ENTREVISTAS
Magik Markers
(Des)alinhar os shakras à patrão
· 14 Abr 2008 · 08:00 ·
Os mais atentos ao percurso dos Magik Markers devem já ter percebido que ocasionalmente é também saudável esmurrar a lógica na zona dos rins e, com esse golpe, assumir o cargo de chefe máximo de um rock enterrado até à cintura num lodo de efeitos, pouco preocupado com a sua própria higiene, pertencente a uma classe à parte. Pode ser rentável alguém perder-se para só depois encontrar-se. Essa é uma fábula recorrente e sucedeu-se também com uns Magik Markers que foram primeiramente jet-set experimental (por via de magníficos discos afectados por ciclos caóticos e temperamentos voláteis), manipuladores do seu próprio trash infeccioso, sendo que só ultimamente recusaram seguir o rumo que lhes era apontado pela mesma estrela do azar, enveredando pela sorte das canções com cabeça, tronco e membros que se descobrem ao último Boss, que, além de ter saciado as fantasias mórbidas de quem sempre sonhou ver os Sonic Youth reduzidos a uma anatomia mais esquelética e disfuncional, contava com a sempre estimada produção do Senhor Lee Ranaldo. Reduzidos a duo, após a saída amigável da baixista Leah Quimby, a lasciva Elisa Ambrogio e o companheiro de armas Pete Nolan prometem, à passagem por Portugal, anunciar o fim e o inicio de todas as terapias new wage, alternando entre o alinhamento e desalinhamento dos shakras - distribuídos pelos instrumentos e recursos humanos - à medida que a ocasião for avançando. Depois de concertos por cá que formaram lenda através de um boca-a-boca sem paramento, é simplesmente triste não aproveitar o regresso do circo quando, no próximo dia 17 de Abril, assentar arraiais no Plano B do Porto e dois dias mais tarde (19 de Abril) no Museu Nacional de Arte Contemporâneo, ao Chiado, em Lisboa. A primeira-parte do sarau lisboeta (a começar pelas 18:30) fica a cargo da lo-fi kiwi de Pumice. Entretanto, o polivalente (geralmente encarregue da bateria) Pete Nolan arrumou a curiosidade do Bodyspace com uns bitaites disparados à patrão.
Como tens passado? Que tens feito ultimamente?

Acabei de adquirir a minha carta de condução internacional e tenho carregado um saco de 20 quilos de cosméticos por toda a parte de Manhattan e Brooklyn.

Vais estar encarregue de conduzir durante a próxima digressão Europeia?

Hmmm... Sim, durante grande parte da digressão. Vamos alugar um carro quando chegarmos a Inglaterra. Creio que o Nelson (Gomes) ou o Pedro (Gomes) conduzirão quando andarmos por Espanha e Portugal.

Até que ponto foi a liberdade do Lee Ranaldo quando gravou o Boss? Parece-me que uma faixa como “Last of the Lemach Line” podia tê-lo a gritar Hello 20-15! Hello 20-15! durante uma qualquer altura daquela espiral flutuante de guitarras. Alguma vez sentiram que ele podia ter contribuído com algo mais para o disco?

Não. Acho mesmo que fez um excelente trabalho. Tem um bom ouvido.

Manténs-te a par dos outros projectos do Lee como os Text of Light? Que duas qualidades lhe apontarias como cruciais ao vosso provável empolgamento durante as sessões de gravação de Boss?

Sim, já vi o Lee a tocar a solo, em Sonic Youth e também nos Text of Light. Ele parece estar sempre a canalizar uma energia soberba a partir de um qualquer colectivo invisível. Não consigo pensar em muitas outras pessoas que actualmente consigam unir palavras e som com tanta eficiência quanto ele. Estávamos muito entusiasmados com a perspectiva de trabalhar com ele pelas razões que referi. Acontece que ele é muito mais organizado em estúdio do que eu imaginava. Era disso que realmente necessitávamos.

Quais foram as reacções mais agradáveis que obtiveram em relação ao Boss desde que saiu?

Têm-se multiplicado as óptimas reacções. Ninguém o arrasou por completo. Foi porreiro conhecer o Mike Wolf da Time Out (New York). Acho que o considero um novo amigo e creio que isso possa ter resultado directamente do facto de ele curtir o disco. Além disso, o meu amigo de liceu Kris Khouri perdeu algum tempo a procurar-me porque tinha escutado o disco e adorado. Essa também foi uma reacção porreira.

