ENTREVISTAS
Pulseprogramming
O burburinho em redor deste projecto multimédia norte-americano tem sido crescente e os Pulseprogramming começam a ganhar notoriedade
· 20 Mar 2003 · 08:00 ·
O burburinho em redor deste projecto multimédia norte-americano tem sido crescente e os Pulseprogramming começam, justamente, a ganhar notoriedade fora da cena de Chicago. Quem possuir o duplo CD da Wire de Novembro e tenha passado ao lado dos Pulseprogramming nessa edição, pode ouvir a primeira faixa de “Tulsa For One Second” na compilação que a revista londrina editou.
O Bodyspace trocou alguns mails com eles e tentou perceber melhor o mundo que criam.
Começando pelo vosso passado e a vossa relação com a música, quais foram (são) os vossos gurus, as influências que reclamam ? Sabemos, por exemplo, que, actualmente, algumas das vossas preferências vão para bandas como: Boards of Canada ou Matmos. Quais foram, no passado, as bandas, os heróis dos Pulseprogramming (conceito musical do projecto), aqueles vos marcaram e que vos fizeram enveredar por uma carreira musical ?

Marc Hellner Quando era mais novo, era fanático dos Smiths. Eles foram a única banda que ouvi durante uns largos anos. Mais tarde ouvia basicamente britpop, com ênfase nos Stones Roses e nos Ride, para além de outros.

Para dizer a verdade nunca ouvi um álbum de Matmos. Assisti a um concerto e gostei deles. Agradam-me o projecto dos Soft Pink Truth do Drew Daniel (membro dos Matmos)

Joel Kriske Ambos crescemos a ouvir o mesmo tipo de música (britpop, etc...). Era também um grande fã dos Smiths, continuo a achar que são umas das melhores bandas pop que alguma vez ouvi. Actualmente, oiço música de géneros tão diferentes que, mesmo que esteticamente possa não parecer óbvio, de uma maneira ou de outra acaba por ser filtrada naquilo que fazemos.

Ouvi os Soft Pink Truth, assim como o álbum de Matmos/Rachel’s, mas assumir que sejam uma influência directa no álbum Tulsa for One Second não me parece correcto.

Os álbuns anteriores sugeriam uma orientação mais ambient electronics. Ao ouvir o novo álbum não podemos deixar de pensar que os Pulseprogramming, como banda, estão hoje mais focados no formato canção. Por exemplo, a primeira música do álbum (Blooms Evetually) soa bastante a The Notwist. Qual é a vossa opinião ? Foi uma mudança planeada ou resulta de uma evolução natural da sonoridade da banda ?

MH Não, não foi planeado. Penso que foi alimentado mas nunca tivemos quaisquer objectivos em tomar essa direcção. Tenho de admitir que os The Notwist me influenciaram, não sendo de estranhar que essa influência se reflicta na minha música.

JK Os The Notwist são excelentes, não estou de forma alguma preocupado com as comparações. No passado, ambos fizemos parte de bandas rock/pop mais “tradicionais”, não sendo a estrutura canção uma nova decisão de orientação musical, é apenas algo que aconteceu, nunca foi planeado, mas que acabámos por dar conta de ter acontecido. Penso que cada álbum tem sido para nós um processo de aprendizagem, e como tal acho que faça sentido que tenhamos partido dos básicos alicerces do som adicionando-lhes ritmos e sonoridade mais óbvia, tentando juntar tudo isso numa formato canção.

Voltando à última questão. Ao ouvir o vosso álbum vem-me à memória o princípio de carreira do Brian Eno. Será ridículo dizer que o álbum “Tulsa For One Second” é o vosso “Another Green World” ? Aceitam esta comparação como um elogio ?

MH Absolutamente, o Brian Eno é um ponto de referência naquilo que fazemos. Essa é uma analogia muito porreira.

JK Desde há muito que respeito o Brian Eno, tomo a comparação como um grande elogio.

Penso que podemos assumir que os Pulseprogramming são mais que uma banda. O vosso projecto inclui realizadores cinematográficos, um poeta e dois directores artísticos. Como é que estas visões artísticas se conjugam ?

Hans Seeger Relativamente bem, em parte devido ao facto de que cada um de nós ser responsável por uma diferente área associada ao projecto.

MH Bem, somos velhos amigos e temos total confiança entre nós. A colaboração passa essencialmente por deixar fluir as ideias e ter fé nos objectivos e visões de cada um de nós. Penso que a conjugação das diferentes visões resulta bem, pelo menos essa é nossa esperança e é por isso que continuamos a funcionar como um todo.

JK Sinto-me um afortunado por trabalhar com tipos tão talentosos. É fantástica a forma como todos nós somos capazes de naturalmente aceitar ideias complementares. Penso que o facto de confiarmos uns nos dá a possibilidade de refinar o nosso próprio trabalho.

Até que ponto todo o packaging do álbum é importante para o conceito de projecto multimedia/poético/musical dos Pulseprogramming? Começando pela belíssima e artística embalagem (uma pequena construção para montar) passando pelos concertos e os videoclips vocês arriscam-se a ser mais um projecto multimedia do que uma banda. Há semelhanças entre os conceitos multimedia utilizados e os que a Laurie Anderson utilizou no passado e continua a utilizar ? Concordam ?

HS Em termos de comparação com a Laurie Anderson não concordo. Esse tipo de abordagem (multimedia, fine art) tende a assumir-se como uma única entidade. No nosso caso os esforços tem divisões distintas. A música é um artefacto próprio, assim como o packaging, assim como os filmes, etc.

JK Uau, dos Notwist ao Eno à Laurie Anderson, se continuares assim vais fazer-me corar. Acredito no entanto que todo o trabalho tenha uma relação simbiótica, nada teria o mesmo significado sem a existência deste ou de aquele aspecto.

Estou curioso, como funciona este conceito em concerto ?

MH Em concerto temos a componente musical e o vídeo-filme. Nós tocamos e funcionamos como uma espécie de banda sonora para o vídeo do Erics.

JK O Hans geralmente elabora (ou pelo menos conceptualiza) os posters nos concertos.

Existem pessoas, ou melhor, poderão existir pessoas que conhecem os Pulseprogramming melhor pelo packaging dos seus álbuns do que pela sua música. Consideram esta eventualidade uma limitação ?

HS Absolutamente que não.

MH Não. Estamos muito orgulhosos do trabalho do Hans ele merece toda atenção e elogios que o seu trabalho possa merecer.

Para além dos Pulseprogramming em que outros projectos estão envolvidos, não exclusivamente musicais ? Podem nos falar um pouco a respeito dos mesmos ?

HS O John Shacher (colaborador neste projecto) e eu estamos actualmente a editar, a dirigir e a coordernar o design de um número da Big Magazine subordinada a Chicago.

MH Nada de especial por agora. A maior parte ainda está em fase de elaboração.

JK O tempo o dirá.

Depois de “Tulsa For One Second” está previsto o lançamento de um álbum de remixes. Podem adiantar algo mais?

MH Estamos ainda na fase inicial do projecto. É um pouco cedo para falar no que quer que seja.

Têm planos para uma digressão na Europa ? Sabemos por exemplo que os L’Altra (da mesma editora e com ligações no passado aos Pulseprogramming) vão ter concertos agendados em Portugal.

MH Parece que vamos passar pela Europa duas vezes este ano (felizmente). Por uma vez no fim da Primavera e depois mais para o fim do ano com os nossos amigos Telefon Tel-Aviv.

JK Estou ansioso.

Nuno Pereira/Tiago Gonçalves
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