ENTREVISTAS
Warmer Milks
Liberdade Formal
· 05 Mar 2007 · 08:00 ·
© R. Beatty
Catarse e liberdade formal, porventura os adjectivos mais associados aos Warmer Milks, traduzem, e bem, a música e postura, de um dos projectos mais misteriosos e surpreendentes do underground norte-americano.

Num curto espaço de tempo (pouco mais de dois anos), o que começou por ser o projecto solitário de Michael Turner estendeu-se a participações alheias (chegaram a ser sete, hoje são três) e editou um sem número de discos, nos mais diversos formatos, mais ou menos obscuros e estilisticamente diferentes entre si: da beleza aterradora de Penetration Initials (Mountaain CD-R, 2005) – monumento de quase de trinta minutos, erigido sobre jogos de guitarra, percussão e sintetizador minimais, vozes lindíssimas e (im)perfeitas – à exploração rock de Radish on Light (Troubleman, 2006).

Insuspeitos como Ben Chasny e Bonnie "Prince" Billy" classificaram as performances dos Milks como imperdíveis. O público português terá oportunidade para confirmar os elogios esta quinta-feira, 8 de Março, na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, aquando da sua primeira passagem pelo Velho Continente.
Acabam de iniciar a vossa primeira digressão europeia. Antes de tocarem em Lisboa, vão dar alguns concertos pela Europa (incluíndo um em Hasselt, no fantástico (K-RAA-K)3 Festival). Quais são as vossas primeiras impressões?

São boas. Tocámos hoje o nosso primeiro concerto, em Roterdão [Holanda]. Divertimo-nos a acertar pormenores de último minuto, a testar as coisas e a tentar que tudo soasse bem.

Ouvi dizer que os vossos concertos são intensíssimos. Para Ben Chasny e Byron Coley [crítico da revista Wire] as vossas experiências ao vivo são imperdíveis. Por onde anda a vossa mente quando tocam?

Imperdíveis? É bom sabê-lo... Eu não sei o que me passa pela cabeça quando estou a tocar. Mas esforço-me para não pensar em nada.

Voltando um pouco atrás no tempo, gostava que falasses um pouco sobre a tua relação com a música. Como é que tudo começou? Como evoluiu?

Oiço imensa música. Sempre foi assim, desde quando era muito novo até agora. A música é para mim uma força motriz.

Warmer Milks começou por ser o teu projecto a solo. Num curto espaço de tempo esse projecto individual transformou-se num trio. Podes descrever-nos esse processo? Quem são os Warmer Milks hoje?

A banda chegou a incluir sete pessoas. Recentemente temos tocado com duas ou três pessoas, mas provavelmente voltaremos a crescer em breve. Tudo começou comigo e escrever a música - esta base mantém-se, só que agora partilho o que escrevo com mais pessoas.

Gosto especialmente de modo como usas a voz, de maneira a deixar respirar a instrumentação. Como é que abordas o canto? Sobre o que é costumas escrever?

Durante muito tempo usei a voz apenas como mais um instrumento. No entanto, ultimamente tenho me aproximado mais do formato canção, no sentido mais clássico. A minha aproximação ao canto, à escrita e à música no geral, baseia-se no prazer que retiro daquilo que faço. Depois tenho esperança que os outros consigam apreciá-lo…

© R. Beatty

Antes da música underground, sentias afinidades com alguns cantautores como Dylan, Bowie e Neil Young. Ainda os ouves? Qual o seu papel na tua música?

Simplesmente adoro o Bob Dylan. Não tenho bem a certeza de que forma ele afecta a minha música mas sei como a sua música tocou na minha vida. Ainda oiço o Neil Young, embora muito menos do que ouvia quando era mais novo, mas o David Bowie tornou-se insuportável com o tempo. De repente deixei de conseguir senti-lo...Bem, talvez o Hunky Dory ainda seja um bom álbum, mas há qualquer coisa que me distanciou da música do Bowie. Ultimamente tenho ouvido Lungfish, Daniel Higgs, Frogs, John Cale e Robert Wyatt. Mmmm.

Pressinto uma dimensão espiritual na vossa música, um elemento cerimonial. Concordas? Consideras-te uma pessoa espiritual?

Afastei-me cada vez mais do espiritual. O meu gosto pela natureza e pelo espaço preenche todos os vazios.

Penetration Initails é um disco fantástico. Fala-nos dessa peça musical.

Foi, sem dúvida, extremamente difícil de escrever e de a ensinar a seis pessoas. É uma das minhas peças favoritas.

Nunca mais a tocaram. Presumo que recebam frequentemente pedidos para a tocar. Isso aborrece-vos?

Ainda toco um parta da música em versão acústica. Tem havido imensos pedidos, mas nós nunca nos sentimos preparados para isso. Não me incomoda que alguém queira ouvir algo que eu escrevi - sinto-me lisonjeado por isso.

Depois de Penetration Initials, procuraste fugir de um som mais "bonito". Porquê? O que é que pensavas quando escreveste o Radish on Light?

Não havia uma intenção clara de fugir a uma sonoridade mais "bonita" ou convencional. Penso que nós nos metamorfoseamos naturalmente numa coisa mais agressiva. Eu não pensava em absolutamente nada quando estava a escrever o Radish On Light, apenas me ocorriam coisas como "Onde está a minha pizza?" e "O que é que vais fazer depois de tocares?".

Ao longo da vossa curta carreira têm edificado uma obra musicalmente heterogénea, recusando enveredar por apenas um idioma. Prevês alguma nova direcção?

Pretendo focar-me mais nas canções, mas de uma forma menos convencional.
Sérgio Hydalgo
sergiohydalgo@gmail.com

Parceiros