Quais foram para ti os factores decisivos para que optassem por continuar enquanto Magik Markers mesmo após a saída da Leah (Quimby)? Estavam já entusiasmados com algum material recente quando essa situação ocorreu? Calculo que tenha sido difícil...

Nem por isso. É claro que sentimos imensa falta dela, mas havia e continua a haver um monte de coisas a fazer no que respeita a Magik Markers. Ainda continuamos empenhados em criar uma obra-prima.

Achas que essa obra-prima que procuram podia eventualmente sair sob a forma de cd-r ou edição limitada, ou teria necessariamente de ser um disco completo de estúdio?

Acho que, se viermos a alcançar aquilo que procuramos, esse disco virá a encontrar-se disponível para todos. Gosto de acreditar que, até à data, o nosso melhor material esteve abrangentemente disponível.


Sentes-te bem com o facto do The Volodor Dance poder ser dado como Desparecido em Combate em breve?

É pá... Eu curto mesmo esse disco, mas gosto do facto de existir na quantidade limitada em que foi lançado.

Fala-me um pouco daquela actuação em Louisville inserida no âmbito Burn to Shine. Era muito diferente o vosso sentimento nessa ocasião? Parece-me que uma faixa como a “Circle” podia enquadrar-se bem num lugar como aquele...

Isso já saiu? Ainda não vi. Não me lembro muito bem, mas tenho a impressão de que perdemos os “carretos” durante praticamente vinte minutos. Sei, mesmo assim, que a casa era completamente fixe. Era um pouco como a casa do tipo do Silêncio dos Inocentes, caso ele fizesse bricolage em vez de vestidos com a pele de mulheres.

Existem novidades em relação ao DVD que, supostamente, incluiria alguns videos dos vossos primeiros tempos? Dirias que a quantidade e qualidade desses vídeos é comparável à que reuniram na Fall Brawl Tour em 2005?

Acho que esse DVD afinal nunca virá a sair. A Ecstatic Peace tem centenas de horas de filmagens de Magik Markers recolhidas durante várias temporadas da nossa história. Acontece que transferiram tudo isso para um disco rígido que subsequentemente deu o berro. A certa altura, diria que existiam vídeos fantásticos, mas acho que tudo isso foi à vida e nunca mais voltará. O melhor era ter lá estado para ver.

Ao tocarem ao vivo ultimamente, após o lançamento do Boss, sentiram-se mais tentados a rockar com outra força ou a foder de alto a baixo as estruturas das músicas, nem que fosse para arruinar aquela noção entretanto surgida e que leva alguns a dizer Oh não... Estes tipos agora tocam canções com tudo no lugar...?

Não me parece que estejamos interessados em “foder as estruturas de alto a baixo” diante de um público. Apenas queremos absorver o conteúdo das nossas fontes energéticas e tentar fazer fluir isso através das colunas e da bateria. Às vezes é através das nossas músicas, outras vezes será através de composições instantâneas. Acho que viremos a experimentar muito novo material nesta digressão.

Podias-me esclarecer um pouco acerca da direcção que tem tomado esse novo material?

Hmmmm… Não sei bem – diria que soa próximo de caramelo confeccionado nos mais gélidos confins do espaço.

A cada vez que andam em digressão pela Europa são obrigados a deixar em casa alguns dos instrumentos habituais?

Bem... Sim, deixamos em casa as baterias, amplificadores e outro tipo de equipamento que diria ser mais suplente. Em termos de instrumentos, a Elisa trará consigo a Fender Strat “canhota”, vários pedais de efeitos, e possivelmente o seu novo violino. Eu vou tocar bateria, tapes, flauta de madeira, guitarra e possivelmente um teclado Casio com vários efeitos.

É porreiro a Elisa ter um novo violino. Ela tem tentado novas cenas com o violino?

Creio que sim. Mas ainda não a ouvi a tocá-lo.

É possível que venham a dividir mãos entre os vários instrumentos ou é mais provável que venham a trabalhar com loops?

Eu devo alternar um pouco entre os instrumentos e gravar uns loops também.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
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