ENTREVISTAS
Lululemon
Vale de Cambra em tons de azul
· 26 Abr 2010 · 23:49 ·
Pedro Ledo e Tiago Sales são dois anónimos de Vale de Cambra durante o dia e durante a noite (e, vá lá, durante os ensaios), quais super heróis, encarnam um power duo que ainda vai dar muito que falar em Portugal nos próximos tempos. Acabaram de editar um EP, ao qual decidiram chamara Thee Ol’ Reliables, onde escondem pouco ou nada: é de amor ao blues que se trata, feito de guitarras, bateria, teclados e o suor necessário para aguentar a carruagem. O blues é de todos, dizem eles. E nas mãos destes dois é uma arma de destruição massiva que não procura ocupar território mas sim demarcá-lo. Os Lululemon pedem mais blues para Portugal e arregaçam mangas para colocar Vale de Cambra no mapa. Ao Bodyspace, Pedro Ledo e Tiago Sales confirmaram o estatuto de novatos (mas nem por isso inexperientes), e ao mesmo tempo a vontade de mostrar trabalho. Muito trabalho, a lembrar os blues, para ser apreciado nos próximos capítulos desta feliz aventura cambrense.
Os Lululemon são dois rapazes de Vale de Cambra a estudar no Porto. Como é que Vale de Cambra deu à luz os Lululemon?

Pedro Ledo: A ideia nasceu em maio de 2009 por uma razão um pouco caricata, ambos soubemos da existência de um concurso de bandas que se iria realizar num bar de Vale de Cambra e embora tivéssemos cada um a sua banda decidimo-nos juntar para ganhar algum dinheiro no concurso. Esse concurso nunca se chegou a realizar mas como nos apercebemos que tínhamos influências e ideias em comum decidimos avançar com o projecto para algo mais sério.

Vão adoptar o Porto como cidade ou pensam voltar para defender as cores de Vale de Cambra?

P.L.: Temos bastante orgulho nas nossas origens e pensamos defender sempre Vale de Cambra, que embora sendo uma terra pequena já começa a ter a sua pequena “cena musical” através de várias bandas locais (algumas delas com bastante qualidade como os Catacombe por exemplo) e da Associação Vale de Pandora que dinamiza a cidade a nível cultural trazendo boas bandas de todo o país entre outras coisas como curtas-metragens. Mas claro, o Porto será sempre uma segunda casa para nós.

Não sentem que no país todo há toda uma nova geração de músicos, de promotores, de programadores que está a mudar um pouco a face da música em Portugal? Não só no Porto e em Lisboa, mas também em Vale de Cambra, em Barcelos, em Guimarães, e outras cidades…

Tiago Sales: Sem dúvida. Podemos falar especificamente das cidades onde moramos: Vale de Cambra e Porto. Em ambas as cidades existem cada vez mais espaços, blogs, associações e promotoras dispostas a apoiar bandas e eventos de todo género. As pessoas estão cada vez mais dispostas a apoiar todo o tipo de projectos mesmo que ainda se encontrem numa fase inicial, desde que se note que existe algum valor no mesmo. Penso que a internet e a divulgação quase instantânea de musica e informação (com poucos ou nenhuns custos) ajudou bastante a criar todo este aparato e finalmente dar valor ao que se faz em Portugal. Hoje em dia existem inúmeros projectos interessantes a surgir cá e sempre que nasça algum projecto com qualidade e algum factor de distinção vai haver sempre alguém que lhe pegue e que o leve a um patamar superior. A “cena musical” cá no Porto é incrível, embora que tenha algumas lacunas, está num óptimo caminho. O próximo passo será talvez conseguir levar as bandas de cá para o estrangeiro mais facilmente e através de parcerias.

A vossa biografia no myspace é bastante curta. O que é que gostavam de lhe acrescentar nos próximos tempos?

P.L.: Não fazemos ideia, nunca pensámos nisso… Não é necessário acrescentar muito mais para já, não temos histórias para contar.


Que tempo vos resta para os Lululemon depois de cumpridas as obrigações académicas/profissionais/outra qualquer?

P.L.: O tempo não costuma ser problema para nós, normalmente temos tempo mais que suficiente para ensaiar e tratar de todos os assuntos relacionados com a banda. O único problema que estamos a ter neste momento é sala de ensaios. Costumávamos ensaiar no C.C. Stop no Porto mas agora voltamos a ensaiar em Vale de Cambra num anexo em minha casa mas como a casa é recente o anexo ainda não está preparado acusticamente por isso estamos parados até a sala estar pronta.

Sei que têm um EP editado. Chama-se Thee Ol' Reliables. O que é que vocês acham desse EP? Como foi tirá-lo cá para fora?

