ENTREVISTAS
Some Community
Piscinas, rock e a American Apparel
· 01 Mar 2010 · 22:42 ·
São uma das novas bandas a sair da sempre agitada cidade de São Paulo e prometem ir para além disso muito em breve, seguindo por exemplo o caminho aberto pelos Cansei de Ser Sexy. Os Some Community são quatro meninas e um menino e andam por aí a mostrar aquilo que pensam do rock neste novo século, com os perigos e as vantagens destas aventuras. Com um EP apenas fizeram o barulho suficiente no Brasil e os concertos têm-se seguido naturalmente. Em 2010, chegará um novo disco para que se possa pôr à prova os conhecimentos dos Some Community adquiridos em tão pouco tempo de actividade e existência mas por enquanto Fernando Fernandes quis deixar ao Bodyspace algumas pistas para o que faz desta comunidade uma comunidade apetecível para se viver.
Então e como está São Paulo?

Chuvosa. Agora virou moda em São Paulo muito calor durante o dia e uma chuva torrencial a noite. E Lisboa?

Não saberia dizer, porque estou no Porto. Mas a coisa anda entre o frio e o sol. São Paulo é bom com os Some Community?

Sim, São Paulo é uma cidade que está a começar a criar uma cena mais porreira de música independente. São muitas bandas que se ajudam...

Há já algum tempo que ouço dizer isso, que São Paulo está a começar a... De que forma sentem mesmo isso?

Em concertos e encontros casuais. Normalmente quando a gente toca, é normal ver gente de outras bandas independentes a dar força, a perguntar sobre o disco ou sobre o clipe.

Estas coisas da tecnologia, no outro dia li alguém, um brasileiro, no Twitter dizer que em Portugal é que era, que um concerto do Panda Bear esgotava e tinha de se marcar outra data. Achas que no Brasil também pode ser assim?

Sim, eu acho que sim. O Brasil é um país no qual as pessoas consomem muita música. Eu acho até curioso quando vem uma banda “gringa” independente, caso dos Dirty Projectors que tocaram aqui em Dezembro, e o concerto estava bem cheio em plena terça-feira.

Há muita gente a mexer, a organizar concertos, a lançar discos? Há muitas oportunidades para uma banda como a vossa?

Há gente, sem dúvida, mas a cena, como eu disse anteriormente, está ainda a fortalecer-se. Por isso ainda é um pouco tímido, mas a melhorar gradualmente.

Imaginemos que os Some Community lançam um disco agora (e sei que o vão fazer em 2010, falamos já disso), há muitas hipóteses de verem o vosso trabalho criticado em jornais ou sites de referência?

Existem alguns veículos que fazem críticas de música independente, algumas sessões de revistas de referência e em alguns jornais. Como para nós é uma coisa completamente nova, não sabemos como vai ser. Vamos tentar passar adiante o disco para os media e ver a resposta deles. Algumas revistas como a Simples, a Vice e a própria Rolling Stone são bastante abertas para críticas de música nova.


Falando então em vocês, como é que isto tudo nasceu? Como é que chegaram até aqui?

A banda formou-se oficialmente em Janeiro de 2009. Eu e a Gabriela conhecemo-nos desde pequenos e a Verónica e a Vanessa também. A Juliana é tia da Verónica! Enfim, eu e a Gabriela conhecemos a Verónica e a Vanessa numa escola preparatória para a faculdade e por conta da música acabamos por ficar amigos e resolvemos colocar a mão na massa para fazer música.

Como é que foi chegar a este ponto musicalmente, foi um processo longo? Foi algo instintivo?

Na verdade, a nossa criação é uma coisa muito espontânea, completamente despretensiosa. Nós até brincamos dizendo que a sonoridade dos Some Community não é exactamente a sonoridade que cada um gostaria de fazer pessoalmente, mas é simplesmente uma coisa que sai da gente. O processo foi até longo. Tocamos durante um ano as músicas que vão sair no EP até começarmos a gravar as versões do disco. Fizemos umas demos mas que ainda estavam muito cruas.

Isto tudo começou há quanto tempo mesmo?

Um ano.

Foi muito rápido ou muito lento?

Não sei se foi rápido ou lento. Foi bem natural. Talvez um ano de banda seja muito para termos só um disco de seis músicas, mas foi o tempo que precisamos para que as músicas ficassem da forma que a gente queria para colocar num disco.

Tem sido divertido? Tanto como aquelas fotos na piscina?

Sim, sem dúvida. Uma banda é stress, briga, mas é bastante recompensador. Acho que as fotos do nosso flickr falam muito por nós!

E como é ser o único homem numa banda de meninas, ainda por cima bonitas?

