ENTREVISTAS
Kate Walsh
As canções do parque
· 31 Jan 2005 · 08:00 ·
Nasceu em Essex na Inglaterra, no seio de uma família que respirava música por todos os cantos, gira-discos e grafonolas da casa e aos seis anos começou a ter aulas de piano. O sonho de escrever canções e correr o mundo a partilhá-las foi-se tornando, pouco a pouco, uma realidade. Clocktower Park, o disco de estreia editado pela Kitchenware, a casa de alguns dos discos dos Prefab Sprout como o conhecido Steve McQueen, é a materialização desse sonho e agora Kate Walsh, com uma guitarra na mão e tenra idade, partilha as suas histórias com quem esteja disposto a ouvi-las - Portugal parece ser um país acolhedor, tendo em conta o número de vezes que nos visitou nos últimos tempos. Em entrevista, Kate Walsh partilha as memórias dos tempos passados no largo de Burnham On Crouch - é daí que vem o nome do disco - e traz-nos até aos dias de hoje, por entre referências a quem mais admira na música, experiências e motivações. Sempre com um olhar sobre o futuro.
Então, qual é a sensação de ter apenas vinte e um anos e andar a viajar o mundo inteiro apenas com uma guitarra nas tuas mãos?

É uma sensação óptima. Tenho muita sorte de ter tido esta oportunidade, apesar de não a ter como concedida. Sei que tenho de trabalhar muito duro por esta oportunidade que me foi dada. Estou muito satisfeita por me terem convidado para vir até Portugal e tocar as minhas canções. Todas as pessoas daqui têm sido muito simpáticas e espero que isso estabeleça uma precedência para o resto das minhas viagens.

És muitas vezes comparada a cantoras como a Janis Joplin, a Joni Mitchell, a Joan Baez ou mesmo a Aimee Mann…

Sou uma grande fã da Joni Mitchell e sou bastante inspirada por ela, por isso tomo isso como um verdadeiro elogio, ser comparada com ela. As minhas letras são muito importantes para mim por isso ser comparada com a Aimee Mann, cujas letras acho serem muito inteligentes e pensadas cuidadosamente, é também muito lisonjeador.

Clocktower Park, o teu álbum de estreia, é uma colecção de canções simples sobre coisas simples da vida. É o disco que sempre esperaste?

Na verdade, acabámos de gravar Clocktower Park em Janeiro de 2003, e nessa altura as canções e a minha escrita foram muito relevantes para a minha vida. Desde então cresci bastante, o meu estilo de escrita desenvolveu-se e, agora, há diferentes coisas que importam mais na minha vida. Clocktower Park era o disco que eu queria e precisava de ter feito naquela altura da minha vida. Agora o tempo seguiu em frente e estou pronta para gravar um novo capitulo da minha vida.

O que é que te leva a escrever uma canção? Onde encontras a inspiração para escrever as canções e as letras? Agrada-te transportar pessoas para os locais que tu crias?

As minhas canções tendem a ser sobre as emoções que sinto como resultado de uma experiência ou sobre a maneira como me sinto em relação a uma pessoa ou alguma coisa. Não consigo simplesmente sentar-te e decidir escrever uma canção de um momento para o outro. Tenho de me sentir de uma certa forma com a guitarra nas minhas mãos, depois a música, as palavras e a melodia surgem todas de uma forma espontânea, de lugar nenhum. Às vezes assusta-me porque penso que talvez um dia possa não ter esses sentimentos e não consiga escrever outras canções, mas até agora tenho conseguido sempre fazer com que as coisas surjam (bater na madeira!).

Uma das coisas mais excitantes de se ser uma cantautora é a experiência ao vivo. Como é, para ti, partilhar as tuas canções, pessoais e íntimas, em frente de uma audiência?

Adoro tocar ao vivo, claro. Fico sempre nervosa mas acho que isso é uma das razões pela qual o fazemos, a adrenalina. Os meus concertos favoritos são nos lugares mais pequenos e íntimos onde se pode mesmo criar uma relação com a audiência, em vez dos lugares maiores onde parece se sente que se está a tocar apenas para um mar de caras anónimas. Gosto de pensar que as minhas letras são muito acessíveis para quem me ouve e que nos possamos relacionar com as mesmas emoções. É muito bom. Quando toco ao vivo e vejo na cara de alguém que essa mesma pessoa está a perceber exactamente aquilo que estou a dizer, mas ao mesmo tempo gosto de guardar algumas das coisas das canções simplesmente para mim. Afinal de contas, as minhas canções são a minha terapia.


Que outras cantautoras ouves? Que discos é que tens sempre próximos do teus leitor de cds?

Eu acho que o Ed Harcourt é um dos singer-songwriters mais talentosos dos dias de hoje. Raramente estou mais do que uma semana sem ouvir um dos seus discos. A Tori Amos é também muito importante para mim já que foi depois de ouvir “Cornflake Girls” que eu decidi começar a escrever canções. Apercebi-me pouco tempo depois que uma guitarra era muito mais portátil e acessível para escrever e comecei a aprender a tocar. Também admiro bastante o Rufus Wainwright, o Jeff Buckley, os Longpigs e os Velvet Underground.

Regressando a Clocktower Park. De onde surge o nome do disco? Qual é a mensagem que tentas passar?

O nome “Clocktower Park” surgiu de dois sítios verdadeiros de Burnham-on-Crouch, o local onde eu cresci. A torre com um relógio e o parque eram ambos locais onde as pessoas se reuniam, onde todos nós estávamos. Por isso tudo o que aconteceu de realmente significativo, tudo o que eu senti que queria escrever sobre aconteceu junto a esses locais. Parecia apenas natural chamar o álbum de “Clocktower Park”. Não há nenhuma mensagem para ninguém neste álbum, apenas canções que explicam uma parte da minha vida e que, espero eu, outras pessoas consigam relacionar consigo próprias.

Voltando a Janis Joplin, ou a Joni Mitchell, por exemplo. Porque é que achas que elas foram e são tão especiais? Os tempos são diferentes agora, e as causas também…

Gosto da Joni Mitchell e da Janis Joplin por diferentes razões. A Janis Joplin era uma performer apaixonada, teve uma vida tão problemática e parecia sempre lançar tanta energia e raiva através das suas canções e concertos. Acho que esse tipo de ligação que uma pessoa pode ter com a música de uma forma tão natural valerá sempre a pena ser recordada. Em relação a Joni Mitchell, adoro-a porque seja lá o que for que ela escreve, seja sobre arrependimento, amor, perda, alegria ou raiva, parece sempre cantar directamente do coração, e é honesta sobre aquilo que escreve. A sua bela voz e as suas letras serão sempre intemporais para mim.

O que é podemos esperar de ti no futuro? Mais canções intimas, mais discos?

Quem sabe o que esperar. Tudo o que eu sei é que adoro aquilo que estou a fazer e se eu se puder continuar a fazer discos e a escrever de forma verdadeira e do coração, ficarei feliz. O meu estilo de escrita está a desenvolver-se e a amadurecer a todo o tempo. Questiono-me sobre aquilo que estarei a escrever daqui a cinco anos. É muito excitante não saber muito bem onde a minha música me vai levar, apenas espero poder continuar a fazê-lo para sempre.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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