ENTREVISTAS
Homiepie
Artes caseiras
· 23 Jan 2009 · 16:18 ·
São Paulo é uma cidade a abarrotar de propostas musicais e artísticas hoje em dia. É de lá que têm saído algumas das ofertas mais exportáveis da música brasileira. Mas há quem fique apenas à espreita, por ora, para ver o que acontece - e como acontece. os Homiepie são uma delas. Assumidamente caseiros, admitidamente indie, andam a explorar canções com a liberdade e desprendimento que chega apenas aos que dão à música tudo sem esperar grande retorno. "Flying Machines", a mais badalada das suas canções, é exemplo disso. Andam a experimentar com EPs, como se fossem cientistas da pop, e devem apresentar uma conclusão - isto é, um disco com cabeça, tronco e membros - algures no futuro. O porta voz dos Homiepie foi Flávio Seixlack, o responsável para colocar os pontos nos is à história de uma banda com dois. Eles que tocam este fim-de-semana da loja brasileira da American Apparel, são A banda indie por um dia.
Como é ser Homiepie numa cidade como São Paulo? As oportunidades batem-vos à porta ou têm de andar à procura delas?

São Paulo é sem dúvidas uma cidade excelente no que diz respeito à abundância de coisas a acontecer. Algumas vezes as oportunidades até batem à porta, mas a melhor forma de conseguir o que se quer é correndo atrás. Para isso temos a Gabi, que nos ajuda marcando os nossos shows para todos os lados. Tem também o Du, que está sempre em busca de novos projectos para nós. E a verdade é que não temos do que reclamar, já que fizemos 10 shows em 2 meses, todos em São Paulo. Queremos tocar sem parar.

No vosso myspace vejo 3 datas marcadas, sobretudo em São Paulo. Como é que avaliam o mercado de concertos para as bandas ditas indies como vocês?

Como disse anteriormente, moramos em uma cidade onde há coisas a acontecer o tempo todo, muito embora é bom sempre lembrar que quantidade não significa qualidade. Já tocamos em lugares não muito bons, muitas vezes com equipamentos em condições precárias. Mas é uma coisa que todas as bandas pequenas têm que estar dispostas a passar. Mas pensando no mercardo de concertos para as bandas indies, talvez até haja mais espaços para este tipo de bandas do que para grandes bandas. Além disso, há sempre gente disposta a conhecer coisas novas, embora eu ainda ache que muitos deveriam ouvir as bandas e tirar suas próprias conclusões do que pegar opiniões emprestadas do que está escrito por aí.

Vejo que dão muita importância aos concertos, a apresentar-se ao vivo. Colocam os concertos à frente de lançar um disco por exemplo?

Sim, sem dúvida os concertos hoje em dia estão à frente de lançar um disco. Afinal de contas, o show é o maior contacto que um artista pode ter com seu público e, além do mais, a imprevisibilidade de tocar ao vivo faz tudo ficar ainda melhor e mais bonito. É claro que lançar um disco é importante. É um registo das canções e de uma determinada época e a forma pela qual muitas pessoas irão conhecer as músicas. Enquanto o show é um ser mutável que não depende só de nós para ser bom. E isso sempre me parece bem interessante.


A Internet é um motor fundamental para assinar a existência dos Homiepie?

Sem dúvidas. Sem a internet muito provavelmente seríamos totalmente desconhecidos. Desde o primeiro dia em que comecei a gravar o EP minha ideia era disponibilizá-lo na íntegra na internet. Essa era, aliás, minha única pretensão. Queria compartilhar com todos o som que estávamos a fazer e certamente não havia meio melhor do que a internet pra isso. E acho que escolhi ter a pretensão certa, pois coisas maravilhosas vêm a acontecer com a gente desde que começamos.

O vosso som é uma fusão de várias coisas, de várias realidades estilísticas. Há alguma banda ou alguma realidade musical mundial que vos influencie realmente?

Pessoalmente, seria muito difícil apontar uma banda que nos influencie de forma tão direta assim. Somos, de fato, uma mistura de muitas coisas, ainda que nem todas elas apareçam nas nossas canções. Sou um grande fã de hip hop, soul e R&B, mas também amo coisas como John Zorn, Mr. Bungle e bandas sonoras italianas, por exemplo. Além, é claro, das coisas ditas indies, como é o caso dos Animal Collective, sem dúvida a banda mais criativa e inovadora dessa geração. Também sou muito influenciado pelos jogos de vídeo (tanto as suas imagens quanto as suas bandas sonoras). Mas essa coisa das influências é engraçada. Dizem, por exemplo, que o Homiepie é twee. Eu não concordo. Não acho que seja uma banda twee e nem tão feliz quanto provavelmente aparenta ser. Mas isso é uma visão minha, e é apenas mais uma. Diferentes visões e opiniões sobre o som são importantes. E, na para ser bem sincero, acho que ainda não chegamos ao som que considero ideal para o Homiepie. Afinal, uma coisa é como as músicas soam na minha cabeça e outra coisa é como elas ficam depois de gravadas.

