem uma louca, literalmente, discografias inteiras, isto claro, se eu gostasse mesmo do artista ou da banda. Mas decidi começar a fazer música simplesmente para ver se conseguia. Nunca fui ensinada, por assim dizer, apenas ia compondo de ouvido… As canções de Computer Magic soam bem completamente por acidente, uma vez que eu não conheço a progressão de acordes adequada. Penso que isso faz, de certa forma, com que soe atabalhoado e bem ao mesmo tempo.

Dizes que pensas em algo visual quando escreves uma canção. Quando oiço Computer Magic vejo praia, o campo e arranha-céus. O que é que te vem à cabeça?

Depois de ter uma linha de sintetizadores para a canção, começo a pensar em algo específico para a tornar melhor, ajuda realmente. Um bom exemplo é “On VHS”. Começa com uma batida estranha e uma única linha de sintetizador. Cheguei até ela vendo uma cassete de um filme com um tema de praia (ou seja, Computer Magic Beach Party). Acho que o que me passa pela cabeça é, “bem, se eu estava a fazer isto aqui, o que é que eu quereria ouvir?”. Enquanto escrevia “Teenage Ballad”, pensei no filme The Graduate [A Primeira Noite, em português]. A minha forma de pensar era “se eu fosse no autocarro para a escola, o que é que eu gostava de estar a ouvir”. Essa foi mesmo influenciada pelos Belle & Sebastian.

Que tipo de filmes influenciam a tua música?

A Primeira Noite, Easy Rider, velhos filmes de ficção científica como o Atmosfera Zero [Outland] e o Alien, acredites ou não. Acredito que alguns dos melhores filmes são os série B mal feitos e aqueles com terríveis efeitos especiais. Um bom exemplo é o The Toxic Avenger. Outro é o Barbarella (que não é necessariamente um série B). É engraçado porque pretende ser de ficção científica mas os efeitos especiais são mesmo terríveis – parece uma peça de teatro do secundário! Adoro-o, mesmo assim. Acho que se relaciona muito com o meu tipo de música.


Já musicalmente, aproximas-te mais de coisas old school como Blondie ou mais recentes como Golden Filter ou Au Revoir Simone?

As minhas influências variam tanto que não é possível ouvia-las todas. Blondie é óptimo e um clássico, embora não possa dizer que seja uma grande fã. Entrei uma fase de não gostar de vozes femininas. Não sei bem porquê, apenas prefiro as masculinas – nem sequer gosto da minha própria voz. Acho que as minhas inspirações vão de Bruce Haack a Kraftwerk, até música de Bollywood. Gosto de sintetizadores esquisitos e cenas maradas. Não me dedico propriamente a ouvir música nova mas percebo como soamos todos um pouco ao mesmo. Penso que parte disso se deve ao facto de todos usarmos a mesma tecnologia e programas e andamos um bocado à volta do mesmo. Se ouvires música dos anos 70, tudo soa parecido, nos 80’s também, etc. Geralmente, conseguimos identificar uma canção que foi gravada nos anos 80 apenas uns segundos depois de a ouvirmos… É uma autêntica festa graças à produção, aos sintetizadores mais populares da altura e por aí. As técnicas, os programas e os instrumentos evoluem e as pessoas tendem a usufruir do que está disponível para elas no presente, fazendo com que toda a música soe, de uma forma ou de outra, parecida. Claro que eu gostava de ter uma máquina de gravação analógica, mas é material demasiado caro.

Agora estás em Brooklyn, uma espécie de Meca do indie nos Estados Unidos. Sentes-te parte dela?

Claro que Brooklyn é uma Meca da música. Inicialmente, toda a gente vai para Brooklyn com o intuito de ir para a escola ou porque quer estar em Nova Iorque. Então as bandas formam-se, como resultado de haver tantos artistas por aqui – é como uma Meca para ideias em vias de se concretizarem e, por defeito, as bandas vão-se criando. Sou parte da cena musical de Brooklyn porque é onde estou agora mas penso que o sítio de onde vens tem uma boa dose de importância na tua música. É bom ter tantos artistas activos à tua volta, sentes que a tua estranheza é ainda mais apreciada. Sempre me senti esquisita durante o secundário e, quando me mudei para Brooklyn, senti-me mais em casa.