[risos] Difícil! Mas além de meninas bonitas, são excelentes “músicistas”. É extremamente gratificante ver o nosso trabalho bem aceite. Principalmente quando saímos de São Paulo que nunca dá muita confiança para nós. Começamos os concertos e as pessoas identificam-se...

Ora aí está uma palavra que ainda falta em Portugal, o feminino de músico. Isso acontece cada vez mais? Gente a conhecer a banda, a ir aos espectáculos?

Sim, bastante. Os nossos primeiros concertos só tinham amigos. Agora temos público, pequeno, mas temos. De pessoas que gostam e tentam ir a vários concertos.

Num país como Portugal correr a coisa de lés a lés é fácil. No Brasil a história é diferente. É complicado para vocês gerir essas distâncias?

Pois é, é bem difícil. Tentamos organizar de uma forma para ficar mais fácil de conciliar as distâncias e os estudos. Quando vamos sair de São Paulo, estudamos tudo de forma a não fazer longas viagens para um concerto apenas.


Ainda estudam todos, o quê?

A Juliana é mestranda em história, e eu e todas as meninas estudamos arquitectura.

Gostariam de fazer Architecture in Helsinki?

Adoraríamos. [risos]

Ou tocar para eles na primeira parte?

Tocar na banda? Ou abrir um concerto? Não entendi...

Fazer o concerto de abertura. Imagina que podias escolher uma banda para os Some Community abrirem a primeira parte neste momento. Quem seriam?

Bandas para abrir? Ou Sonic Youth ou Arcade Fire, acho eu.

Mas voltando aos Some Community. Fala-me do novo disco. É um EP? Como é que foi gravá-lo?

Sim, um EP. Foi um processo lento, mas o disco ficou da forma que a gente queria. Já está a ser masterizado agora! A ideia de entrar num estúdio é bem divertida.

Levaram a coisa muito a sério?

Sim, bastante. Gravamos parte a parte. Participamos todos desde as baterias até aos efeitos. Foi um processo bem sério. De ficar vários finais de semana confinados em estúdio por horas e horas até a coisa ficar boa.

Estavam a pagar pelo estúdio?

Uma parte sim, a outra não. Gravamos as baterias e os baixos num estúdio pago, e o resto num estúdio de um amigo.

E quando sai mesmo?

A data oficial ainda não foi marcada. Acredito que na segunda quinzena de Março.

E até onde é que esperam que esse EP vos leve?

Na verdade estamos bem curiosos para ver a repercussão. Uma coisa é certa, já estamos a trabalhar para lançar um single já no segundo semestre e um disco mesmo no ano que vem.

Acham que os Cansei de ser Sexy abriram muitas portas para bandas como a vossa no Brasil?

Sem dúvida, os CSS fizeram uma coisa que nunca tinha se ouvido. Isso sem dúvida abriu portas para qualquer banda brasileira.

Li o texto sobre a vossa banda escrito pela Lulina, que até inaugurou a nossa videoteca. Vocês dão-se bem com ela? A malta da música independente mistura-se por aí?

Sim, a Lulina além de ser uma grande amiga, entende-nos muito bem como banda. Sim, a malta mistura-se relativamente bem.


O que é que aconselhas dessa mistura, projectos que estejam a mexer em São Paulo actualmente?

Desculpa, não entendi André!

Bandas de São Paulo que valham a pena neste momento...

Bom, Homiepie, a Lulina, a Stephanie Toth, Holger, The Name (de Sorocaba), os Black Drawing Chalks (de Goiania)…

Fala-me da Stephanie Toth, li algumas coisas sobre ela e apercebi-me que é um caso curioso na música independente brasileira...

Sim, a Teca (Stephanie) tem um sonoridade bem peculiar, quase que home-made... Um folk excelente vindo de uma menina extremamente sensível.

Tanto quanto sei ela é muito jovem ainda e começou ainda mais jovem...

Hoje ela tem 18 anos, se não me engano. Começou bem cedo.

Mas voltando a vocês, e por falar em 18 anos, quando é que vão tocar à Ammerican Apparel de São Paulo?

Já tocamos. Tocamos em Maio do ano passado. Por agora o projecto anda meio parado, mas adoraríamos tocar lá novamente.

Com que regularidade dão concertos?

Então, ficamos parados esses últimos dois meses por conta das gravações. Mas este ano queremos dar bem mais concertos que no ano passado. Fizemos poucos concertos o ano passado, coisa de quinze.

Preferem fazer discos ou tocar ao vivo?

Tocar ao vivo, mas gravação também é bem divertida.

Se chegarem ao fim de tudo isto e tiver sido apenas divertido, ficam chateados?

Não. Tem sido uma experiência inacreditável em todos os sentidos.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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