No outro dia estava a ouvir a vossa música e lembrei-me. São freaks de teclados ou nem por isso?

Sim! Adoramos teclados, embora falte dinheiro para engordar a colecção! [risos] Gostamos muito do som dos Casiotones, mas adoraríamos ter um Korg ou um Mini Moog, por exemplo. Sou completamente obcecado por sons de teclados, muitas vezes fico paralisado ouvindo os discos do Philip Glass, tudo por conta dos timbres que ele consegue tirar.

Gravaram o EP Fireworks em casa nos meses de Julho e Agosto de 2008 com um microfone e pouco equipamento. Pretendem melhorar essa condição ou isto até é parte da dos Homiepie?

Há um certo charme nas gravações caseiras. Gosto do EP dos Homiepie exactamente por conta dos erros. Muita coisa poderia ter sido arrumada e melhorada, é claro, mas optamos por deixar esses pequenas errinhos para que tudo soasse mais natural. Mas queremos, sim, melhorar essa condição. Comprar equipamentos melhores, um microfone melhor e assim por diante. Podemos fazer com que o nosso "estúdio" caseiro fique melhor, é uma ideia. E não há dúvidas de que gravar em casa te dá uma liberdade enorme. Até por conta desta ter sido a primeira vez na qual compus músicas e as registei sem ter o menor conhecimento do programa de gravação (Sonar) e do equipamento (M-Audio), foi bom ter sido em casa. Foi uma verdadeira aprendizagem.


Fireworks EP será lançado pela Reseach Club Records possivelmente em 2009 com tiragem de 50 cópias e capa handmade. O que significa para voces este disco?

Significa muito! Tenho um apego enorme por essas canções e pelo período que passamos registando-as. Tudo foi muito rápido. Eu compunha uma música durante a semana, sempre de noite depois do trabalho e, nos finais de semana, juntava-me com o Denem (guitarra) para gravarmos o que tinha feito. Numa das músicas ("Bye"), senti que precisava de um vocal feminino para passar o efeito desejado e chamei a Bruna, uma das minhas melhores amigas, para cantar. Detalhe: ela nunca tinha se envolvido com música anteriormente. Felizmente ela topou. E sem dúvidas não me arrependo de a ter convidado. A canção não seria a mesma sem a participação dela. Pouco tempo depois, quando finalizamos o EP, começamos a pensar em como faríamos os concertos. Algo bastante problemático, uma vez que as músicas têm vários vocais, duas guitarras e sempre teclados, além de outros barulhos e instrumentos, como é o caso do glockenspiel. E só havia quatro braços para tudo isso. Como um tiro (quase, já que ela já tinha cantado em "Bye") no escuro decidi convidar a Bruna para fazer parte da banda. Tive que lhe ensinar todos os teclados e alguns backing vocals. E assim descobrimos que ela realmente tem um dom, pois aprendeu a tocar teclado em pouquíssimo tempo. Foi uma grande alegria ver a banda completa. Então esse é o significado do Fireworks pra mim. É uma verdadeira vitória em vários sentidos e uma reunião entre amigos a fazer uma das coisas que mais amam, que é tocar musica. Esquecemo-nos dos problemas e de todas as coisas más quando plugamos os instrumentos e começamos a tocar. Por isso o título do EP, pois tudo para mim tem a importância de uma data comemorativa na qual pessoas queridas se reúnem para soltar fogos de artifício.

Lançar um disco nos próximos tempos é uma hipótese para os Homiepie?

Vamos lançar mais EPs antes de chegar a um disco cheio. Já temos músicas novas e em breve vamos juntá-las para formar um novo EP. Mas lançar um disco é uma hipótese. Seria óptimo, mas vamos dar um passo de cada vez. Queremos lançar coisas sem parar, essa é a ideia. Independente do formato.

Quais são os pares dos Homiepie no Brasil? Com que bandas brasileiras se identificam?

Da nova cena brasileira posso citar a Stephanie Toth e os Holger como nomes a serem anotados e ouvidos com carinho. Estamos sempre juntos e, sempre que possível, apresentamo-nos juntos. Mas também me identifico com nomes que nem existem mais, como Polara e Diagonal, por exemplo, e também com grupos existentes já há algum tempo, como Elma, Are You God? e Hurtmold.

Vejo ali na agenda um concerto na American Apparel de São Paulo. Não é esse o sonho molhado de qualquer banda indie? sobretudo para os membros masculinos?

[risos] Esta pergunta é tão sensacional que nem sei direito o que responder. É claro que será extremamente divertido apresentarmo-nos na American Apparel, ainda mais por sermos a primeira banda a tocar na loja brasileira. Estamos orgulhosos e muito provavelmente este deve ser o sonho de muitas bandas espalhadas por aí. Como sou um homem comprometido prefiro ausentar-me da responsabilidade de opinar sobre este ser o sonho "molhado" dos membros masculinos das bandas indies, mas ouvi dizer que a loja conta com belíssimas vendedoras. Será verdade? Poderei afirmar com maior precisão após a nossa apresentação por lá.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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