Como é produzido o projecto?

Faço toda a produção. Tecnicamente, é música electrónica, mas tento fazer com que soe um pouco fora do género. Tento concretizá-la numa forma que não pareça demasiado produzida; quero que tenha um toque antiquado e, ao mesmo tempo, moderno. “Hiding From Our Time” é um bom exemplo. É tudo electrónico mas soa como uma canção antiga.


Fala-me da tua vida enquanto DJ.

Comecei como DJ quando me mudei para Nova Iorque a seguir ao secundário. Tenho um blogue de música desde a adolescência e, quando vim para aqui, disse que era DJ – o que não era verdade. Penso que comecei com apenas 18 anos – ainda sem idade para beber! A primeira vez que fui a um club foi para passar música; era muito nova para entrar em discotecas (precisas de ter 21 anos para beber, em Nova Iorque), portanto nunca estive em festas por pura diversão, era apenas DJ. Mas era bastante porreiro. Nem sequer sei como é ir a um club para me divertir porque sinto que estou lá para trabalhar.

Como foi viver num “terrível apartamento em Chinatown”?

O meu primeiro apartamento em Nova Iorque era em Chinatown, onde morava com uma amiga do secundário. Era um apartamento muito, muito pequeno. A cozinha e a sala de estar eram uma só e nem sequer tínhamos uma mesa de jantar. Ficava por cima de um restaurante chinês. No Verão era extremamente quente e não tínhamos ar condicionado, para além de termos poucas janelas. A pior parte disto tudo é que eu estava a trabalhar horas e horas que nem uma louca para o pagar! Foi realmente terrível. Optei por Brooklyn depois disso. Quando me sinto infeliz onde estou agora, basta-me pensar naquele apartamento…

Imagina que tinhas que pintar Computer Magic de uma cor. Como seria?

Se tivesse que usar algumas cores para pintar Computer Magic, seriam roxo, cor de laranja, azul, preto, branco. Cada canção faz-me pensar numa grande variedade de cores, mesmo assim. Mais imagens do que cores, até.

No teu Myspace dizes soar a “Zap, Zing!”…

Em livros de banda desenhada, os sons são descritos com algumas palavras bem engraçadas. Um barulho enorme seria “Bam!”, “Boom!”, ou “Whack!”, mas os ruídos não soam nada assim. É como quando as pessoas dizem que um cão faz “Ruff Ruff”. O cão não faz “Ruff Ruff” – era engraçado que fizesse! “Zap, Zing!” é como eu descreveria a minha entrada numa banda desenhada.

Ainda no Myspace, falas numa sonoridade tropical. Curiosamente, não vejo palmeiras no pano de fundo de Computer Magic…

Tento fazer com que a minha música soe um pouco tropical ou etérea, não sei se é realmente o que parece, mas é o que eu oiço, de qualquer forma. Penso que precisa de mais congas, talvez.

Já deste concertos?

Ainda não toquei ao vivo, mas fá-lo-ei em breve, provavelmente com alguns amigos para me ajudarem. Um dos problemas de que me apercebi é como tocar todas as partes de sintetizadores em simultâneo. Algumas das canções serão fáceis de tocar, outras praticamente impossíveis. Entro no processo de composição duma forma tão rápida que nem me apercebo, e há tantas partes por tocar. Vai ser um belo desafio ter um concerto pronto.

Sei que também fazes entrevistas. Espero que esta não te desaponte…

Fiz algumas entrevistas e gosto, é uma boa forma conhecer melhor as coisas. Podia escrever sobre qualquer coisa no meu site mas se entrevistar a pessoa sobre a qual estou a escrever, é bem mais interessante. Dá-te uma oportunidade de leres sobre o seu ponto de vista das suas próprias cenas. E gostei desta entrevista – foi óptima.

Espero ir a Portugal em breve!

E nós não podíamos estar mais ansiosos...
Simão Martins
simaopmartins@gmail.com

Parceiros