P.L.: O EP já está disponível gratuitamente online. Quanto à sonoridade do EP acho que define bem a banda estando tudo dentro do blues, surf, rock, electrónica e outras melodias que não têm nada a ver com nenhum destes estilos. Gostamos da experiência de estúdio onde pudemos dar continuidade ás nossas ideias criadas nos ensaios através de overdubs e diferentes técnicas de captação e produção. Foi todo gravado e produzido nos Estúdios Sá da Bandeira, no Porto.

Sei que vão ter uma edição em vinil do disco. Está para quando? Têm o vinil como fetiche?

T.S.: Fetiche não… Escolhemos a opção do vinil principalmente pelo facto do EP ter dois lados distintos tal como o vinil e por ser um dos formatos mais consumidos hoje em dia... E porque também serve melhor como um objecto coleccionável, melhor que um disco compacto, sendo um dos objectivos mesmo esse dado que temos o EP disponível para download gratuitamente. Ainda não temos data definida para lançar o EP em vinil, mas será para breve.

Estará para breve um disco inteiro ou atrai-vos continuar na senda dos EPs, devagar devagarinho?

T.S.: Devemos continuar com os EPs porque não gostamos de fazer muitas músicas à volta do mesmo estilo ou maneira de composição. Daí o facto de mesmo o EP ter dois lados diferentes e cada música dentro de cada lado soar totalmente diferente das outras. Gostamos de variar todos os factores, talvez até demais.

Como começou a ligação com a Lovers & Lollypops e como é que gostariam que ela progredisse daqui em diante?

P.L.: Foi atráves de uma simples troca de e-mails. O Fua ouviu as três musicas que tínhamos gravado na altura e começou a marcar-nos concertos. A Lovers ajudou-nos bastante a lançarmo-nos e penso que a “cena musical” do Porto deve muito ao Fua e a toda a gente associada com a Lovers. O Porto (e não só) não era o mesmo sem esta promotora/editora. Quanto à nossa relação com a Lovers no futuro, gostávamos de lançar o vinil por eles e talvez fazer uma tour com outras bandas da Lovers mas ainda não está nada acordado.

Com que power-duo trocariam facilmente de pele?

P.L.: Black Mekon ou Flat Duo Jets. Ou então os nossos amigos cá do Porto, os Throes.


Com que power-duo não trocariam facilmente de pele?

T.S.: Acho que não existe nenhum power duo propriamente fraco.. Mesmo que não sejam de blues como por exemplo No age, Japandroids ou Blood Red Shoes são bons.

Sei que gostam bastante de blues. Quem são os vossos heróis do blues?

P.L.: Son House, Bukka White, Howlin Wolf, Paulo Furtado, Fred Mcdowell, Skip James, John Hurt Mississipi, Blind Willie Johnson e BOB LOG.

Se viesse um norte-americano dizer-vos que não deviam andar a tocar blues, o que é que lhe diziam?

P.L.: Whatever. O Blues é de todos.

Em Portugal, na vossa opinião, quem é que trata o blues como se este fosse uma senhora, com o devido respeito?

P.L.: O único “blues man” a sério que conheço em Portugal é o Paulo Furtado. Embora este tenha passado por vários estilos musicais ao longo da carreira desde os Tédio Boys, Wraygunn, etc, sabe bem como executar o blues à maneira única dele. O Rui Veloso embora considerado como músico de blues, penso que pouco tem a ver com o “bom” blues. Teve aquela fase “Eric Clapton português” mas na minha opinião o próprio Eric Clapton não é um blues man a sério, é um tipo de blues mais moderno que não me agrada.

Andam por aí a mostrar os Lululemon ao vivo. Têm algumas datas marcadas para breve. Tocar ao vivo para vocês, como é? Algo que provoca pressão ou algo que permite a descompressão?

P.L.: Embora ambos tenhamos tido outras bandas anteriormente, tocar ao vivo com este duo ainda é algo novo para nós. Um concerto é um misto de pressão e descompressão ao mesmo tempo, temos sempre aquela pressão por sermos um duo e não termos um baixista ou outro elemento que nos “segure”, ou seja, não temos tanta margem de erro como uma banda mais completa tem, no entanto podemos abusar do improviso ao vivo em certas partes sem ter que necessariamente manter o mesmo tom. O facto de haver mais ou menos pressão está ligado com toda a envolvente específica do concerto: palco, condições, problemas de som ou de material, público, etc. Normalmente se estiver tudo a correr bem desde o início vamos sentido-nos cada vez mais descontraídos e entregues á nossa própria música. Outro factor a referir é o uso de loopers ao vivo com gravações em tempo real, quando os usamos temos que estar concentrados ao máximo nos tempos, não pode existir aquela oscilação de tempo nem adaptação mútua durante a música porque estamos a seguir “uma máquina” e essa não perdoa nada na falha dos tempos.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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